20 Dezembro 2023
O arcebispo-mor de Kiev encontrou em Lviv uma delegação da Ajuda à Igreja que Sofre. O receio, afirma, é que o mundo esqueça a guerra na Ucrânia, enquanto se prepara para enfrentar o segundo inverno sem eletricidade e aquecimento: "Embora o ódio seja uma reação normal diante da agressão que estamos enfrentando, ceder a ele significa deixá-lo vencer".
A reportagem é de Michele Raviart, publicada por Vatican News, 19-12-2023.
"Os ucranianos estão se sentindo muito, muito cansados. As pessoas estão exaustas, porque não há nenhum sinal de que o conflito esteja prestes a terminar. A população está terrivelmente traumatizada pela guerra, e a pergunta-chave é como enfrentaremos esse trauma. O futuro do país está ligado a isso". É o que diz Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, arcebispo-mor de Kyiv, que em 6 de dezembro, dia de São Nicolau, encontrou uma delegação da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre em Lviv.
"Cerca de 80% da população foi afetada por esta guerra", explica Shevchuk, "alguns estão feridos fisicamente, mas principalmente estão feridos na alma. E então há o trauma psicológico, do qual sou testemunha em primeira mão. Sempre que viajo, não consigo dormir por várias noites, enquanto meu cérebro se acostuma aos sons ao meu redor. A guerra que estamos vivendo na Ucrânia não é mais uma guerra aberta ou um ataque direto", enfatizou, "mas uma guerra de desgaste". "Como podemos evitar desmoronar devido ao cansaço?" pergunta o arcebispo-mor, "apenas o amor autêntico nunca se cansa da luta, os valores autênticos são o que nos ajudará a superar a desesperança".
Duas são as principais preocupações do arcebispo-mor, conforme declarado no comunicado da Ajuda à Igreja que Sofre. A primeira é a do inverno. Pelo segundo ano consecutivo, a rede elétrica está severamente danificada. Ano passado, cerca de 60% das infraestruturas elétricas foram destruídas, e agora estima-se que 75% dos ucranianos dependerão de geradores elétricos para se aquecerem. O outro medo é que o mundo esqueça dessa guerra, uma circunstância que poderia interromper o fluxo de ajuda humanitária, deixando a população em extrema necessidade.
Neste contexto, "as palavras de esperança são essenciais para uma nação devastada pela guerra", explicou Shevchuk. "Hoje há uma linha de demarcação, que depende da experiência que se teve da guerra", acrescentou. "Há uma divisão entre aqueles que deixaram o país e aqueles que ficaram, entre os maridos que serviram na frente e suas esposas evacuadas, e entre aqueles que viveram a guerra no oeste da Ucrânia e aqueles no leste". Portanto, é importante trabalhar juntos para superar essas diferenças e construir uma nova sociedade baseada no respeito e na tolerância: "Os sentimentos de abandono e ressentimento em relação aos outros também são armas sociológicas de guerra. É fácil procurar um bode expiatório, alguém a quem culpar por tudo", disse.
O líder da Igreja greco-católica também fez um apelo à reconciliação e ao perdão como parte do processo de superação dos traumas. Reconhecendo que o perdão pode ser difícil, ele enfatizou a importância de não permitir que o ódio tome conta dos corações das pessoas. "Quando o medo e o ódio prevalecem sobre nossas decisões, nos tornamos escravos deles. Embora o ódio seja uma reação normal diante da agressão que estamos sofrendo, ceder a ele significa deixá-lo vencer em meu coração".
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Arcebispo de Kiev: os ucranianos estão exaustos por uma guerra que não tem fim - Instituto Humanitas Unisinos - IHU