Nesta quarta-feira, o teólogo jesuíta Christoph Theobald, que participou como especialista da primeira sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, ministra videoconferência no Instituto Humanitas Unisinos – IHU
A mudança epocal que marca as transformações da vida contemporânea tem ressonância na teologia e apresenta um desafio para a produção teológica e o anúncio do Evangelho. As questões em torno desta problemática têm ocupado a reflexão do teólogo e jesuíta Christoph Theobald, professor de Teologia Fundamental e Dogmática na Faculdade de Teologia do Centre-Sèvres, em Paris. Para ele, "a ligação entre a experiência cotidiana do viver e o Evangelho deve estar no centro de toda teologia por vir. A pergunta a partir da qual se produz uma tal teologia é: o que estou levando de interessante e significativo para o cotidiano?"
Ele reconhece que o cotidiano na era atual "é uma figura complexa, marcada por forte diversificação sistêmica das esferas da vida das pessoas e por processos de extrema fragmentação do viver concreto" e afirma ser este o desafio da teologia. "A tarefa de desenvolver uma adequada sensibilidade para esta diversificação e fragmentação pertence ao desenho de uma teologia por vir", diz.
Recentemente, Christoph Theobald publicou Un nouveau concile qui ne dit pas son nom? (Um novo concílio que não diz o seu nome?, pela Editora Salvator) e participou como especialista da primeira sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, realizado em Roma entre 04 e 29 de outubro. Sobre o evento, disse à revista La Vie: "É uma bela forma de descobrir as nossas verdadeiras riquezas e os nossos carismas". Na entrevista reproduzida na página do Instituto Humanitas Unisinos – IHU no início deste mês, o teólogo reflete sobre o presente e o futuro da Igreja à luz da sinodalidade e da mudança epocal. A Opção Francisco e o cristianismo como estilo em face à mudança epocal também será o tema da videoconferência de Theobald no II ciclo de estudos A Opção Francisco. A Igreja e a mudança epocal, promovido pelo IHU. O evento será transmitido nesta quarta-feira, 29-11-2023, às 10h no sítio do IHU, em seu canal do YouTube e nas redes sociais.
Segundo ele, o emprego da expressão "mudança epocal" pelo Papa Francisco expressa a incerteza em relação ao futuro e as mudanças em curso no interior da Igreja. "A crise atual pode ser definida como a sobreposição de duas concepções de Igreja: uma visão muito uniforme em torno de uma doutrina única, de uma liturgia única, de uma teologia moral única, e outra marcada por esta diversificação emergente. O que mais caracteriza esta situação eclesial e esta crise generalizada é a incerteza em relação ao futuro. É por isso que o Papa Francisco não fala de uma época de mudança, mas de uma mudança de época", explica.
Esta mudança também se exprime na discussão em torno da sinodalidade. Na avaliação do palestrante, por trás dessa questão "está de fato o problema da interpretação dos concílios Vaticano I e Vaticano II, mais particularmente da Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a atividade missionária da Igreja". A novidade emergente, esclarece, "diz respeito ao quadro geral estabelecido pelo capítulo dois da Constituição Lumen Gentium sobre o Povo de Deus. Se enfatizarmos a igualdade dos batizados, qual é então o lugar dos ministros, bispos e sacerdotes ordenados neste contexto? Não se trata apenas de uma questão de governo. As nossas sociedades baseiam-se em princípios diversos, como a ideia do contrato social, a separação dos poderes, a representação popular e o sistema de votação majoritária. O princípio da Igreja é diferente: baseia-se numa 'convocação'. Ora, esta convocação divina pelo Senhor Jesus no Espírito Santo é simbolizada pelo ministério ordenado".
Particularmente na Europa, exemplifica, as Igrejas europeias estão diante de uma encruzilhada. A situação, menciona, "nos obriga, em primeiro lugar, a nos sentarmos, a refletirmos e a fazermos a pergunta: 'Onde estamos? Em que ponto do caminho nos encontramos?' O cerne do problema, no qual, na minha opinião, está a urgência, é aquilo que o apóstolo Paulo chama de missão: 'Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!'" Seu mais recente livro, sublinha, "é dedicada justamente a esta convicção: a nossa vida cristã não pode não ser missionária. Mas o que constatamos de fato? Que, na Europa, precisamente essa dimensão missionária desapareceu quase totalmente".
Christoph Theobald é teólogo jesuíta, especialista em questões de teologia fundamental e de história da exegese. É redator-chefe adjunto da revista Recherches de Science Religieuse. Escreveu sobre história da exegese nos séculos XIX e XX, modernismo e história dos dogmas. Seus trabalhos em Teologia Fundamental e Dogmática são sobre cristologia, trindade, criação, antropologia, eclesiologia no campo da estética e em teologia pastoral.
O teólogo já participou de outros eventos promovidos pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Em 2015, ele ministrou a conferência intitulada As potencialidades de futuro da Constituição pastoral Gaudium et spes, no II Colóquio Internacional IHU – O Concílio Vaticano II: 50 anos depois. A Igreja no contexto das transformações tecnocientíficas e socioculturais da contemporaneidade e participou das mesas-redondas Itinerários do diálogo da Igreja com a contemporaneidade, com o teólogo Gilles Routhier, da Université Laval, Canadá, e Análise da Conjuntura Eclesial. Os dois anos do pontificado do Papa Francisco à luz do Concílio Vaticano II. O vídeo dos eventos está disponível abaixo.
A recepção do Concílio Vaticano II: I. acesso à fonte (Unisinos, 2015), livro de Christoph Theobald, publicado pela Editora Unisinos, foi lançado no IHU em 2015. A exposição foi realizada pelo Prof. Dr. Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, então reitor da Unisinos à época. O vídeo do evento está disponível abaixo.
A programação completa do ciclo A Opção Francisco. A Igreja e a mudança epocal está disponível aqui.