O bloco europeu conseguiu superar divergências internas e fechar uma proposta para discutir a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis na COP28, mas sem estabelecer datas.

A informação é publicada por ClimaInfo, 18-10-2023. 

Os ministros do clima dos 27 países-membros da União Europeia conseguiram aprovar na última 2ª feira (16/10) uma posição comum para as negociações da COP28, programada para começar no final de novembro em Dubai (Emirados Árabes). A proposta para discutir a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, carro-chefe da diplomacia europeia para a Conferência, foi mantida pelos governos, mas sem fechar prazos para o cumprimento deste objetivo.

A solução salomônica conseguiu destravar as conversas entre os ministros europeus. Num primeiro momento, os países se dividiram em dois grupos: enquanto Alemanha, Eslovênia, Dinamarca, França, Irlanda e Países Baixos defendiam a proposta, com um cronograma de ação entre 2025 e 2035, Eslováquia, Hungria, Itália, Malta, Polônia e República Tcheca seguiam reticentes à medida, defendendo uma abordagem mais cautelosa.

“O Conselho [da União Europeia] salienta que a transição para uma economia com impacto neutro no clima exigirá uma eliminação progressiva em nível mundial dos combustíveis fósseis incompensáveis e um pico no seu consumo nesta década”, destacou a UE em nota. Os ministros também ressaltaram a necessidade de um sistema energético global “total ou predominantemente descarbonizado na década de 2030”.

A inclusão do termo “incompensável” (unabated, em inglês) no documento também foi um caminho para destravar as conversas. Isso porque ele sinaliza a possibilidade das economias continuarem queimando combustíveis fósseis atrelados a alguma tecnologia de captura e armazenamento de carbono. O problema é que, até agora, essas tecnologias são tão confiáveis quanto uma nota de três reais.

Não foi apenas a proposta de eliminação progressiva da energia fóssil que foi suavizada pelos ministros da UE. Uma proposição da Comissão Europeia para elevar a meta de redução das emissões de gases de efeito estufa do bloco – de 55% para 57% em 2030 em relação aos níveis de 1990 – foi barrada nas conversas em Bruxelas.

A posição da UE para a COP28 foi abordada por diversos veículos, com manchetes na AFP, Bloomberg, Deutsche Welle, Euronews, Financial Times, Le Monde e Reuters.

Em tempo

A COP29 segue “sem teto”. Programada para o final de 2024, a Conferência deveria acontecer no Leste Europeu, mas a guerra entre Rússia e Ucrânia contaminou as conversas entre os países da região sobre o destino do encontro. Segundo a Reuters, o governo russo rejeita qualquer possibilidade de um país integrante da União Europeia sediar o evento, o que dificulta a aprovação da Bulgária como anfitriã da COP29. Países alternativos, como Armênia e Azerbaijão, também ficaram inviáveis por conta dos conflitos recentes em torno da região de Nagorno-Karabakh.

Leia mais

• COP28 abre espaço para OPEP e intensifica desconforto com presença da indústria fóssil
• Relatório da ONU propõe caminhos para aumentar ambição climática de países na COP28
• Presidente da COP28 defende participação da indústria fóssil em negociações climáticas
• Al-Jaber diz que reduzir o consumo combustíveis fósseis é inevitável, mas faz ressalvas
• Al Gore: indústria fóssil “capturou” negociações climáticas da COP28
• Anfitriões da COP28, Emirados Árabes ignoraram emissões de metano por quase uma década
• Emirados Árabes contrata lobistas para “limpar a imagem” antes da COP28
• Fósseis não são “ponto-chave” para presidência da COP28, revela documento
• Negociações da “COP do petróleo” começam com chamado contra fósseis
• Depois de Bonn, a COP28 precisa ser uma correção de rumo na ação climática
• O que aconteceu (e o que não aconteceu) na Conferência do clima de Bonn
• Impasse em Bonn manda sinal sombrio para a COP28
• Resultado de Bonn indica que Conferência do Clima de Dubai será tensa, diz especialista
• “As petroleiras vão resistir à descarbonização”. Entrevista com Andreas Malm
• O decálogo de Gustavo Petro abala a COP 27: “A solução é um mundo sem petróleo”