04 Outubro 2023
“A perda e o desperdício de alimentos devem ser abordados a partir de uma perspectiva ética, política e científica. Todos e todas somos responsáveis por este desafio”, escreve Mario Lubetkin, representante regional da FAO para a América Latina e o Caribe, em artigo publicado por Rebelión, 02-10-2023. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Nos últimos anos, a população da América Latina e do Caribe registrou um aumento preocupante nos números da fome, especialmente entre os mais pobres da região. Quando falamos de insegurança alimentar em nossa região, bem como no restante do mundo, percebemos que esta é uma problemática que não provém de uma produção de alimentos deficiente.
De acordo com as estimativas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a América Latina e o Caribe poderiam alimentar mais de 1,3 bilhão de pessoas, ou seja, o dobro de sua população. Então, de onde surge este problema? Um fator relevante nesta matéria é a perda e o desperdício de alimentos, cuja prevenção é fundamental no desenvolvimento dos sistemas agroalimentares.
Em 2019, pela primeira vez a Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu o dia 29 de setembro como o Dia Internacional de Conscientização sobre a Perda e o Desperdício de Alimentos (PDA), reconhecendo, assim, o impacto positivo que a reversão dessa perda e desperdício pode ter na segurança alimentar e nutricional da população.
Quatro anos após a instituição deste dia, devemos fazer um balanço do que alcançamos, olhar para frente e tomar medidas imediatas para reverter um cenário complexo que tem custos em matéria econômica, social, ambiental e moral. De acordo com dados da FAO, 13% dos alimentos do mundo se perdem na cadeia de abastecimento, da pós-colheita à venda, e outros 17% são desperdiçados nos lares, nos serviços de alimentação e no comércio varejista. Os maiores níveis de perdas ocorrem em alimentos ricos em nutrientes, como frutas e verduras (32%), carne e peixe (12,4%).
As ineficiências ao longo da cadeia alimentar e no consumo também têm um grande impacto no meio ambiente. Portanto, prevenir a perda e o desperdício de alimentos pode ajudar a combater a fome e as consequências da mudança climática por causa da emissão de gases do efeito estufa.
A evidência científica atual mostra soluções inovadoras que apoiam a agricultura familiar, os sistemas de distribuição e abastecimento, promovem ações de bioeconomia circular e orientam investimentos e financiamento para desenvolver sistemas de vigilância e alerta precoce para evitar a perda e o desperdício de alimentos, bem como marcos legais integrais que apontem para a prevenção. Contudo, ainda não é o suficiente.
No fim de agosto, o Escritório Regional da FAO para a América Latina e o Caribe, com sede em Santiago, organizou um debate sobre como prevenir e reduzir as perdas e os desperdícios de alimentos no contexto da segurança alimentar e nutricional, com a participação do Vaticano, representantes do governo do Chile e da FAO. O diálogo aprofundou ideias e soluções para passar da reflexão à ação e compreender que acabar com o fenômeno da perda e desperdício de alimentos tem um impacto direto na vida das pessoas e da sociedade como um todo.
O caminho é claro: para enfrentar esta situação é imperativo trabalhar de forma coordenada e multissetorial para alcançar resultados rapidamente. Os governos, as empresas, a sociedade civil e a academia devem somar esforços, gerando evidências, investimentos em infraestrutura e em tecnologia, entre outras medidas, para enfrentar a situação.
Ainda há muito a fazer. A perda e o desperdício de alimentos devem ser abordados a partir de uma perspectiva ética, política e científica. Todos e todas somos responsáveis por este desafio.
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Perda e desperdício de alimentos: uma realidade inaceitável - Instituto Humanitas Unisinos - IHU