10 Julho 2023
O Vaticano anunciou na sexta-feira, 7 de julho, a lista dos participantes no Sínodo dos Bispos de outubro próximo, segunda fase do processo sinodal que envolve a Igreja Católica a todos os seus níveis. Depois de ter introduzido modificações significativas na natureza e número dos que podem ser participantes e votar, o Papa, que preside ao Sínodo, apresentou os mais de 260 participantes das diferentes partes do mundo.
A informação é publicada por 7Margens, 07-07-2023.
Um dos aspetos que sobressai, na análise global do elenco de participantes, é uma muito maior diversificação dos membros do Sínodo, em termos de gênero (será a primeira vez que mulheres irão ser membros e votar as decisões e há duas que poderão inclusivamente presidir ao Sínodo) e de presença de leigos, mas sobretudo de rostos, proveniências, testemunhos e mesmo lutas. Entre os membros sinodais, contam-se pessoas ligadas a movimentos operários, a responsáveis pela ação social da Igreja, ativistas a favor dos migrantes, pessoas solidárias com a causa LGBTQI+, como é o caso do conhecido presbítero jesuíta norte-americano James Martin, e teólogas como Cristina Inogès-Sanz, colaboradora do 7MARGENS.
Interessante é, também, a extensa lista de membros recrutados pelo Papa de entre 140 nomes de mulheres e homens de diferentes partes do mundo, que estiveram envolvidos nas dinâmicas sinodais, nos planos diocesano, nacional e continental, bem como a lista de convidados especiais, entre os quais se contam Irmão Alois, prior de Taizé; Luca Casarini, da ONG Mediterranea Saving Humans; Eva Fernandez Mateo, da Ação Católica; ou os teólogos Hervé LeGrand e Armando Matteo.
Extenso é também o elenco de nomes dos peritos e ‘facilitadores’, que, não sendo formalmente participantes, podem ter um lugar relevante nos grupos de trabalho e nos processos de discernimento.
Mal a lista foi tornada pública, durante uma conferência de Imprensa em que esteve todo o secretariado-geral do Sínodo, foi notória a preocupação de passar à lupa cada um dos nomes, no sentido de perceber possíveis lógicas e critérios que possam, de algum modo, interferir com o decorrer dos trabalhos.
Dois casos podem ilustrar o modo de atuar do Papa Francisco, nas escolhas que operou nos seus convidados. No caso da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos da América, os nomes que escolheu são conhecidos pelo mediatismo, ortodoxia e assertividade nos debates culturais. Nenhum dos cardeais feitos por Francisco estavam nessa representação. O Papa, na sua visão e margem de ação, foi buscar quatro deles como padres sinodais. Pelos seus pares.
Em sentido inverso, os três bispos representantes do episcopado alemão, a começar pelo presidente, têm sido defensores e agentes do ‘caminho sinodal’ percorrido nos últimos anos pela Igreja da Alemanha. Francisco foi buscar, além do cardeal Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé que tem sido um seu adversário assumido, o bispo de Passau, Stefan Oster, um dos quatro prelados que bloquearam o financiamento do órgão que iria dar sequência ao tal ‘caminho sinodal’ que tem merecido repreensões do Vaticano e de outros episcopados.
A lista agora divulgada inclui os nomes dos que participam devido aos cargos que ocupam (ex officio), aqueles que foram escolhidos pelos seus pares, como os representantes das conferências episcopais e das igrejas orientais, e aqueles que foram escolhidos pelo Papa, parte dos quais a partir da tal lista de 140 nomes, propostos pelas conferências episcopais de âmbito continental.
Na conferência de imprensa de apresentação dos participantes, o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, disse que a primeira sessão daquela que é a 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos conta com a participação de outros membros do povo de Deus, tendo sido procurada a maior diversidade possível – incluindo mesmo um representante do sínodo que ocorreu pela internet – sem, no entanto, pôr em causa o caráter (e colegialidade) episcopal.
Por sua vez, o bispo Luis Marín de San Martín, um dos subsecretários, disse, em declarações ao site Vatican News, que este Sínodo se singulariza pela temática (a sinodalidade), pelo processo (já que quer envolver, em todas as fases, todo o povo de Deus), e pela participação de “não bispos” (nos processos de decisão).
Reiterou que ele nunca poderá ser nem uma reunião de burocratas que se debruçam sobre a organização da Igreja nem um intercâmbio de opiniões. “Será, sobretudo, um tempo de escuta do Espírito Santo”, através da escuta de todos e do silêncio e oração. Por esse motivo, o Sínodo será precedido de um retiro para todos os membros, de 1 a 3 de outubro, para que todos sintonizem nesse modo de funcionamento.
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Os mais de 260 participantes no Sínodo dos Bispos já têm rosto… E destacam-se as mulheres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU