04 Julho 2023
“Objetivamente desproporcional e intrinsecamente inconsistente, dadas as razões genéricas apresentadas sem argumento público” – assim questionam cerca de 110 teólogos italianos a decisão recente do Dicastério para a Cultura e a Educação de não conceder o nihil obstat (nada contra) à nomeação do teólogo Martin Lintner como presidente de um instituto de estudos teológicos de direito pontifício, da diocese italiana de Bolzano-Bressanone.
A reportagem é publicada por 7MARGENS, 02-07-2023.
Segundo notícia do National Catholic Reporter (NCR), o professor Martin Lintner, que foi presidente da Sociedade Europeia de Teologia Católica e da Associação Internacional de Teologia Moral e Ética Social, não recebeu a aprovação do Vaticano por causa de escritos não especificados sobre questões de ética sexual.
A mesma fonte adianta que várias sociedades teológicas internacionais divulgaram, entretanto, declarações de protesto contra a decisão do dicastério. Numa declaração conjunta de 28 de junho, segundo o NCR, três grupos teológicos europeus condenaram veementemente a medida e afirmaram que ela tornava “implausível” o diálogo entre o Vaticano e os acadêmicos.
Ainda que o visado pelo veto do Vaticano não tenha sido impedido de continuar a lecionar teologia, as posições das organizações internacionais de teologia consideraram que a ação do Vaticano não respeitava a liberdade acadêmica e tinha prejudicado a reputação da teologia católica.
No interior de Itália, e numa carta aberta (a que se faz referência acima) que continua a receber assinaturas, os subscritores, entre os quais Andrea Grillo e Enzo Bianchi, observam que a principal razão da sua tomada de posição decorre do entendimento de que “a solidariedade da teologia italiana com o colega e amigo de muitos, Martin Lintner, não pode e não deve permanecer privada”.
“Queremos estar próximos dele neste momento com nossos rostos e nossos nomes, porque a teologia e a fé católicas vivem de relações concretas, visíveis e confessadas”, explicam.
Um procedimento como o instituído pelo Dicastério para a Cultura e a Educação católicas, de que é prefeito o cardeal português José Tolentino Mendonça, “reflete costumes de controlo e sanções que infelizmente se consolidaram durante muito tempo e pertencem a uma visão eclesiológica ultrapassada”, nota a carta aberta. “Ele contradiz parte de sua própria missão e torna pouco convincentes as muitas tentativas de renovar até mesmo as estruturas institucionais e curiais, iniciadas pelo Papa Francisco”, observa ainda o documento, que defende “a urgência de reorganizar o poder e seu exercício na Igreja Católica, no contexto de uma verdadeira atitude sinodal”.
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Mais de 100 teólogos criticam decisão do Dicastério para a Cultura e Educação, cujo prefeito é o cardeal José Tolentino Mendonça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU