20 Junho 2023
Segundo a Organização das Nações Unidas, a cada minuto, vinte e quatro pessoas abandonam tudo para fugir de conflitos e perseguições. Hoje, Dia Mundial do Refugiado, é um dia designado para homenagear as pessoas refugiadas e deslocadas em todo o mundo.
A reportagem é de Amjad Shabat, publicada por El Diario, 20-06-2023. A tradução é do Cepat.
As pessoas refugiadas da Palestina estão há 75 anos nesta condição, deslocadas em lugares onde as condições de vida são muito difíceis. Gaza é um desses lugares. Vivem lá 1,4 milhão de refugiados palestinos e, há 16 anos, sofrem um férreo bloqueio e diversas ofensivas militares israelenses.
No último dia 9 de maio, Israel realizou uma série de ataques aéreos que mataram 15 civis palestinos, incluindo 6 crianças, e que provocaram a destruição de dezenas de casas.
Justamente um mês antes de seu casamento, Dania Addas foi morta em um ataque aéreo israelense. Na terça-feira, 9 de maio, Dania, de 19 anos, e sua irmã Iman, de 16, estavam dormindo em seu quarto. “Estávamos dormindo quando ouvimos uma explosão intensa e assustadora”, conta Um Hamza, a mãe das jovens. A força da explosão fez com que a porta do quarto dos pais explodisse e a poeira enchesse a casa. O pai e a mãe apavorados foram ver suas filhas quando se depararam com as duas mortas sob os escombros. “Nada descreve a dor de perder filhos”, comenta Um Hamza, entre lágrimas.
Dania comprou seu vestido de noiva e estava esperando para se casar, em apenas um mês seria a festa. Iman, sua irmã mais nova, esperava se formar no ensino médio, no próximo ano, e ir para a faculdade. Hoje, restam apenas suas fotos expostas em todos os cantos da casa da família.
“Não basta vivermos como refugiados em nosso próprio país, mas também tenho que suportar o fato de que esta é a segunda vez que Israel destrói minha casa”, comenta Raed Derawi, pai de quatro filhos, que paga aluguel à espera da reconstrução de sua casa.
A casa de Derawi foi completamente destruída quando foi atingida por um ataque aéreo israelense, em maio deste ano. O edifício tinha 9 andares, onde viviam 37 pessoas. Todos tiveram que evacuar o local quando receberam um telefonema do exército israelense ameaçando bombardear uma casa a 10 metros de distância da deles, em Deir al-Balah, no meio da Faixa.
“Na ofensiva de 2014, as bombas já tinham provocado graves danos em nossa casa”, afirma Raed, e conclui: “Estamos sempre esperando quando será a próxima vez que teremos que fugir de nossas casas. É como o que aconteceu na Nakba: a única coisa que podemos levar conosco são os nossos documentos pessoais”.
Sobre os escombros de sua casa, Hazem Muhana, de 62 anos, lamenta por seu tesouro. “Meu tesouro é a minha coleção de antiguidades”, afirma. Por 40 anos, Hazem dedicou a sua vida a colecionar peças raras e antigas. Levantava todas as manhãs e ia a todos os lugares possíveis onde pudesse encontrar antiguidades. Ia aos mercados e, inclusive, entrava na praia na esperança de encontrar moedas antigas que as ondas arrastavam até às margens.
No domingo, 13 de maio, à 1h, a família recebeu um telefonema do exército israelense dizendo que tinham apenas cinco minutos para evacuar um edifício de cinco andares. “Cinco minutos não foram suficientes nem sequer para pegar nossos documentos oficiais”. Em um dos minutos, olhou para o seu tesouro de antiguidades e deixou sua casa junto com as 55 pessoas que fazem parte de sua grande família, todas moradoras do mesmo edifício.
Para Hazem, colecionar antiguidades é uma forma de preservar sua história e cultura. Sente que perder seu “museu”, como ele o chama, é semelhante ao que aconteceu em 1948 com seu próprio pai, que abandonou sua casa em seu povoado destruído, Masmia, como resultado da Nakba. “Meu pai era um fanático colecionador de antiguidades e sempre nos contava coisas sobre as peças raras que abandonou durante a Nakba”.
Hoje, Hazem passa horas escavando os escombros, procurando o que restou de seus bens, como pedras preciosas, relógios, moedas de prata e pinturas, enquanto se pergunta: “Que pecado cometi para que isso esteja acontecendo comigo?”
Em um dia como hoje, é fundamental recordar as histórias de pessoas cujas vidas estão, muitas vezes, sepultadas entre os escombros. Quase um quinto das pessoas refugiadas do mundo são da Palestina e vivem, como Raed e Hazem, sem muitos de seus direitos humanos básicos.
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Refugiados em Gaza: milhões de histórias sob os escombros - Instituto Humanitas Unisinos - IHU