14 Junho 2023
O investimento no transporte coletivo é uma forte arma contra a opressão do automóvel individual. Mais que isso, argumenta autor, é ferramenta para uma cidade – e um mundo – mais democrático e emancipador.
A reportagem é de Raíssa Araújo Pacheco, publicada por Outras Palavras, 07-06-2023.
Há 10 anos atrás, no dia 2 de junho de 2013, era implementado um aumento de R$0,20 na passagem de ônibus, logo depois, jovens de todo o Brasil saíram às ruas para lutar contra a medida. Deste dia em diante, o Brasil passou por uma avalanche de mudanças. Até hoje, as jornadas de junho de 2013 ainda rendem análises e debates, não sem fundamento, é claro; afinal, esse episódio, e o que se desenvolveu desde então, marcou a história do país.
Apesar do rumo que tomamos após o levante de 2013 – golpe parlamentar contra a então presidente Dilma Rousseff e todas suas consequências, a reivindicação que levou às ruas dezenas de jovens era – e é – realmente justa: mobilidade urbana enquanto um direito, o direito à cidade que todos devemos ter. De fato, não era só pelos 20 centavos.
No entanto, o que acontece desde de junho de 2013 é uma derrocada ainda maior que se desenvolve com o apoio do neoliberalismo e das iniciativas de seu capital estrangeiro. O que vemos hoje é, infelizmente, cada vez mais os interesses econômicos se sobrepondo aos nossos direitos. Além disso, uma guinada ascendente em direção ao individualismo, tais como as soluções liberais para problemas sociais.
Hoje, as “soluções” maquinadas pelo livre mercado são as pedras no caminho para a promoção de uma sociedade em que o coletivo se beneficie. Para o livre mercado e seus asseclas, “a solução” para os problemas do transporte público e coletivo é o acesso à mobilidade individual motorizada. Como? Através da precarização do trabalho que, nesse caso, podemos chamar também de uberização.
Em busca de possibilidades que permitam tirar do caminho as “pedras” impostas pelo livre mercado, Outras Palavras em parceria com a Autonomia Literária irão sortear 1 exemplar do livro “Passe Livre: as possibilidades da tarifa zero contra a distopia da uberização”, de Daniel Santini.
Daniel Santini é jornalista e estuda sistemas de mobilidade livres de tarifas ao redor do mundo. Em seu livro, lançado em 2019, através de uma parceria entre Fundação Rosa Luxemburgo e Autonomia Literária, o autor traça caminhos possíveis para um mundo onde o direito de ir e vir é garantido. O mais importante é que os caminhos não são traçados a partir de modelos imaginários, mas de modelos reais e concretos de experiências em diversos países.
Muito além, Santini também analisa todo o quadro que dificulta que políticas como o Passe Livre sejam implementadas, que vão desde o interesse dos donos das empresas de ônibus, até o modelo mais recente: os gigantes da tecnologia que todo dia maquinam novas estratégias para “financeirizar” todos os aspectos da vida.
No livro, fica evidente como a questão da mobilidade urbana e, mais especificamente, a implementação da Tarifa Zero, atravessa muitos interesses, não só os do capital, mas, principalmente, o nosso interesse de ter direito não só à cidade, mas a uma vida digna dentro dela. Até porque, como fica explícito na obra de Santini, políticas como a do Passe Livre abrem espaço para cidades mais limpas em diversos aspectos, menos poluídas, sem congestionamentos intermináveis e estressantes; portanto, cidades habitadas por pessoas mais felizes, menos frustradas e cansadas.
Até o âmbito econômico pode ser amplamente beneficiado, afinal, com a possibilidade de se gastar menos dinheiro com o transporte público e, ao mesmo tempo, tendo acesso à cidade, podemos gastar com outras coisas, fortalecendo o comércio, a cultura e a revitalização de espaços públicos que hoje estão abandonados.
No Brasil, a história da luta pelo direito ao transporte é antiga, começando pela Revolta do Vintém, no Rio de Janeiro [1870-1880]; passando pela Revolta da Barca, em Niterói [1959]; a Revolta do Buzu, em Salvador [2003]; a Revolta da Catraca, em Florianópolis [2004-2005] e, por fim, as Jornadas de Junho de 2013, que caminharam o Brasil todo. No entanto, essa história está longe de estar no fim, pelo menos enquanto direitos não são garantidos e não são oferecidas alternativas coletivas ao modelo individualista de transporte. Portanto, seguimos na luta pela garantia do direito constitucional que temos ao transporte e à cidade!
Passe Livre: as possibilidades da tarifa zero contra a distopia da uberização | Divulgação Autonomia Literária
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Passe Livre para um mundo livre da uberização - Instituto Humanitas Unisinos - IHU