10 Mai 2023
"A presença de Galípolo no BC terá resultados mais rápidos do que o processo de conquista da maioria do Copom", escreve Luis Nassif, jornalista, editor do Jornal GGN, autor, entre outros livros, de "Os cabeças de planilha" (Ediouro), em artigo publicado por Jornal GGN, 09-05-2023.
A indicação de Gabriel Galípolo para a diretoria de política monetária do Banco Central terá resultados mais rápidos do que o processo de conquista da maioria do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. O Copom é responsável pela definição da taxa básica de juros, a Selic. São oito membros, mais o presidente do Banco Central. No momento, o Ministro Fernando Haddad conseguirá emplacar apenas dois membros.
Gabriel Galípolo poderá, no entanto, desempenhar dois papéis relevantes. Primeiro, como diretor de política monetária. Das oito diretorias do Copom, a de Política Monetária é a única que atua diretamente no mercado, sendo responsável pela implementação das operações de mercado aberto, compra e venda de títulos públicos. Nessa função, e com sua experiência de mercado, Gabriel Galípolo poderá imprimir outro ritmo nas operações. Nos últimos anos, o Banco Central atuou passivamente no mercado aberto, na política cambial, ficando a reboque do mercado.
Não é pouca coisa. Uma puxada nas taxas de juros longas, uma oscilação no mercado cambial, constituem fatores de instabilidade, ajudando a consolidar as convicções do Copom sobre as taxas de juros.
Terá mais desafios pela frente. A maneira de controlar a liquidez do sistema é por meio das chamadas “operações compromissadas” – o Banco Central vende títulos aos bancos com o compromisso de recomprar no dia seguinte. Todos esses pontos encarecem a dívida pública, já sobrecarregada pelos excessos da taxa Selic.
Não se sabe até onde Gabriel Galípolo pretende ousar. Especialmente porque o segundo desafio – convencer o Copom a reduzir a taxa Selic – dependerá de boa capacidade de argumentação e de uma boa relação com os colegas. E terá bons argumentos pela frente. Um deles é o IGP-DI (Índice Geral de Preços, Disponibilidade Interna) da Fundação Getúlio Vargas, que registrou deflação de 1,01% em abril e 0,34% em março e 2,57% em 12 meses.
Outro é o próprio Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) do IBGE. O fator que pesou no último IPCA foi o item transportes, que depende exclusivamente de preços administrados. Com a Petrobras reduzindo os preços, haverá impactos deflacionários no IPCA.
Por fim, pesa a favor de Galípolo o amplo conhecimento do mercado de PPPs (Parcerias Público Privadas) e de parcerias entre crédito público e fundos de investimento. E, mais que isso, a pressão das empresas, ante a derrocada de setores relevantes – como os de varejo, planos de saúde, alimentos – sufocados pela crise de crédito e pelo custo do capital.
Conspira, mais uma vez, contra essa estratégia o tempo político. Lula continua apostando nos investimentos internacionais como saída para contornar as limitações impostas pelo Banco Central de Roberto Campos Neto ao crédito dos bancos públicos.
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Gabriel Galípolo no Banco Central - Instituto Humanitas Unisinos - IHU