07 Março 2023
Não é fácil encontrar pessoas que se declaram abertamente pró-Rússia hoje em dia na Ucrânia. Mesmo em regiões predominantemente de língua russa do Donbass atingidos pelos combates, aqueles que veem Putin como "libertador", ou que não o consideram um "invasor", em geral preferem calar-se para não serem acusados de colaboracionismo com o inimigo e serem presos por "alta traição". Não é assim, no entanto, na cidade de Sviatohirske em seu histórico complexo de mosteiros que remonta ao início do século XVI.
A reportagem é de Lorenzo Cremonesi, publicada por Corriere della Sera, 06-03-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Esta é uma zona muito difícil, a grande maioria da população considera-nos inimigos, não fazem nada para o esconder. A maioria emigrou para as regiões autônomas do Donbass ou mesmo para a Rússia. Aqueles que ficaram esperam por nossa derrota enquanto aguardam o retorno dos soldados russos”, admitem os militares ucranianos que patrulham as zonas urbanas devastadas pelos combates do ano passado.
Ontem de manhã na basílica principal do mosteiro os monges celebravam a missa dominical abençoando o Patriarca Kirill de Moscou diante dos fiéis em oração. “Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e muitas outras zonas aqui em volta são parte integrante da mesma região. Kiev foi a mãe de Moscou, de nossa religião, da língua e da cultura comuns. Não existe razão para nos separarmos. Quem o faz age em nome de uma terceira potência, interessada em nos dividir para impor seu domínio sobre o mundo” nos explica o padre Bonifácio, nascido há 52 anos em Zaporizhzhia. Ele não quer explicitamente apontar o dedo para os Estados Unidos e a OTAN.
“Sou um monge, um homem da igreja, não quero me meter em política”, se defende. Mas seu discurso repete as palavras de Kirill e de Putin: não há diferenças entre ucranianos e russos, quem as enfatiza está fazendo o jogo dos estadunidenses e da frente ocidental.
Em Sviatohirsk praticamente ninguém abraçou o cisma do patriarcado de Kiev, que se separou completamente de Moscou nos últimos meses precisamente em reação à guerra lançada por Putin com a bênção entusiástica de Kirill. Uma das últimas manobras foi decidir celebrar o Natal em 25 de dezembro como as igrejas latinas e contra a tradição ortodoxa de 7 de janeiro. Os serviços de segurança ucranianos também realizaram buscas e prisões em igrejas que permaneceram fiéis à Rússia, incluindo os antigos mosteiros da Grande Lavra de Kiev, agora considerados como antros de rebelião e "quinta colunas" do inimigo.
O front de combate está cerca de trinta quilômetros mais a leste. Ontem, o presidente Volodymyr Zelensky declarou que seu exército está engajado em uma batalha "dolorosa e difícil" em Donbass contra as forças russas, que pela primeira vez, afirmam fontes de Kiev, teria lançado a superbomba planante Upab -1500B de 1,5 toneladas em Avdiivka e na região de Chernihiv.
Sviatohirsk foi atacada por tropas russas no início de junho. Uma antiga igreja de madeira foi carbonizada por bombas e os danos são evidentes em todos os muros. Nos canteiros em frente à basílica estão os túmulos de três monges e duas freiras que morreram nos combates. Soldados ucranianos retomaram seu controle em 11 de setembro durante a campanha militar que permitiu a libertação das regiões ao sul de Kharkiv, até Lyman.
Hoje cerca de cem monges, mais de 30 freiras e cerca de 200 refugiados civis de aldeias próximas vivem lá. "Mas é inútil ter ilusões: pelo menos 80% dos 5.000 habitantes locais são a favor de Putin, são filhos das transferências forçadas de população organizadas por Stalin há 80 anos", nos conta Evgenii, um comerciante de cinquenta anos pró-Zelensky que já não fala mais com muitos de seus antigos colegas de escola.
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Ucrânia, no berço ortodoxo os monges estão com Moscou. Novas chantagens de Putin: bomba de uma tonelada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU