10 Janeiro 2023
"Brasília tomada, sitiada. Uma multidão verde-amarela, de bandeira do Brasil nas costas, marchou irracionalmente rumo aos principais prédios públicos da nação, adentrou nos edifícios, bagunçou, devastou, vilipendiou o que pertence ao povo", escreve Felipe Feijão, bacharel em Filosofia pela Faculdade Católica de Fortaleza (FCF), licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestrando em Filosofia, na Universidade Federal do Ceará e professor da rede pública municipal de Fortaleza.
É difícil encontrar um adjetivo para qualificar o que o país foi obrigado a assistir em 8 de janeiro de 2023. Os ataques aos três poderes, aos prédios e aos patrimônios públicos, estarreceu a todos os participantes da civilização, que não coadunam com a barbárie manifestada nas ações dos criminosos que protagonizaram as invasões e destruições. Se pudessem atacariam, quem sabe, além dos prédios, dos objetos, do brasão nacional, do crucifixo do STF (nem o Cristo foi respeitado).
Brasília tomada, sitiada. Uma multidão verde-amarela, de bandeira do Brasil nas costas, marchou irracionalmente rumo aos principais prédios públicos da nação, adentrou nos edifícios, bagunçou, devastou, vilipendiou o que pertence ao povo. O que deve pensar essa turba perigosa e criminosa? Que conseguirão a vitória que tanto queriam através do vandalismo, da depredação das sedes dos poderes constituídos da República?
Após a histórica posse e as primeiras medidas, revogações, e novidades do governo que dá seus primeiros passos, quando se pensa que o recente pesadelo já havia passado, quando se acha que o momento tenebroso, sombrio já era passado, eis que volta em forma de absurdo inimaginável por civilizados, mas bem planejado e programado por fanáticos e radicais.
Acontecimento sem precedentes na história. Plenário do Supremo invadido e vandalizado, plenário do Senado invadido e desrespeitado, com invasores sentados nas cadeiras dos senadores, e um escorregando, por cima da bandeira nacional, na descida da mesa para o pleno. Salões do Congresso alagados após princípio de incêndio. Andares do Palácio do Planalto invadidos, depredados, saqueados, escritórios e obras de arte destruídos. Vidros quebrados, poltronas reviradas. Semelhante desmazelo foi encontrado no Alvorada: vidraça rachada, infiltrações no teto, imagem sacra deixada no chão, Músicos, de Di Cavalcanti desbotando. O do Planalto, rasgado. Não se espera que brutos sejam capazes de apreciar o belo de uma obra de arte, o que sabem fazer é destruir a cultura, assim como relegá-la ao status de secretaria bastava há até pouco. De cara limpa e celular em punho, filmando e fotografando, aparentemente sem nenhuma vergonha, os baderneiros deixaram uma verdadeira terra arrasada. O emprego da força irracional sob objetos simbólicos não destrói os simbolismos, mas os reforça.
Para além de partidos, de políticos, de presidentes, de governos, esses prédios, objetos e símbolos são do povo brasileiro, representam a República brasileira, a democracia, tão ultimamente atacadas verbalmente pelos que, infelizmente, dessa vez se utilizaram de práticas desprezíveis e abomináveis. Para além do concreto, dos vidros, dos estilhaços, as instituições e a soberania popular resistem, agora com mais essas feridas.
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Os poderes sitiados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU