29 Novembro 2022
Durante a periódica visita ad limina a Bergoglio e à Cúria Romana, são discutidos temas que apenas dez anos atrás era inimaginável abordar: "Nem sempre concordamos com os colaboradores de Francisco, mas nos sentimos respeitados".
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Repubblica, 28-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como explica um deles, a grande diferença em relação a apenas uma década atrás é que hoje é possível discutir questões que no passado recente era inimaginável até mesmo abordar: e assim os bispos belgas falaram abertamente sobre diáconas, viri probati, bênção dos casais homossexuais, durante sua visita periódica ao Papa e à Cúria romana.
Recentemente os bispos flamengos, portanto apenas os bispos de língua holandesa da Bélgica, aprovaram um documento com um "momento de oração" para dois fiéis homossexuais que se comprometem mutuamente diante de Deus. Os bispos de língua francesa não são contrários, mas evitam a adoção de semelhante "pastoral para as pessoas homossexuais". Não é uma verdadeira bênção para os casais homossexuais, aliás proibida não muito tempo atrás pela Congregação para a Doutrina da Fé, mas a porta está aberta.
"Conversamos sobre casais homossexuais, falamos sobre viri probati (homens casados de fé comprovada ordenados sacerdotes, ndr), falamos sobre a eventualidade do diaconato feminino", relatou o cardeal Jozef de Kesel, arcebispo de Bruxelas, durante o curso de um encontro na embaixada belga junto à Santa Sé. Temas controversos que, no entanto, foram levantados tanto durante o encontro "cordial" com o Papa quanto com aquele - que um bispo define como um pouco mais áspero, mas ainda assim dialogante - com os chefes dos dicastérios da Cúria romana.
No que diz respeito à oração pelos casais homossexuais, "é claro que conversamos sobre isso, eu mesmo falei sobre o assunto, fiquei muito feliz por poder falar", conta De Kesel: "O que queríamos fazer era estruturar um pouco a pastoral, para que em cada diocese tenha, na equipe de pastoral familiar, quem se encarregue do problema. Em Roma, pudemos falar sobre isso e nos sentimos escutados: isso não significa que meu interlocutor necessariamente concorde comigo, mas pudemos discutir. Precisamos ajudar essas pessoas, se não as ajudarmos estarão perdidas”.
Para o cardeal, incluído entre as almas progressistas do catolicismo mundial, não é justo pretender a castidade, como inclusive estabelece o catecismo, de uma pessoa homossexual que não tenha feito a escolha de ser religioso ou sacerdote: "Pode-se pedir a essas pessoas para viverem em castidade? Devemos ser realistas... Li uma tomada de posição do presidente do Pontifício Instituto João Paulo II para a Família, monsenhor Philippe Bordeyne, segundo a qual ninguém pode ser privado da bênção de Deus”. Em todo caso, durante os encontros no Vaticano “senti-me escutado e respeitado. Imagino que nem todo mundo com quem conversamos compartilhe da minha opinião. Mas é preciso discernimento, esta é uma problemática nova que se impõe, é preciso tempo”.
Os bispos belgas, continuou o cardeal De Kesel, falaram com os principais expoentes da Cúria Romana "sobre a diminuição das vocações, o diaconato, a possibilidade do diaconato das mulheres, a importância das mulheres na Igreja, um dossiê muito importante... e, para não mudar a disciplina da Igreja, o celibato, mas em algumas situações, por que dizer não aos viri probati?”
Sobre a possibilidade de ordenar mulheres ao diaconato, em particular, “segundo estudos históricos, teológicos e exegéticos, parece que o diaconato feminino existiu e inclusive com a imposição das mãos, como ministério: não se pode negar. O papa criou duas comissões sobre o tema. Esses temas, viri probati e diáconas, não ajudam a resolver o problema das vocações, mas, na minha opinião, são duas questões importantes, mesmo que houvesse muitas vocações”.
Na semana passada, os bispos belgas realizaram a sua visitatio ad limina apostolorum, aos túmulos dos apóstolos, ou seja, a visita periódica de cada episcopado nacional para discutir questões cruciais com o Bispo de Roma e seus colaboradores. Nestes últimos meses é a vez dos bispos do norte da Europa: os holandeses vieram antes dos belgas - o cardeal de Utrecht Willem Jacobus que, entre outras coisas, pediu ao Papa uma encíclica sobre a questão do gênero - e depois os bispos alemães, que escancararam as questões levantadas pelo Caminho Sinodal alemão (celibato obrigatório, moral sexual, papel da mulher, homossexualidade).
Fazendo um balanço dos encontros, o Cardeal de Kesel notou uma diferença em relação às duas visitas ad limina apostolorum das quais participou, em 2003, com João Paulo II, e em 2010, com Bento XVI: “Constato uma mudança de atmosfera dentro da Cúria Romana: mesmo então havia trocas, mas o presidente de cada dicastério falava longamente para explicar seu ponto de vista e a nossa responsabilidade. Desta vez nos sentimos escutados, não porque os dicastérios romanos não tivessem nada a dizer, mas também porque queriam entender a nossa situação. 'Também temos algo a aprender com vocês', nos foi explicado”.
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Os bispos da Bélgica: “Falamos com o Papa sobre diáconas, padres casados, homossexuais e nos sentimos escutados” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU