11 Outubro 2022
“Umanesimo per l’era digitale. Antropologia etica spiritualità” [Humanismo para a era digital. Antropologia, ética e espiritualidade]: a mais recente obra do teólogo moral Giannino Piana foi apresentada no Festival da Dignidade Humana, promovido pela Fundação Marazza, de Borgomanero, na Itália.
O comentário é do sociólogo italiano Franco Garelli, professor da Universidade de Turim. O artigo foi publicado em Avvenire, 08-10-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Giannino Piana oferece-nos uma reflexão bastante fecundo neste trabalho intitulado “Humanismo para a era digital” e dedicado ao destino do humano na sociedade contemporânea, em uma época em que grande parte da população experimenta novas e radicais formas de desorientação: dos recorrentes tsunamis ambientais e financeiros à persistência do terrorismo de matriz religiosa, da extenuante experiência da pandemia à eclosão da guerra na Ucrânia, a primeira guerra de tipo global na medida em que também causa vítimas muito distantes do local onde ocorre.
Umanesimo per l’era digitale. Antropologia etica spiritualità (Foto: Divulgação)
Eis o grito de alerta do qual parte o volume de Piana, que dedica a primeira parte aos fatores sociais potencialmente desumanizadores. O risco é de um esvaziamento do “mundo interior do ser humano”, de uma ideologia técnica que se eleva a nova linguagem simbólica e a critério supremo de avaliação da realidade, abrindo amplos espaços para a atividade manipuladora.
Quais são as saídas possíveis para um cenário tão bloqueado e complexo? Ao fazer um profundo discernimento ético-antropológico da situação, o trabalho de Piana parece sugerir duas perspectivas de contenção das tendências desumanizantes presentes hoje em nossas sociedades, uma que atua no campo da mentalidade e da cultura generalizada, e outra que diz respeito ao governo dos processos sociais.
Então, como é possível construir/favorecer um “novo humanismo”? Acima de tudo, com uma formação cultural rica e fecunda (“clássica”, justamente), fruto de um saber humanístico que integra e debate com o científico, capaz de fornecer os instrumentos para pensar criticamente e para discernir melhor as diversas situações. E, além disso, com o amadurecimento de um ethos humano harmonioso, que reconhece a grandeza do ser humano, mas também a sua finitude, a sua vontade de se afirmar, mas também a sua fragilidade.
Os gigantes da web também se preocupam em permanecer humanos, pois, além de terem revolucionado o mundo e se enriquecido muito com a economia imaterial, sentem a necessidade de se credenciar como os filantropos mais generosos da história. Em todos os casos, é um mundo cada vez mais global e interconectado em que vivemos, dominado por grandes infraestruturas econômicas e técnicas, em que os vírus ou as inovações que se desenvolvem em lugares específicos estão destinados a contagiar todas as nações.
A preocupação antropológica e ética é a figura de fundo deste livro muito rico de Giannino Piana. Trata-se de uma preocupação que não se limita a sondar os riscos a que o “humano” está exposto na época atual, mas que se ativa também a identificar algumas saídas possíveis (humano-formativas e político-estruturais) de uma situação que parece estar principalmente bloqueada e que parece ser desesperadora; e que, na parte final da obra, sente a exigência de oferecer ao leitor um pequeno, mas precioso, tratado de ética aplicada ao tema do “humanismo na era digital”, ou seja, à necessidade de “repensar o humano” na época atual.
Piana nos oferece páginas muito belas e redondas, que surgem espontaneamente de uma bagagem ética cultivada ao longo do tempo com grande competência e profissionalismo, constantemente testada e enriquecida diante das mudanças de cenário que gradualmente interpelam a condição humana.
A última seção do texto é dedicada aos valores do espírito, na convicção do autor de que “antropologia e ética não se sustentam sozinhas”, precisando de um horizonte de sentido que se situe além da contingência humana. O discurso sobre a espiritualidade é entendido aqui como uma “terra do meio”, na qual podem se reconhecer todas as pessoas que – independentemente de suas convicções sobre os temas religiosos – nutrem um senso de esperança no destino da humanidade; e que, graças a esse recurso interno, atuam em vários níveis para tornar a experiência humana mais vivível e participativa.
Cultivar os valores do espírito significa sentir-se parte de um mundo de mistério que domina a todos nós, sentir o senso da finitude terrena, estar aberto aos temas da sobriedade e da alteridade: todos aspectos que podem alimentar um compromisso ético-político para uma sociedade humanamente menos desequilibrada.
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Um humanismo para a era digital, segundo Giannino Piana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU