04 Outubro 2022
Publicamos o prefácio do Papa Francisco ao livro de Marco Roncalli e Ettore Malnati "Giovanni XXIII. Il Vaticano II un concilio per il mondo” (João XXIII. O Vaticano II, um concílio para o mundo, em tradução livre). O Concílio Ecumênico Vaticano II, fortemente desejado por S. João XXIII e realizado por São Paulo VI, foi um evento de graça para a Igreja e para o mundo. Um evento cujos frutos não se esgotaram.
O texto do Papa Francisco é publicado por La Repubblica, 02-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Giovanni XXIII: Il Vaticano II Un Concilio per il mondo, de Marco Roncalli e Ettore Malnati (Bolis Edizioni, 160 páginas)
Sim, podemos afirmar que o último Concílio Ecumênico ainda não foi plenamente compreendido, vivido e aplicado. Estamos em caminho, e uma etapa fundamental desse caminho é a que estamos vivendo com o Sínodo e que nos pede para sair da lógica do "sempre foi feito assim", da aplicação dos velhos esquemas, do reducionismo que acaba querendo sempre enquadrar tudo no que já é sabido e praticado.
Um livro como este, que nos ajuda a redescobrir a inspiração do Concílio e como, passo a passo, esse evento tem transformado a vida da Igreja, é uma oportunidade para enfrentar melhor o percurso sinodal, que é feito sobretudo de escuta, de envolvimento, de capacidade de dar espaço ao sopro do Espírito, deixando a ele a possibilidade de nos guiar.
Recebemos muito do Concílio Ecumênico Vaticano II. Aprofundamos, por exemplo, a importância do povo de Deus, categoria central nos textos conciliares, citada 184 vezes, o que nos ajuda a compreender o fato de que a Igreja não é uma elite de sacerdotes e consagrados e que cada batizado é um sujeito ativo de evangelização.
Não se compreenderia o Concílio e nem mesmo o atual caminho sinodal, se não fosse colocado no centro de tudo a evangelização. Somos pecadores testemunhas do Ressuscitado e anunciamos ao mundo - não por nossos méritos nem por nossas capacidades - Aquele que derrotou a morte, Aquele que nos salvou e que continua a nos salvar levantando-nos com infinita misericórdia. A grande assembleia ecumênica foi inspirada pela exigência de testemunhar e anunciar com palavras novas o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus e sua presença entre nós.
Houve um mundo que se afastava do cristianismo e manifestava, mais que aversão, indiferença. O Concílio nasce deste impulso, desta pergunta: como falar de Jesus aos homens e mulheres de hoje? Desde então, percorremos um longo caminho, que não foi isento de dificuldades e decepções. Ainda hoje corremos o risco de cair na tentação do desânimo e do pessimismo, quando fixamos o nosso olhar nos males que afligem o mundo em vez de olhar o mundo com os olhos de Jesus, isto é, considerando-o um campo de colheita, onde semear com paciência e esperança.
Repercorrer a história do Concílio e, sobretudo, viver o presente do Sínodo com o coração aberto e livre, para reverberar naqueles em que encontramos a ternura de Deus e sua proximidade com todos, é o modo pelo qual aprendemos a não desanimar e abandonar toda tentação de confiar em nós mesmos, em nossa habilidade e em nossas estratégias, deixar espaço para Ele.
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Ainda há um longo caminho a percorrer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU