De preto pelos direitos. Luto pelos trabalhadores que morreram na construção dos estádios do Catar

Foto: Apex Image | International Labour Organization – ILO (Flickr, creative commons).

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30 Setembro 2022

 

"Não queremos ser associados a esse evento". A marca Hummel, que fornece à Dinamarca as camisetas para a Copa do Mundo no Catar, se distancia: a logo quase desaparece, assim como o símbolo da seleção nacional de futebol, ambos afogados no vermelho. A terceira camiseta é preta em sinal de luto pelos trabalhadores que morreram na construção dos estádios e das infraestruturas.

 

A reportagem é de Stefano Mancini, publicada por La Stampa, 29-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Assim, o esporte novamente entra em conflito com a política da qual sempre proclama querer se manter afastado. É o eterno debate se é certo dar notoriedade a um país que pisoteia as regras da democracia ou se seria melhor elaborar um código que reconheça uma licença de legitimidade a quem organiza grandes eventos.

 

A Hummel não vai tão longe. “As camisetas - explica a marca através das suas redes sociais - não são apenas inspiradas no Euro 92, o maior sucesso futebolístico da Dinamarca, mas também num protesto contra o Qatar e a falta de respeito pelos direitos humanos. Por isso padronizamos a nossa logo. Não queremos ser visíveis durante um torneio que custou a vida de milhares de pessoas. Vamos apoiar a seleção dinamarquesa até o final, mas isso não é como apoiar o Catar como nação anfitriã”.

 

Mapa do Catar (Foto: Prepara Enem)

 

É um protesto soft e delicado, que respeita a proibição de mostrar símbolos políticos ou mensagens de texto que une eventos esportivos internacionais. Estamos aqui, mas não nos deixamos ver, decidiu a Hummel. "Vamos ser mais notado se formos e ficarmos de lado ou se não formos?" Nanni Moretti teria comentado. Esse é o dilema de muitos esportes, atraídos para o Oriente Médio por petrodólares e estruturas construídas sem limites orçamentários, arrancadas do deserto sem restrições ambientais e construídas às pressas graças a leis que não preveem tutelas. Em maio, a Anistia Internacional pediu à Fifa um ressarcimento pelas centenas de milhares de trabalhadores empregados há uma década. Por enquanto, nada foi feito.

 

O Campeonato Mundial de Motovelocidade acontece em Losail desde 2004 sem qualquer remorso específico de consciência, a Fórmula 1 descobriu o Qatar e a Arábia Saudita nos últimos dois anos. “Colocar os holofotes sobre um país ajuda, porque impulsiona a mudanças. Seria pior não ir”, argumenta veementemente Stefano Domenicali, presidente e CEO da F1. Lewis Hamilton, o mais icônico dos pilotos, usou um capacete com as cores do arco-íris no Catar e na Arábia Saudita, onde a homossexualidade ainda é crime.

 

Em 2011, o Grande Prêmio do Bahrein foi cancelado, mas por uma questão de segurança (manifestações de rua estavam ocorrendo) e não por uma tomada de posição política. A corrida no Qatar 2022 também foi cancelada.

 

Escrúpulos de consciência? Violação de direitos? Apenas negócios: haveria uma sobreposição prejudicial com a Copa do Mundo de Futebol.

 

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