28 Setembro 2022
Dom José Luis Escobar, arcebispo de San Salvador, encontrou-se sob ataques verbais por ter declarado apoio à reeleição do presidente Nayib Bukele, embora a constituição limite apenas um mandato para o cargo.
“As pessoas estavam desapontadas, e agora veem uma luz no caminho à frente, por isso muitos querem esmagadoramente que o presidente concorra novamente”, disse o arcebispo durante uma coletiva de imprensa, em 25 de setembro, onde seus comentários foram entendidos como um apoio tácito ao atual presidente.
A reportagem é de Rhina Guidos, publicada por Catholic News Service, 27-09-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O governo Bukele rapidamente disseminou os comentários do arcebispo via redes sociais, postando-os no dia seguinte na capa do jornal do governo com a foto de Escobar Alas e suas palavras em destaque.
Capa do jornal Diario El Salvador, 26-09-2022.
A reação foi rápida.
O povo “quer” muita coisa, mas se forem contra os limites constitucionais, isso é ilegal, argumentou Paulita Pike, uma católica ativa na Arquidiocese de San Salvador. Ela perguntou à arquidiocese no Twitter se a “vontade do povo” pode se aplicar a qualquer coisa, incluindo o aborto, que é rigidamente proibido pela constituição salvadorenha.
Escobar Alas também comentou sobre a legalidade de Bukele buscar um segundo mandato, dizendo que a Suprema Corte do país pautou uma regra “interpretando a constituição de uma forma que a reeleição é possível”.
No entanto, em 2021, o governo de Bukele demitiu o procurador-geral da República e um grupo de juízes da Suprema Corte, substituindo-os por um grupo de magistrados que interpretam a reeleição como legal.
O Departamento de Estado dos EUA e congressistas do país, como deputado Jim McGovern, do Massachusetts, expressaram preocupações sobre o desgaste da democracia de El Salvador, dizendo que alta popularidade de Bukele entre os salvadorenhos não é justificativa para violar os direitos humanos. Os EUA querem ser parceiro e prover ajuda econômica ao país, mas direitos humanos básicos e princípios democráticos precisam ser aderidos, afirmou McGovern em uma audiência do Congresso, em 12 de setembro.
“Aos que são contra as críticas ao governo salvadorenho argumentando que as ações do presidente Bukele são populares e que seus índices de aprovação são altos, nós apenas dizemos que ser popular não torna as violações em corretas”, disse McGovern.
Em 26 de setembro, Julio Villagrán entrevistou em seu programa de televisão o padre Juan Vicente Chopin sobre as declarações do arcebispo. O entrevistador afirmou que o arcebispo parecia estar justificando a autoridade pelo destaque de que “o povo quer” em vez do que a constituição diz.
Chopin disse que há um ditado popular em El Salvador: “A pessoa se torna senhor do que cala e escravo do que diz”.
“Quando o arcebispo se manifestou naqueles termos, a favor da reeleição, ele entrou na história”, afirmou.
Chopin diz que “como pastores, somos chamados à prudência”.
No dia seguinte à conferência, Alas Escobar divulgou um vídeo de “esclarecimento”, dizendo “eu não falei por mim”, aprovando ou desaprovando a reeleição de Bukele, “porque não é de minha responsabilidade”. Ele disse que estava constatando fatos: a maioria dos salvadorenhos quer que Bukele concorra novamente e que a Suprema Corte ajuste o caminho para a reeleição.
As críticas continuaram chegando e foram agravadas por comentários tornados públicos de um grupo que protestava do lado de fora da catedral de San Salvador. Os manifestantes pediram ao arcebispo que denunciasse os encarceramentos em massa realizados pelo governo de Bukele.
As detenções começaram no final de março, após uma série de 62 homicídios relacionados a gangues ao longo de um fim de semana. O governo anunciou uma repressão, declarando um período de 30 dias de prisões em massa e suspensão de liberdades pessoais, negando acesso a advogados, dizendo que era necessário controlar a violência. Apenas membros de gangues seriam presos, disse o governo.
As medidas estão em vigor há seis meses e resultaram, pela contagem do governo, em 53.465 detenções até o momento.
O governo se refere aos detidos como “terroristas capturados”, mas admitiu que talvez “1%” dos presos possa ser inocente. Os críticos dizem que as autoridades estão prendendo pessoas aleatoriamente para cumprir uma cota.
Escobar Alas chamou as detenções de “remédio amargo”, considerado necessário para conter o nível de violência.
Após os protestos, o arcebispo não comentou as detenções. Em vez disso, a arquidiocese publicou um comunicado de imprensa sobre a próxima visita de uma delegação salvadorenha ao Papa Francisco em 14 de outubro no Vaticano, para agradecer as beatificações de janeiro do jesuíta Rutilio Grande e seus companheiros, bem como a beatificação do franciscano Cosme Spessotto.
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El Salvador. Arcebispo de San Salvador é criticado pelo seu apoio à inconstitucional reeleição de Bukele - Instituto Humanitas Unisinos - IHU