26 Setembro 2022
Antecipamos um trecho da introdução do Papa Francisco ao livro Vita di Gesù (Vida de Jesus, Piemme) de Andrea Tornielli, diretor editorial das mídias do Vaticano, uma história da existência de Cristo baseada em estudos históricos e capaz de manter o imediatismo do testemunho dos discípulos.
Vita di Gesù. Con il commento di papa Francesco
O texto do Papa Francisco é publicado por La Stampa, 25-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há tempo continuo recomendando a todos o contato direto e cotidiano com os Evangelhos. Por quê?
Porque se não tivermos contato diário com a pessoa amada, dificilmente poderemos amá-la.
O Evangelho não é apenas uma história do passado ou uma história edificante com bons ensinamentos morais. O propósito da Palavra de Deus não é tanto falar à nossa mente: o propósito é o encontro. A Palavra de Deus é um dom para o encontro: o Senhor veio a nós com o seu Filho - que é a sua Palavra – para nos encontrar. Sem encontro, o Evangelho permanece uma história que leio, que me fala de um Mestre que oferece ensinamentos de vida. Em vez disso, quando encontro o Senhor em sua Palavra, nasce e renasce um sentimento de espanto, algo que dificilmente sentimos quando lemos o Evangelho apenas intelectualmente, como uma narrativa histórica.
O assombro é o perfume de Deus que está passando naquele momento. Tantas vezes acontece de lermos uma passagem do Evangelho e depois relê-la, e nada acontece. Então um dia, ouvindo ou relendo essa mesma passagem, toca nosso coração e entendemos a profundidade do que lemos ou ouvimos. Isso é feito pelo Espírito Santo, que torna Cristo vivo e atual em nós, que nos revela sua presença nos Evangelhos.
Se prestar atenção a notícias sobre Deus apenas com o intelecto ou a curiosidade, dificilmente me envolverei e amadurecerei. Mas quando sinto o espanto - que é uma graça do Espírito Santo, um dom da sua graça - ali sinto que o Senhor está presente, toca o coração com a sua ternura. Tomemos nas mãos o Evangelho com simplicidade e com amor: será Deus quem nos doará o espanto e se deixará encontrar por nós. Nos Evangelhos encontraremos, sine glossa, o estilo de Deus: a proximidade. E dentro dessa proximidade há justamente compaixão e ternura.
Estes são os três traços do estilo de Deus: a encarnação do Verbo, a descida do Verbo comporta aquela humilhação de Deus que os gregos chamam de "synkatabasis", ou seja, a condescendência do Todo-Poderoso. O Criador de todas as coisas tornou-se pequeno, tornou-se uma criança. A proximidade do Senhor só se compreende entrando nesse seu rebaixamento, nesse seu humilhar-se, deixando-se envolver pela sua compaixão e pela sua ternura. Esse é o estilo de Deus e por isso Jesus, quando opera curas, adota o estilo próprio de Deus. A mim, por exemplo, toca-me o coração quando releio a página do Evangelho em que Jesus devolve a vida à filha de Jairo. Ela a pega pela mão e com compaixão e ternura a entrega aos pais, pedindo que a alimentem. Ele faz o mesmo com o menino, filho da viúva de Naim: entrega-o à mãe. Aqui está a proximidade de Deus.
Este livro, esta Vida de Jesus, escrita utilizando as palavras dos Evangelhos, pode ajudar-nos a entrar em contato com Ele, para que não permaneça apenas uma grande personagem, um protagonista da história, um líder religioso ou mestre de moral, mas se torne para cada um, todos os dias, o Senhor. O Senhor da vida. Desejo que o leitor veja Jesus, encontre Jesus e receba a graça - que é um dom do Espírito Santo - de se deixar atrair por Ele.
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Papa Francisco: O Evangelho não é uma lição fora do tempo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU