10 Agosto 2022
Em 28 de julho, na França, um decreto de expulsão atingiu um pregador próximo à Irmandade Muçulmana, Hassan Iquioussen. Alguns dias antes, em 12 de julho, o célebre islamólogo Tariq Ramadan foi indiciado.
A reportagem é de Lorenzo Prezzi, publicada em Settimana News, 06-08-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Hassan Iquioussen, 58 anos, pai de cinco filhos e com 15 netos, teve seu pedido de renovação da autorização de permanência de 10 anos negado. Nascido na França e de nacionalidade francesa, ele renunciou à cidadania ainda jovem, embora depois tenha tentado recuperá-la em vão. Imã da mesquita de Escaudain, ele chamou a atenção das comunidades islâmicas como pregador. No YouTube, tem 172.000 assinantes e 42.000 no Facebook.
No decreto de expulsão, fala-se de “atos de provocação explícita e deliberada em favor da discriminação, do ódio e da violência contra um grupo de pessoas”. Ele é indicado como portador de uma visão do Islã contrária aos valores da república francesa, violentamente antissemita, favorável ao separatismo das comunidades islâmicas em relação à vida civil e opositor da laicidade. Além de ser contrário à igualdade entre homens e mulheres.
Em um relatório do Instituto Montaigne, ele é indicado como pertencente à “tendência mais dura e mais virulenta da Irmandade Muçulmana na França sobre temas como o status das mulheres e as relações com o judaísmo”.
Em uma conferência em 2003, ele indicou o Estado de Israel como fruto de um complô entre sionistas e Hitler e, 10 anos, depois acusou os judeus franceses de alimentarem o ódio aos muçulmanos. No que diz respeito aos atentados às Torres Gêmeas em Nova York, ele os definiu como “pseudoatentados”, embora tenha se distanciado dos ataques ocorridos posteriormente na França.
Ele reafirmou a sua inocência e a plena adesão aos valores republicanos. Seu advogado destacou que o decreto é justificado pela lei sobre o separatismo de 2021, sustenta-se sobre manipulações retóricas sobre afirmações retiradas do contexto e se configura como uma instrumentalização político-midiática do direito. Em seu favor, manifestaram-se 26 mesquitas do norte da França e a Liga dos Direitos Humanos.
Em meados de julho, foi confirmada a proibição de permanência na França de Tariq Ramadan, e, em 12 de julho, o Tribunal de Paris o indiciou com base em quatro denúncias de mulheres que o acusaram de abuso sexual.
O caso de Ramadan afetou todo o Islã europeu. Figura poliédrica, nascido na Suíça em 1962, neto de Hasan al-Banna, fundador da Irmandade Muçulmana, formado em Genebra, al-Azhar (Cairo) e Friburgo, professor em muitas universidades ocidentais e do Oriente Médio, era considerado o pensador muçulmano europeu mais influente e original.
Sua posição poderia ser definida como neo-hegemonia muçulmana, em oposição à tradição teológico-jurídica predominante e à posição histórico-crítica minoritária de outros pensadores. Não se trata de modernizar o Islã, mas de islamizar o moderno.
As acusações despedaçaram a imagem da sua coerência com os ditames do Islã sobre os comportamentos pessoais. Primeiro, ele negou tudo, depois disse que as interessadas estavam de acordo. O tribunal confirmou o consenso, mas observou uma relação dominante-dominado inaceitável sobre mulheres frágeis e inferiorizadas.
O juiz de instrução ainda poderia impedir o processo que, se realizado, provocaria um acalorado debate sobre os fatos, mas também sobre as orientações do Islã na Europa.
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França: pregadores islâmicos na mira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU