08 Julho 2022
A irmã Clare Condon se dirigiu à Segunda Assembleia do Concílio Plenário da Austrália pedindo para que todas as mulheres sejam incluídas no atual discernimento de o que o Espírito está pedindo para a Igreja australiana para assegurar o desenvolvimento do atual ensino da Igreja.
A reportagem é publicada por La Croix International, 07-07-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“As imagens de Deus têm poderosas implicações para a identidade, espiritualidade e relacionamento com Deus”, disse a irmã Clare Condon em um discurso ao Concílio Plenário sobre a moção “Testemunhando a igualdade de dignidade de mulheres e homens”, em 5 de julho.
Os 277 membros do concílio plenário incluem bispos, sacerdotes, religiosos e leigos. É o quinto concílio plenário da história da Austrália e o primeiro desde 1937, uma iniciativa que o Papa Francisco aprovou em 2018.
O Novo Testamento testemunha a inclusão das mulheres em todos os aspectos da vida e missão da comunidade. Os Evangelhos falam do relacionamento de Jesus com as mulheres. Os Atos dos Apóstolos e e as cartas de Paulo relatam o envolvimento da Igreja Primitiva com mulheres e homens.
“Esses relatos indicam o relacionamento radical do discipulado com Jesus, Deus e uns com os outros. Esses relacionamentos desafiavam o patriarcado da época e ofereciam uma forma diferente de relacionamentos iguais”, disse a irmã Condon.
“Esses insights, particularmente nos estudos das escrituras e na teologia, exigem a inclusão e identificação das mulheres na linguagem dos documentos e rituais da igreja, e na nomeação das múltiplas imagens bíblicas do santo e misterioso Deus”, disse a religiosa das Irmãs do Bom Samaritano da Ordem de São Bento.
A irmã apontou como os estudos bíblicos, teológicos, filosóficos e espirituais se basearam e desenvolveram esses entendimentos da relação das mulheres com a Palavra de Deus dentro de uma eclesiologia de plena comunhão, plena participação e chamado à missão.
Na sociedade do século XXI, as mulheres mantêm uma relação de igualdade com os homens, na vida familiar, nos encontros pessoais e nas realidades profissionais e é por isso que “nesta mudança epocal”, o Papa Francisco fez a pergunta “Poderia o Espírito estar nos impelindo reconhecer, valorizar e integrar o novo pensamento que algumas mulheres estão trazendo para este momento?”.
Uma vez que o arbítrio é a capacidade de dar sentido ao próprio ambiente e experiência por meio de ação reflexiva e intencional, as mulheres devem ser incluídas no discernimento contínuo do que o Espírito está pedindo à Igreja australiana e no desenvolvimento do ensino contínuo da Igreja, particularmente no que diz respeito para a construção de sentido de sua fé, espiritualidade e educação teológica, disse ela.
“Todos os batizados são chamados a participar do papel sacerdotal, profético e real de Jesus, o Cristo”, disse a irmã Condon.
No entanto, ela apontou para o desequilíbrio de poder dentro da Igreja Católica Australiana, onde a tomada de decisões nas dioceses e paróquias é realizada pelo clero.
Os leigos em geral são excluídos e urge aos participantes do concílio plenário que aprendam com a Igreja global, onde há exemplos de modelos colaborativos de governança.
Testemunhar a igualdade de dignidade de mulheres e homens é dar testemunho “por ações reais e evidenciais da verdade da igual dignidade de todos os batizados dentro da comunidade eclesial”, disse ela.
“Testemunhar carrega a responsabilidade de indicar através da prática, estrutura e processo que esta verdade é experimentada em todos os níveis da comunidade católica, como uma Igreja Cristocêntrica”, disse a irmã Condon aos participantes do concílio plenário – a maior instância da Igreja Católica no país, que tem elaborado normas para a governança e autoridade, sujeitas à aprovação de Roma.
A irmã Condon, que ingressou nas Irmãs do Bom Samaritano em 1969, aos 20 anos, foi líder congregacional de 2005-2017. Atualmente ela é presidente da organização Religiosos da Austrália contra o Tráfico Humano.
Ela trabalhou em várias dioceses australianas, no Japão, Filipinas e Kiribati. Em maio deste ano ela recebeu um doutorado honoris causa pela Universidade Católica Australiana, em reconhecimento à sua contribuição para a justiça social na Austrália.
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Austrália. Irmã desafia o concílio plenário a dar testemunho real para todos os batizados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU