07 Junho 2022
"Você vê, se houvesse uma guerra dos muçulmanos contra os cristãos, eu a denunciaria e lhe diria que estou do lado do meu povo para defendê-lo. Mas não há guerra desse tipo, não a vejo”.
A voz do cardeal John Olorunfemi Onaiyekan, 78 anos, arcebispo emérito de Abuja, soa desanimada, "toda aquela pobre gente, reunida na missa no dia de Pentecostes... É um desastre e uma grande dor para todos nós, não apenas para os católicos: para todos os nigerianos”. Há anos que ele vê milhares de pessoas mortas, inocentes assassinados enquanto estão rezando. “Não sei se e até que ponto aqueles que fazem isso são movidos por motivos religiosos, aqueles que saem por aí matando pessoas certamente não promovem a religião islâmica, mesmo que se digam muçulmanos e reivindiquem a Jihad. Sei que na Nigéria somos mais ou menos metade cristãos e metade muçulmanos e vivemos juntos e gostaríamos de fazê-lo em paz”.
A entrevista é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 06-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Então o que acontece, Eminência?
Ainda não tenho todos os detalhes do que aconteceu. É uma situação diferente dos atentados no norte do país, o estado de Ondo fica no sul da Nigéria e aqui os cristãos, não digo os católicos, mas os cristãos em geral, são uma grande maioria. Dizem que foram os pastores Fulanis, que são muçulmanos. Mas às vezes, mesmo no Norte, esses grupos criminosos também matam pessoas nas mesquitas, durante a oração. A questão é muito mais do que uma questão entre cristãos e muçulmanos.
Mapa da Nigéria. (Imagem: Reprodução | Washington Post)
E o que seria?
O presidente reagiu com muita força, repetiu a promessa de sempre de que farão de tudo para encontrar os autores etc., um discurso que já ouvimos muitas vezes. Nada vai acontecer, ou pelo menos nada sério. Os políticos pensam nas eleições do próximo ano. Infelizmente a Nigéria encontra-se numa situação em que o governo não consegue garantir a nossa segurança e defender-nos desses grupos armados criminosos.
Mas o que eles pretendem? Dinheiro? A desestabilização do país?
Não vejo como poderiam ganhar dinheiro assim. Se alguém quer desestabilizar a Nigéria, provocar uma guerra, não sabemos. O país não está oficialmente em guerra, não tem inimigo externo. A única guerra que vejo é a dessas gangues criminosas que pretendem criar desordem e confusão entre os fiéis. Vemos continuamente uma violência sem sentido, diabólica. Eles vão nas igrejas, mas também nas aldeias, escolas, mesquitas. Em geral são pequenos grupos, atiram e fogem.
Eles matam pessoas sem piedade. Coisas semelhantes não podem acontecer em 2022, como podemos viver em um país como este? Redes de TV e mídia de todo o mundo vão falar sobre isso. Eu, como arcebispo e nigeriano, sinto vergonha.
Mas quem são os Fulanis?
Grupos de pastores, muitas vezes armados, à procura de terra para as suas vacas, vagueiam à procura de pastos, por vezes apoderam-se de áreas com violência. Dizem que o presidente é da mesma etnia, mas esse não é o ponto. A questão é que a polícia, o exército, às forças da ordem não conseguem detê-los.
O que lhe contam os fiéis, as pessoas com quem o senhor se encontra?
A sensação de insegurança prevalece. Dor e raiva. As pessoas se sentem impotentes diante desses criminosos, sem que haja um caminho nem ninguém que saiba nos defender.
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Nigéria: “Ninguém para esses criminosos: eles matam até nas mesquitas. Mas o Islã não está em guerra conosco”. Entrevista com John Olorunfemi Onaiyekan - Instituto Humanitas Unisinos - IHU