07 Junho 2022
“A população cristã de Iorubá certamente se sente sob ataque. E isso é inédito para a Nigéria e deve ser registrado. Mas eu não leria o atentado simplesmente em chave religiosa. Pelo menos não consigo lê-lo assim no momento. Há tempo, de fato, há um movimento de grupos jihadistas pertencentes a redes rivais no Sahel em direção ao mar, em territórios próximos às costas considerados não tão perigosos. E é esse movimento que deve ser interpretado em primeiro lugar. Porque certamente marca uma importante mudança de estratégia, quem quer que tenha atacado, mas não puramente a vontade de matar cristãos.”
Marco Trovato é o diretor editorial da revista África, nascida há cem anos, uma das vozes mais influentes do continente. Trovato viaja pelo continente africano desde 1990, realizando pesquisas e reportagens.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 06-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Trovato, que notícias você recebeu?
Todas as notícias ainda são muito confusas. Foi um atentado hediondo. Eu vi algumas imagens terríveis. Parece que um atacante foi detido, mas é muito cedo para dizer a qual grupo ele pertence.
O que suas fontes disseram?
Estão todos em choque. Infelizmente, atentados semelhantes vêm ocorrendo na Nigéria há algum tempo, mas em um estado predominantemente cristão no sul, não muito longe da costa da Guiné e da capital econômica Lagos, ainda não havia ocorrido. Estes eram territórios até ontem considerados seguros por todos. Infelizmente, agora não é mais verdade.
O que mais pode dizer sobre o suposto agressor capturado?
Eu vi somente uma parte do vídeo onde se vê um homem armado imobilizado por outro homem que o pega por trás e o joga no chão. Não sei mais nada.
O ataque poderia ter sido feito pelo Boko Haram, a organização terrorista jihadista difundida sobretudo no norte do país?
É uma hipótese possível, mas não uma certeza. O Boko Haram frequentemente realiza atentados em mesquitas, em mercados, entre civis. É difícil dizer se foram eles que escolheram uma Igreja como seu objetivo.
Há quem fale também de banditismo endêmico no país.
Sim, também há este caminho a observar. Muitas vezes os bandidos agem violentamente para realizar chantagens principalmente para conseguir dinheiro. Mas há também os milicianos Fulanis que estão espalhando terror na Nigéria. O certo é que quem o fez decidiu por uma mudança total de estratégia, passando a atacar um território que até ontem era praticamente imune. No fundo, além disso, existe a instabilidade criada pelo momento político com os diferentes partidos que estão realizando campanha para as eleições presidenciais do ano que vem.
Esse aspecto também gera instabilidade em um país onde o fosso entre ricos e pobres é cada vez maior e as injustiças sociais são cada vez mais insustentáveis.
Mapa da Nigéria com destaque para o local do atentado. (Imagem: Reprodução)
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Nigéria: “É um choque enorme. Agora, mesmo no sul cristão, ninguém se sente seguro”. Entrevista com Marco Trovato - Instituto Humanitas Unisinos - IHU