27 Mai 2022
Membros de um grupo de apoio e suporte a católicos homossexuais na França, Bélgica e Canadá visitarão o Vaticano durante a festa da Ascensão, neste final de semana.
O grupo “Devenir un en Christ” (“Tornar-se um em Cristo”) tem acolhido e escutado as histórias de vida de católicos LGBTQIA+ nos últimos 35 anos, procurando ajuda-los a integrar melhor sua sexualidade com a fé cristã.
O grupo foi fundado em 1984 por um casal francês depois da morte de seu filho gay e hoje tem núcleos na França, Bélgica e Quebec (Canadá).
E para celebrar o 35º aniversário da sua fundação, “Devenir un en Christ” patrocinou uma peregrinação ao Vaticano que começa hoje – tradicionalmente a Quinta-Feira da Ascensão – e vai até domingo, quando a maioria dos lugares celebram a Festa da Ascensão do Senhor.
O atual presidente do grupo, Jean-Philippe Cavroy fala nesta entrevista sobre a peregrinação e as mais de três décadas de serviço a católicos LGBTQIA+.
A entrevista é de Damien Fabre, publicada por La Croix, 26-05-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Qual é a missão da sua associação?
“Devenir un en Christ” é uma associação que acolhe homossexuais, seus amigos e entes queridos.
Somos um lugar de acolhimento, de escuta, mas também de acompanhamento no caminho espiritual.
Queremos dizer à instituição que os católicos homossexuais existem e que eles têm um papel pleno a desempenhar na Igreja.
E queremos dizer às pessoas que estão longe da Igreja que é possível ter fé e ser homossexual, e que são bem-vindos.
Você foi à audiência geral do papa na quarta-feira, um dia antes do início da peregrinação em grupo. Que mensagem você quer transmitir ao Papa Francisco para esta ocasião?
Nosso desejo é fazer esta peregrinação ao Vaticano porque é lá que se encontram o papa e o coração da Igreja.
Nós realmente precisamos e queremos fazer parte da Igreja: somos membros dela e parece lógico para nós, em nosso 35º aniversário, ir ver o Santo Padre e falar com ele.
Queremos dizer-lhe que a Igreja deve acolher todos os seus filhos, e em particular aqueles que se preocupam com a homossexualidade. Há cristãos homossexuais que buscam a Deus e precisam da Igreja.
Queremos transmitir esta mensagem à Igreja, caminhar com ela, ouvi-la, mas também vê-la evoluir. É isso que queremos dizer ao papa.
Também vamos agradecer com ele pelo que vivemos nestes trinta e cinco anos e pedir-lhe que abençoe nossa associação.
Como você vê o pontificado de Francisco sobre a questão da homossexualidade?
Já, muito além da questão da homossexualidade, temos a impressão de que temos um Papa que tenta ao máximo conciliar o magistério e a pastoral, fazer uma Igreja de coração aberto, que chama todos a se sentirem acolhidos e participar.
Temos a impressão de que ele realmente enfatiza a misericórdia e o acolhimento incondicional. Esta é, portanto, uma observação positiva para os homossexuais, mesmo que ainda existam muitas batalhas a serem travadas e devemos continuar a fazer ainda mais conscientização, educação e apoio.
Só podemos agradecer pela evolução. Ao longo dos últimos dez anos, temos visto gradualmente uma aceitação crescente na Igreja. Está se movendo aos poucos.
Este movimento começou antes do Papa Francisco...
Sim, começou antes, mas é verdade que o Papa Francisco e suas palavras “Quem sou eu para julgar?” foram um catalisador.
Houve também toda a polêmica (na França) em torno da questão do casamento gay. Foi um momento bastante contrastante, com palavras difíceis e erros de julgamento, durante o qual as coisas foram abordadas, às vezes de forma violenta.
A partir do momento que há evoluções, há também resistências, as duas às vezes caminham juntas.
De onde você acha que vem a resistência?
É difícil dizer-vos com certeza, porque estamos ao nível do testemunho, da experiência e do acompanhamento.
Não temos uma análise científica ou sociológica. O que talvez eu possa dizer é que há uma questão cultural e uma questão de interpretação dos textos.
Enquanto há anos e anos interpretamos as coisas de uma certa maneira, com palavras difíceis, com exclusão, que leva ao sofrimento, não é tão simples mudar de atitude depois, aceitar olhar as coisas de forma diferente.
Essas evoluções, embora às vezes não sejam rápidas o suficiente na opinião das pessoas envolvidas, elas estão lá. Há um número crescente de pessoas que refletem e teólogos que fazem boas perguntas.
Mas é verdade, tudo isso leva tempo. Mudar o paradigma, obviamente, requer pedagogia, reuniões e tempo.
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Grupo católico LGBTQIA+ celebra seu 35ª aniversário com peregrinação ao Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU