18 Março 2022
A nomeação de um conhecido padre chileno para o novo governo chileno para coordenar o programa nacional de moradia provocou fortes reações no país sul-americano.
A reportagem é de Sixtine Lerouge, publicada por La Croix, 17-03-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Gabriel Boric mal havia sido empossado como novo presidente do Chile em 11 de março, quando um anúncio dos jesuítas no país sul-americano imediatamente mergulhou seu novo governo em polêmica.
A ordem religiosa anunciou que o padre Felipe Berríos havia sido contatado pelo Ministério da Moradia e Desenvolvimento Urbano para “liderar um novo programa nacional de trabalho nas ocupações do Chile”.
O memorando sobre a nomeação de Berríos destinava-se apenas aos jesuítas no Chile, mas logo foi compartilhado nas mídias sociais e divulgado na grande imprensa.
A notícia foi recebida com muitas críticas, embora o jesuíta de 65 anos seja um conhecido defensor de moradias dignas para todas as populações.
Berríos fundou a associação “Techo” (também conhecida como “Un Techo para mi País”) em 1997 e vive em La Chimba, uma das ocupações mais pobres do país, desde 2014, após retornar de uma missão missionária de quatro anos na África.
Mas não é na experiência do padre que os críticos se concentram.
“As razões são mais profundas”, explicou Marcial Sánchez Gaete, historiador chileno especializado na Igreja.
“Os casos de abuso sexual cometidos por autoridades marginalizaram a Igreja Católica chilena, que perdeu sua credibilidade do passado”, disse.
Os casos de abuso são conhecidos há vários anos, mas a visita do Papa Francisco ao Chile em 2018 revelou o sistema de acobertamento da instituição.
Uma dúzia ou mais de jesuítas estão entre os envolvidos. Eles incluem Renato Poblete, um padre muito respeitado no Chile.
Berríos, que é jesuíta há mais de 40 anos, foi criticado por manter silêncio sobre abusos em sua ordem.
“Muitas vozes se levantaram para dizer que ele poderia saber e não disse nem fez nada”, destacou Sánchez.
Embora Berríos seja “conhecido como um crítico interno da Igreja”, é o mero fato de ser padre que causa polêmica, pois se trata de uma “figura que perdeu prestígio e respeito”.
“O próprio Francisco repreendeu o clero chileno por ter instalado uma cultura de abuso de consciência, poder e abuso sexual”, disse Sánchez, lembrando a visita papal.
“Essas palavras sinalizaram um antes e um depois”, disse ele.
Parte disso tem sido “igrejas cada vez mais vazias”.
“Enquanto todos os cúmplices, ativos ou passivos, continuarem fazendo parte da Igreja, ela continuará morrendo no Chile”, argumentou Sánchez.
Um dia depois que os jesuítas anunciaram a nomeação do padre Berríos para lidar com as ocupações do Chile, o governo foi forçado a se explicar.
O novo ministro da Moradia, Carlos Montes, disse ao diário La Tercera que “a ideia está em análise”.
“Seria uma equipe supraministerial, que está em discussão e que seria liderada por (Berríos)”, disse Montes.
O presidente Gabriel Boric então disse à CNN Chile em 13 de março que “o ministro Montes pediu a Felipe Berríos para fazer parte de um conselho consultivo sobre a questão das ocupações”.
O presidente insistiu que o padre “não faz parte do governo”.
Boric disse que “viu a preocupação que (esta informação) desencadeou entre as vítimas de abuso sexual”.
O padre Berríos então tentou esclarecer a situação em 14 de março, dizendo que o ministério o convidou “a participar de um grupo consultivo”.
Mas ele negou que estivesse “assumindo um papel de liderança, como foi relatado erroneamente nas últimas horas”.
Ele disse lamentar que a carta interna dos jesuítas tenha sido divulgada antes de qualquer discussão “sobre como concretizar essa colaboração”.
Berríos então anunciou que havia recusado o convite em vista “desta situação inesperada”.
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Chile. Polêmica sobre a possível nomeação de jesuíta ao governo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU