O ‘presente’ do “El País” ao Papa – a sua investigação sobre a pedofilia na Espanha – um gesto sem precedentes de significativo valor que pode ajudar a Igreja na luta contra os abusos sexuais

Foto: Unsplash

Mais Lidos

  • O economista Branko Milanovic é um dos críticos mais incisivos da desigualdade global. Ele conversou com Jacobin sobre como o declínio da globalização neoliberal está exacerbando suas tendências mais destrutivas

    “Quando o neoliberalismo entra em colapso, destrói mais ainda”. Entrevista com Branko Milanovic

    LER MAIS
  • Abin aponta Terceiro Comando Puro, facção com símbolos evangélicos, como terceira força do crime no país

    LER MAIS
  • A farsa democrática. Artigo de Frei Betto

    LER MAIS

Assine a Newsletter

Receba as notícias e atualizações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em primeira mão. Junte-se a nós!

Conheça nossa Política de Privacidade.

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

21 Dezembro 2021

 

O jornalista espanhol do "El País", Daniel Verdú, durante a recente viagem do Papa ao Chipre e à Grécia, no avião, no último dia 2 de dezembro, entregou como um presente ao Papa Francisco algo inusitado: um verdadeiro livro (385 páginas) elaborado e composto apenas para o Pontífice, ou seja, uma coletânea orgânica e completa das numerosas investigações [1] do prestigioso jornal espanhol dedicadas à pedofilia clerical na Espanha nas últimas décadas (são ilustrados 251 novos casos).

 

A reportagem é publicada por Il Sismografo, 20-12-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

É um presente dilacerante - não chocolates, nem cópias de um livro, nada que depois acabe nas lojas - mas sim uma expressão de proximidade à Igreja, ao Papa, que durante muitos anos face ao horror de a pedofilia alterna com dificuldade e esforço bons sucessos, mas também pesadas derrotas. A investigação incide sobretudo, como o próprio Francisco já pediu no passado, agradecendo o trabalho dos jornalistas em várias ocasiões, vítimas concretas, pessoas, homens e mulheres, cujos dramas pessoais não podem ser reduzidos a simples números e categorias ou sociológicas, ou materiais para organizar encontros de especialistas.

Para enfocar a questão central, parafraseando Madre Teresa de Calcutá que dizia que não existe a pobreza mas sim pessoas pobres, poder-se-ia observar que não existe pedofilia, mas sim pessoas abusadas. Francisco acrescentaria: "carne sofredora de Cristo ... vítimas". Esta é a grande importância do presente oferecido pelo "El País" ao Santo Padre, que com toda razão fez repassar o substancial dossiê às autoridades competentes do Vaticano, em particular à Congregação para a Doutrina da Fé.

A iniciativa do jornal espanhol será também um estímulo premente para os bispos espanhóis que nesta matéria se movem com injustificada cautela e prudência ou para os episcopados, como o italiano por exemplo, que essencialmente não se mobiliza com coragem incisiva, com rapidez e transparência, exceto por alguns bispos.

O que foi falado agora também deveria ajudar a revelar um fenômeno sobre o qual pouco se fala e, no entanto, é uma realidade evidente: a existência de uma certa categoria de católicos, entre os quais jornalistas, que atuam como grupo de pressão secular-clerical para evitar acertar as contas com o pecado e o crime da pedofilia e que em muitas dioceses do mundo foram e ainda são um enorme obstáculo para se alcançar a verdade, a justiça e a proximidade, coisas pedidas em alto e bom tom pelas tantas vítimas.

 

Nota:

 

[1] Iñigo Domínguez, Julio Núñez, Daniel Verdú.

 

Leia mais