20 Dezembro 2021
A Cidade Eterna está fervilhando agora, enquanto entramos nesta última semana antes do Natal. Parece que há muito mais visitantes de fora da cidade e turistas do exterior do que no ano passado nesta época. Uma verdadeira agitação tomou conta de Roma!
O comentário é de Robert Mickens, publicado em La Croix International, 17-12-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas isso não significa que todos estejam felizes ou esperançosos. Uma greve do transporte público na semana passada levou muito mais carros particulares do que o normal para as ruas, e, em meio ao tráfego congestionado, havia muitas pessoas agitadas e agressivas atrás do volante.
Enquanto isso, as pessoas estão tentando viver como se a pandemia da Covid tivesse acabado. Mas o uso obrigatório das máscaras em ambientes fechados e mesmo em espaços externos lotados tornou-se exasperante para muitos.
Cobrir nossos rostos e manter a distância são lembretes constantes e desagradáveis de que ainda não escapamos do perigo.
O Papa Francisco disse repetidamente – como na última sexta-feira, para um grupo de embaixadores – que a humanidade deve emergir da crise de saúde de um modo melhor e mais fraterno do que como entrou nela.
Mas as pessoas estão ouvindo?
Para muitos, 2021 foi outro ano difícil e deprimente, especialmente para aqueles que têm dificuldade em ter paciência ou em aceitar a realidade de que a pandemia nunca terminará enquanto as pessoas finalmente sejam vacinadas.
E agora que a variante Ômicron está se espalhando rapidamente pelo globo, muitas pessoas estão sendo dominadas por uma sensação de tristeza e até de desespero.
Não é apenas a Ômicron, mas também uma sensação de que a história não está indo a lugar nenhum. Aumentam a violência, as ameaças de guerra, a catástrofe ecológica... Muitos jovens dizem que não querem ter filhos porque não querem trazê-los para um mundo sem futuro. Mas nós acreditamos no futuro de Deus.
Essas são as palavras de Timothy Radcliffe, o ex-mestre da Ordem dos Pregadores. Ele as proferiu na última sexta-feira, na homilia que fez na missa matinal que ele celebrou com seus irmãos dominicanos em Oxford, Inglaterra.
O que ele disse a seguir é algo que todos devemos ponderar.
“Eu amo a palavra ‘confiança’ – do latim con fidens, ‘acreditar juntos’. Neste tempo de espera, devemos dar confiança uns aos outros... Devemos compartilhar a nossa esperança. Esperança e desespero são contagiosos. E cada um de nós escolhe se quer ser uma fonte de esperança ou de desespero.”
Esperança ou desespero. Devemos escolher qual deles vamos abraçar e compartilhar com os outros.
A escolha deve ser óbvia para aqueles de nós que estão tentando seguir a Cristo e imitar o modo como ele viveu sobre a Terra.
Mas não é óbvio, é? Frequentemente, somos tentados a optar pela tristeza e pelo desespero. Por quê? Talvez porque nos falte paciência e não consigamos olhar o mundo de longe e com uma perspectiva mais longa.
Radcliffe começou sua homilia lembrando como John Henry Newman definiu o que significa ser cristão. Significa “esperar por Cristo”. Ele disse, então, que “esperamos com confiança” e “não procrastinamos”.
Refletindo sobre a genealogia de Jesus, o Messias que Mateus apresenta no início do seu relato do Evangelho, o ex-mestre dominicano disse que a maioria das pessoas mencionadas nessas 42 gerações são figuras amplamente desconhecidas que aparentemente realizaram muito pouca coisa.
“É uma história que não vai a lugar nenhum... e parece uma história que não leva ao cumprimento”, disse ele.
Havia prostitutas, assassinos e adúlteros na linhagem real de Jesus. Ah, e houve a deportação da Babilônia também. Em quase todas as conjunturas, havia motivos para se desesperar. Não parecia nada esperançoso.
Às vezes, parece o nosso próprio mundo e a nossa própria Igreja. Eles também podem nos levar ao desespero.
Mesmo assim, como aponta Radcliffe, o tempo todo essa árvore genealógica maluca e bagunçada estava, na verdade, “trazendo o nascimento de Jesus Cristo”. Realmente estava levando ao cumprimento o tempo todo – o cumprimento da promessa de Deus.
Como pessoas que professam ser cristãs, devemos escolher a esperança. De novo, e de novo, e de novo outra vez.
“Essa esperança significa que podemos agir agora como aqueles que acreditam na promessa. Na antífona que cantaremos esta noite, pediremos à Sabedoria que nos ensine o caminho da prudência. E a prudência não é ser cauteloso, na tradição medieval. A prudência é viver no mundo real. E o mundo real é o mundo de Deus. E nesse mundo nós estamos viajando rumo ao cumprimento.”
Essas belas e encorajadoras reflexões são ainda mais extraordinárias porque o homem que as ofereceu acaba de superar uma provação de saúde extremamente desafiadora, passando os últimos meses se recuperando de uma grande intervenção cirúrgica.
Ouvi-lo pregar com tanta clareza e ousadia é outro sinal de esperança. Ele concluiu a homilia assim:
“Portanto, não procrastinemos. Vamos agir hoje. Quem são as pessoas a quem devemos pedir perdão? Hoje. Quem são as pessoas a quem eu devo perdoar? Quem são as pessoas a quem eu devo estender a minha mão com bondade? Não há tempo a perder.”
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Esperança e desespero são contagiosos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU