Transição energética exigirá extração de mais minerais, segundo relatório da Universidade Federal de Juiz de Fora

Mineração de Nióbio em Catalão – GO

Foto: Agência Nacional de Mineração - ANM

Por: Patricia Fachin | 11 Novembro 2021

 

O discurso em torno da ampliação de outras fontes de energia como uma das alternativas para enfrentar os efeitos do novo regime climático "cria a ideia de que essas fontes de 'energia alternativa' não causam impactos e que, portanto, não haveria necessidade de restrição ao seu uso". Esse raciocínio, contudo, está equivocado, adverte Bruno Milanez, professor do Departamento de Engenharia de Produção e Mecânica e do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora e coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS), autor do relatório "Crise climática, extração de minerais críticos e seus efeitos para o Brasil", publicado neste mês.

 

 

Segundo ele, a transição energética não dependerá apenas da vontade política e social ou do aumento de recursos financeiros para torná-la possível. "Ela também se fundamenta em uma base mineral que é finita, não renovável e distribuída de forma desigual ao redor do planeta", afirma. Isso significa, explica, que "o armazenamento e a transmissão da eletricidade depende de máquinas e equipamentos cuja fabricação necessita de diferentes minerais". A preocupação com esse tipo de transição energética, esclarece, é que assim como as fontes fósseis, a extração mineral "possui uma geopolítica bastante complexa e causa uma série de impactos sociais e ambientais nas localidades onde se encontram as minas".

 

 

A implementação das fontes eólica e solar não será feita sem a extração de mais minérios. "A escalada da capacidade de geração de eletricidade a partir da energia eólica e solar, do armazenamento dessa energia, e da infraestrutura para sua transmissão tem impactos diretos na demanda por alguns minerais específicos (MiningWatch Canada, 2020), usualmente chamados de 'minerais críticos' (IEA, 2021)", informa, conforme demonstrado na tabela abaixo.

 


Tabela sobre o uso de minérios para sistemas de energia renovável (Foto: Reprodução do relatório)

 

O crescimento da demanda mundial por minerais, argumenta, não pode reduzir a discussão sobre a transição energética à substituição de fontes energéticas. "Considerando a crescente demanda global por esse grupo de minerais, neste texto argumento que restringir o debate sobre transição energética a uma simples substituição de fontes energéticas gera o risco de ampliar os atuais conflitos ambientais envolvendo o setor mineral, principalmente em países do Sul Global. Isso se daria não apenas pela ampliação da extração desses materiais, como também pela redução do rigor do monitoramento ambiental das atividades extrativas nesses países".

 

Milanez acompanha especificamente os efeitos que a mineração tem causado no Brasil, onde as populações que vivem no entorno das minas estão à margem de assistência social e imersas em inúmeros conflitos socioambientais gerados pela atividade. Na última entrevista que concedeu ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU, em março do ano passado, ele comentou as implicações da autorização de extração mineral em Terras Indígenas, conforme defendido pelo presidente Bolsonaro. "A questão chave desse processo é que a degradação ambiental causada pela extração mineral (desmatamento, poluição dos rios, degradação da paisagem, inviabilidade da caça e da pesca) inviabiliza a manutenção das práticas tradicionais de subsistência e os povos indígenas se tornam cada vez mais dependentes da economia mineral. Uma vez que a reserva mineral se exaure, não há alternativa de sobrevivência para esses povos”.

 

Bruno Milanez é graduado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, mestre em Engenharia Urbana pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar e doutor em Política Ambiental pela Lincoln University. Leciona na Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF.

 

A seguir, publicamos as principais advertências divulgadas pelo relatório:

 

 

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