21 Julho 2021
"E se criarmos a oportunidade de coming out fraternos e solidários, não por compaixão, mas por convicção justamente dos recursos inclusive espirituais que a condição homossexual é para a Igreja?", escreve o padre Dario Vivian, teólogo vicentino e professor de Teologia Pastoral da Faculdade teológica do Triveneto, em artigo publicado por Settimana News, 17-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
É o momento de escutar histórias de vida de quem declara a própria homossexualidade para entender o quão positivo pode ser. Esta é a convicção expressa pelo teólogo vicentino padre Dario Vivian, publicado no semanário diocesano "La Voce dei Berici" de 11 de julho de 2021.
"As pessoas homossexuais têm dons e qualidades a oferecer à comunidade cristã: temos condições de acolher essas pessoas, garantindo-lhes um espaço de fraternidade em nossas comunidades?”. Esta afirmação, que se torna uma pergunta, ressoou no Sínodo dos Bispos sobre a família. A haviam proposto no relatório no meio da discussão sinodal, depois foi removida.
Progresso tem sido feito na Igreja Católica no tema da homossexualidade. Desde a condenação em nome do que é segundo a natureza e contra a natureza, à aceitação da pessoa homossexual ..., desde que coloque a sua orientação sexual entre parênteses e sobretudo se abstenha de praticá-la.
Em inglês, há uma frase significativa: Dont’t ask, don’t tell, não pergunte e não diga. As comunidades cristãs e a Igreja Católica como um todo desde sempre se enriqueceram com os dons e qualidades das pessoas homossexuais entre as cristãs e cristãos leigos, as religiosas e os religiosas, os padres e bispos. O importante é que não se torne explícito. Nisso a Igreja encontrou e em parte ainda encontra sintonia com a sociedade, mas entre nós o vento está mudando e essa aliança de substancial condenação é cada vez menor.
Pode ser uma ocasião para voltar ao exemplo de Jesus, que compartilhou com todas as pessoas irregulares de seu tempo o juízo desdenhoso de ser um eunuco?
Talvez tenha chegado a hora de ouvir histórias de vida, nas quais quem vive a homossexualidade possa contar não só as dificuldades, mas também as coisas positivas que marcaram os afetos e os relacionamentos, doando uma compreensão mais significativa do evangelho. Porém, não vamos esperar os pronunciamentos de cima, que sempre vêm depois e muitas vezes tarde, mas vamos começar a fazê-lo nos grupos, nas associações, nas paróquias.
No mundo homossexual, é feita uma distinção entre coming out e outing. O primeiro termo indica que a pessoa sentiu a liberdade de se declarar, o segundo, que foram os outros que o contaram a todos, muitas vezes em modalidades carregadas de julgamento ou até mesmo violentas.
Sobre outing nas comunidades cristãs escuta-se bastante e às vezes são boatos espalhados com propósitos específicos. E se criarmos a oportunidade de coming out fraternos e solidários, não por compaixão, mas por convicção justamente dos recursos inclusive espirituais que a condição homossexual é para a Igreja?
A declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, que nega a bênção aos casais homossexuais, suscitou diversas reações. O cardeal de Viena não hesitou em dizer que seria desobediente: “Não gostei desta declaração. Se for sincera e for um pedido de bênção de Deus para um caminho de vida que duas pessoas estão tentando percorrer, então não será negada”. Trata-se da primeira extensão do Catecismo da Igreja Católica, que, entretanto, captou a ação da graça.
Há algum tempo, convidou para jantar dois rapazes homossexuais, que haviam estabilizado a sua união com o reconhecimento civil e por isso foram excluídos do conselho pastoral paroquial. Depois do tempo passado com eles, o bispo escreveu ao pároco para reintegrá-los, por se sentir edificado pela sua fé.
Em sua desobediência, ele corretamente reconhece que a bênção vem de Deus, que seus dons são dados não questionando primeiro as declarações da Igreja.
O verdadeiro obstáculo é como se interpreta a relação entre pessoas do mesmo sexo: pode-se falar de amor homossexual, como começamos a fazer? Se assim for, a palavra de Deus é clara: “o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,7-8). Reconhecer com gratidão esse amor não é mais, na Igreja Católica, coisa de alguém doutrinária e pastoralmente imprudente.
Outro cardeal, desta vez de Munique, observa: “Se existe uma relação homossexual, fiel por trinta anos, não posso dizer que não seja nada”.
Perguntemo-nos se estas histórias de amor ricas de graça devem permanecer entre os grupos de homossexuais crentes, como o grupo La Parola, que está em Vicenza, ou se podem começar a ser partilhadas na vida quotidiana das paróquias.
A Igreja italiana – e, portanto, também a diocese de Vicenza - foi colocada pelo Papa Francisco em estado de sínodo. Caminhar junto pode excluir as pessoas homossexuais como portadoras de dons e qualidades, não apesar de sua condição, mas graças a ela?
Nos dias em que a Santa Sé interveio em referência à proposta de lei Zan, o Papa Francisco escreveu uma carta pessoal ao Padre James Martin, que há muito está empenhado na pastoral com as pessoas homossexuais: “O estilo de Deus tem três características: proximidade, compaixão, ternura. É assim que se aproxima de cada um de nós. Pensando no teu trabalho pastoral, vejo que procuras continuamente imitar o estilo de Deus. Oro para que tu possas continuar assim, sendo próximo, compassivo e com muita ternura”.
E se o primeiro dom dessas pessoas à Igreja, às nossas paróquias, fosse justamente aquele de fazer-nos reaprender o estilo de Deus vivido na concretude de seu obstaculizado amor?
No dia 21 de julho de 2021, às 10h, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU realiza a conferência A Inclusão eclesial de casais do mesmo sexo. Reflexões em diálogo com experiências contemporâneas, a ser ministrada pelo MS Francis DeBernardo, da New Ways Ministry – EUA. A atividade integra o evento A Igreja e a união de pessoas do mesmo sexo. O Responsum em debate.
A Inclusão eclesial de casais do mesmo sexo. Reflexões em diálogo com experiências contemporâneas
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E se criarmos um “coming out” fraterno e solidário? Artigo de Dario Vivian - Instituto Humanitas Unisinos - IHU