11 Dezembro 2020
Os materiais criados pela humanidade já se igualam à massa de todos os seres vivos da Terra. Segundo estimativas de um novo estudo publicado pela revista Nature, nesta década, a balança entre as duas categorias se inclinará para o lado dos produtos fabricados pelas pessoas, pela primeira vez na história.
A reportagem é de Leyre Flamarique Perez, publicada por La Vanguardia, 09-12-2020. A tradução é do Cepat.
As plantas constituem a ampla maioria da biomassa da Terra, seguidas por bactérias e fungos. Os seres humanos reduziram pela metade a massa dos vegetais a partir da primeira revolução agrícola. As duas teratoneladas – um teratonelada equivale a 1.000.000.000.000 toneladas – de 3.000 anos atrás passaram ao valor atual de uma teratonelada. As mudanças no uso da terra, como a agricultura e o desmatamento, supõem os culpados pela queda.
No entanto, é a crescente produção e acumulação de objetos feitos pelos seres humanos, como edifícios, estradas e máquinas, que contribuiu especialmente para a mudança na balança. É o que mostra o estudo realizado pela equipe de Ron Milo, do Instituto Weizmann de Ciências (Israel), que comparou as estimativas nos dois tipos de massas, de 1.900 até o atual momento.
“O estudo proporciona uma espécie de fotografia do panorama geral do planeta em 2020. Esta descrição geral pode proporcionar uma compreensão crucial de nosso papel principal na configuração da face da Terra, na era atual do Antropoceno”, diz Milo em um comunicado.
Segundo seus dados, a quantidade representada pelo total de seres vivos diminuiu ligeiramente durante o período analisado, ao passo que os produtos das pessoas aumentaram rapidamente. Assim, a denominada massa antropogênica foi duplicada, a cada 20 anos, durante os últimos 100. Em inícios do século XX, o peso dos elementos criados pelas pessoas equivalia a cerca de 3% do peso dos seres vivos do planeta. Agora, iguala-se.
“A distância entre a massa antropogênica e a biomassa total foi rapidamente reduzida. Verificamos que as duas curvas se cruzam no ano 2020, momento em que a massa antropogênica superará a biomassa”, escrevem os autores na pesquisa. O ano fixado não supõe uma data exata, pois as estimativas oferecem uma janela de seis anos acima ou abaixo do ponto de cruzamento.
Analisar como variam os produtos criados pelas pessoas ao longo do século falam da própria história da humanidade. Por exemplo, a mudança gradual na construção, que passou de tijolos para concreto, em meados dos anos 1950, fica evidente nos dados. O uso de asfalto para pavimentar as estradas, nos anos 1960, também fica refletido no aumento deste produto nessa época.
Eventos globais, como guerras ou grandes crises econômicas, também podem ser consideradas na análise das variações, desta vez em sua quantidade. A “Grande Aceleração” após a Segunda Guerra Mundial, um período caracterizado por um maior consumo e desenvolvimento urbano, pode ser observada nos contínuos aumentos na massa antropogênica.
Atualmente, os materiais produzidos pelas pessoas aumentam a um ritmo de mais de 30 bilhões de toneladas por ano. Tal quantidade equivaleria a produzir, por semana e por pessoa do mundo, algo mais do que o seu peso corporal em objetos feitos por humanos, segundo a pesquisa. Se as tendências atuais continuarem, os autores apontam que os materiais fabricados pela humanidade superarão as três teratoneladas em 2040.
“Este estudo demonstra até que ponto a nossa pegada global se expandiu para além de nosso tamanho de calçado. Esperamos que uma vez que todos nós tivermos estes impactantes números diante de nossos olhos, possamos, como espécie, assumir a responsabilidade”, conclui Milo.
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Materiais produzidos pela humanidade já se igualam à massa de todos os seres vivos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU