Por: Guilherme Tenher Rodrigues | 20 Outubro 2020
“Para a economia dominante, que até aqui se baseou num mito de crescimento eterno, um decrescimento é inexorável. Essa economia de crescimento, baseada nos combustíveis fósseis, muito mais gigantesca que qualquer Golias mitológico, é tal qual o mito, também bíblico, da estátua do gigante, construído sobre pés de barro: de tão grande, e já que os pés eram de barro, o ídolo gigante terminou por ruir, sob seu próprio peso”, comenta Flávio Marcelo de Mattos Paim, ambientalista, engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e autor dos Cadernos IHU Ideias número 304.
Flávio trabalhou no órgão ambiental do estado do Rio Grande do Sul com modelagem da qualidade da água do Guaíba e o Zoneamento Industrial da Região Metropolitana de Porto Alegre. Pela prefeitura de Porto Alegre, desenvolveu o Programa Guaíba Vive que, de 1989 a 1992, promoveu o resgate sanitário, urbanístico, cultural e turístico do lago que banha a cidade. Na década de 1990 migrou para o estado do Amazonas, onde foi secretário de Meio Ambiente do município de Pauini-AM e gestor da Floresta Nacional do Purus-AM. Obteve especialização em manejo de florestas pela UFLA em 2006. Desde 2014 desenvolve um estudo sistemático sobre o aquecimento global, suas causas, suas dinâmicas, suas consequências, seu debate e as perspectivas do seu enfrentamento em todo o planeta. Desta forma, os Cadernos IHU Ideias número 304 apresentam sua contribuição para o urgente debate da crise climática nas sociedades contemporâneas.
Flávio relata que muitos geoclimatologistas costumam falar que o Ártico é o “canário da mina do aquecimento global. Essa expressão concernente ao Ártico no contexto das mudanças climáticas presentes faz alusão a um dispositivo empregado pelos mineiros de carvão no início do século XX, para assegurarem sua sobrevivência. Esses trabalhadores carregavam, para dentro das minas de carvão, uma gaiola com um canarinho. Em seu trabalho – não apenas extenuante e insalubre, mas, também, literalmente, sufocante e tóxico –, quando paravam de ouvir o canto do canário, todos evacuavam da mina, imediatamente. Era o sinal de que a presença de oxigênio havia decaído a níveis perigosos – ou que havia vazado, para o interior da mina, o temido, inodoro e letal monóxido de carbono, eventualmente presente na jazida. Os passarinhos são muito mais sensíveis à falta de oxigênio e à presença de gases tóxicos que os humanos. Para a salvação dos mineiros, o canarinho perecia antes – e silenciava, avisando a todos”.
“Por isto, então, é utilizada a metáfora do canário da mina para representar o papel exercido pelo Ártico, face às mudanças climáticas que tem vivido o planeta nas últimas décadas: a Região Ártica é muito mais sensível ao aquecimento global que todas as demais regiões da Terra. O Ártico recebe uma hiperexposição solar durante o verão – com direito a sol até à meia-noite. Por conta desta hiperinsolação, a intensificação do efeito estufa observada nas últimas décadas em todo o globo faz com que as regiões polares sobreaqueçam proporcionalmente muito mais que as demais regiões. Além disso, o Ártico é palco de complexos processos geofísicos de feedback, os quais, desequilibrando-se, em razão do maior efeito estufa global antropogênico, retroalimentam o aquecimento regional, intensificando-o”, aponta.
Ao longo do artigo, Flávio elenca uma série de acontecimentos ocasionados pela ação humana predatória para com o meio ambiente. Desde a explicação das mudanças no permafrost, passando pela deterioração do albedo, ou seja, da capacidade de as geleiras brancas refletirem a radiação luminosa do sol de volta para o espaço, até as queimadas sem precedentes em diferentes biomas e biotas espalhados pelo mundo, o texto apresenta um amplo panorama da crise climática enfrentada pelas sociedades contemporâneas e a urgência de políticas que visem à preservação e interrupção imediata de atividades econômicas exploratórias e/ou com alto potencial poluidor.
“Trata-se, portanto, de informações relevantes para as nossas reflexões durante a quarentena – reforçando a necessidade urgente, inadiável de rever o modelo econômico em sua raiz. É urgente uma mudança radical de paradigma econômico. A economia de crescimento obsessivo encontrou seu limite – e a proposta do Papa, de busca por uma Economia de Francisco, chega realmente em boa hora”, aponta Flávio.
Capa de "Ártico, o canário da mina para o aquecimento global". Artigo de Flavio Marcelo de Mattos Paim.
Cadernos IHU ideias, Nº 304
O texto está estruturado da seguinte forma:
Ártico – O canário da mina para o aquecimento global
O Feedback Permafrost-Carbono
Deterioração do Albedo
Incêndios Florestais Selvagens (Wildfires) – A Floresta Boreal e a Taiga em chamas
Riscos de Alteração de Termostatos do Clima Global – O Degelo e seus efeitos sobre a “AMOC”
Concluindo (Para a continuação...)
O texto integral pode ser acessado aqui.
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Ártico, o canário da mina para o aquecimento global - Instituto Humanitas Unisinos - IHU