06 Outubro 2020
A nova Encíclica do Papa Francisco “clama pela necessidade de uma boa política, com base no diálogo e não nos insultos. E na amabilidade, que pode fazer milagres”. Ele lembra que “os populismos não estão realmente a serviço dos povos, mas são uma ameaça”. E pede uma "sacrossanta" reforma da ONU, chamada para um verdadeiro "exercício global da democracia", sem mais países privilegiados. Carlo Petrini, fundador e presidente do Slow Food e da Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo, comenta “Fratelli tutti”, o novo documento do magistério de Bergoglio.
A entrevista com Carlo Petrini é editada por Domenico Agasso jr, publicada por La Stampa, 05-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como você define essa encíclica?
Um grande e radical documento social, com posições bem definidas sobre questões e problemas decisivos para a humanidade.
Quais são eles?
O acolhimento do diferente e do distante, o multilateralismo, a necessidade de instituições que tenham uma relação poliédrica com a realidade, atentas ao global e ao local. E depois, a tomada de distância dos populismos, que na realidade não estão a serviço dos povos. Pelo contrário, ameaçam as democracias.
Qual é o conceito mais corajoso expresso pelo Papa?
Reafirmar que a propriedade privada está a serviço das pessoas e não vice-versa, e vem depois da destinação universal dos bens da terra.
E qual é a passagem que mais lhe surpreendeu?
Aquela sobre o ‘milagre da amabilidade’ que cria uma convivência saudável.
A que se conecta?
À política de hoje. Enquanto estamos voltando do último duelo entre Trump e Biden, todo feito de insultos e acusações, ouvir um líder mundial que pede para aplicar a amabilidade como um modelo relacional é quase revolucionário. E providencial.
Por falar em política, quais são as mensagens mais importantes?
A Encíclica chama a atenção para a necessidade de uma boa política. E o caminho indicado por Francisco é o diálogo, baseado no respeito pelas ideias dos outros. Além disso, o Pontífice sugere também o método de trabalho.
Pode descrever para nós?
É aquele da escola jesuíta: levar adiante as urgências e ao mesmo tempo, onde for possível, deixar que os tempos das soluções sejam lentos, mas que prossigam. As emergências e reflexões de longo prazo devem ser tratadas ouvindo e compartilhando, nunca unilateralmente. Todos os partidos deveriam ler a Encíclica: Bergoglio é o líder mais lúcido, crível, confiável e esclarecedor do cenário internacional. E também o mais realista.
O Papa pede a reforma da ONU: o que você acha?
Nas Nações Unidas ainda há países privilegiados com direito de veto: por que eles têm direitos que outros não têm? O Pontífice reivindica o trabalho do multilateralismo, com atenção à diversidade e à solidariedade. Convida a ONU a um verdadeiro exercício planetário de democracia.
A terceira conversa com o Papa que você publicou no recente livro "TerraFutura" (Giunti - Slow Food Editore) aconteceu enquanto o Pontífice finalizava a encíclica: reconhece algo?
A proposta de reformar o sistema econômico-político e social mundial através da participação e da fraternidade. Seu mentor na encíclica é o Grande Imã de al-Azhar, e isso transmite a universalidade da linguagem de Bergoglio.
A encíclica é publicada no momento em que chuva e lama assolam o Noroeste da Itália: o que isso o faz pensar?
À ‘realidade que geme e se rebela’ de que fala o Papa. Esses desastres são uma confirmação alarmante de como todo o clima esteja mudando rapidamente e o meio ambiente esteja em desordem. Especificamente no Piemonte, a tragédia da água e da lama no Val Tanaro é maior que a de 1994 e, sobretudo, é diferente: manifestou-se em poucas horas, não ‘lentamente’ como há 26 anos.
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Fratelli Tutti. “Mensagem radical, a propriedade privada vem depois do bem de todos”. Entrevista com Carlo Petrini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU