13 Julho 2020
Dom Stephan Ackermann, bispo de Trier (Alemanha), anunciou recentemente a criação de uma nova comissão de historiadores para analisar a causa da beatificação do fundador da família de Schoenstatt, padre José Kentenich.
A reportagem é publicada por ACI Prensa, 09-07-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Em um comunicado difundido através do site oficial de Schoenstatt, em 07 de julho, a Diocese de Trier explicou que o motivo “é o fato de que depois da nova abertura dos arquivos do Vaticano (agora até o final do pontificado do papa Pio XII, em 1958), conta-se com documentos que antes não eram acessíveis para a pesquisa diocesana no processo de beatificação do fundador do Movimento de Schoenstatt”.
O anúncio ocorre apenas uma semana depois que o blog Settimo Cielo, do vaticanista Sandro Magister, e o jornal alemão Die Tagespost divulgaram um informe que acusava o padre Kentenich de abusos de poder e sexual em meados do século XX.
O informe, feito pela teóloga italiana Alexandra von Teuffenbach, baseou-se nos descobrimentos do teólogo jesuíta Sebastiaan Tromp, que realizou uma visita apostólica em cargo da Santa Sé.
A investigação do padre Tromp em Schoenstatt concluiu com o envio do padre Kentenich a Milwaukee (Estados Unidos), afastado da sua fundação até 1965, três anos antes de sua morte, quando o Vaticano permitiu que ele voltasse à Alemanha.
O período de afastamento do padre Kentenich é conhecido pela Família de Schoenstatt como o “exílio”. Nos dias posteriores à denúncia realizada por Alexandra von Teuffenbach, autoridades da instituição religiosa pediram perdão porque a informação sobre as razões da decisão do vaticano de afastar seu fundador não foram difundidas abertamente entre os membros do movimento.
O comunicado da diocese de Trier indica que “a nova comissão basear-se-á nos resultados de uma anterior, que concluiu seu trabalho em 2007”.
“A tarefa da nova Comissão de Historiadores, cujos membros ainda não foram determinados, será, em particular, recolher a informação de todos os documentos que estão acessíveis nos Arquivos Vaticanos, que de alguma maneira concernem a este processo de beatificação, e avaliar sua importância”.
“Os documentos podem ser do próprio padre Kentenich ou podem referir-se a ele e sua obra”, acrescentou a diocese.
Ao final do seu trabalho, continuou o bispado alemão, “a comissão prepara um relatório – incluindo os resultados da comissão anterior – no qual será emitida uma declaração sobre a personalidade e a espiritualidade do padre José Kentenich, baseado na documentação em questão”.
A diocese de Trier conclui seu comunicado recordando que “o processo de beatificação do padre José Kentenich foi aberto na diocese de Trier em 10 de fevereiro de 1975, pelo bispo Bernhard Stein e ainda não foi completado em nível diocesano”.
Depois do comunicado da diocese de Trier, em uma carta publicada em 08 de julho, o padre Juan Pablo Catoggio, da Presidência-Geral de Schoenstatt, destacou que “compreendemos que a família de Schoenstatt em todo o mundo aguarda de nós iniciativas que respondam a muitas perguntas justificadas, desconcertos e exigências de transparência”.
“Com razão esperam vocês que a história do padre Kentenich, a história de Schoenstatt, a história das Irmãs seja elaborada de maneira mais aberta e mais transparente e seja comunicada à Família de Schoenstatt. Reconhecemos que retivemos algumas coisas durante muito tempo, em consideração e proteção a pessoas e comunidades”, disse.
“Deus fala através dos acontecimentos. Com fé na Divina Providência compreendemos que devemos aprender algo novo. Mediante as perguntas e as críticas, Deus nos quer fazer progredir, quer nos fazer crescer”, acrescentou.
O padre Catoggio disse também que “de nossa parte daremos os passos necessários para revisar o material dos arquivos que estão acessíveis”.
“Estamos convencidos de que este trabalho de esclarecimento em distintos planos colocará a verdade em plena luz e, com isso, possibilitar-se-á uma interpretação objetiva e ampla da pessoa, a forma de atuar e o carisma do padre Kentenich”, apontou.
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Criam novo comitê de historiadores para a causa da beatificação do fundador de Schoenstatt - Instituto Humanitas Unisinos - IHU