12 Fevereiro 2020
As notícias fragmentadas sobre o coronavírus, acompanhadas por distorções midiáticas pós-modernas e por atávicas reações de terror, geram uma grande incerteza.
O comentário é de Piergiorgio Cattani, publicado por Trentino, 07-02-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sabe-se pouco ou nada sobre os contornos reais da doença que deveria ser comparável a uma pneumonia aguda de origem viral. Os chamados números “oficiais” não nos explicam muita coisa: enquanto eu escrevo, estão contabilizados 28.344 contagiados (99% deles na China), dos quais 565 morreram e 1.286 se recuperaram. Dos outros 26 mil aproximadamente, não se conhecem as condições.
Na Itália, os únicos dois infectados estão em terapia intensiva. Segundo esses dados, a incidência de mortalidade é alta. Mas são suposições. As notícias do isolamento do vírus (que ocorreu em laboratórios em vários países do mundo, não apenas nos italianos) ou o anúncio chinês, depois minimizado pela OMS, de medicamentos que podem desacelerar (derrotar?) o famoso vírus também são exageradas.
O alarmismo faz todo o resto. O pesadelo da pandemia de uma doença desconhecida é recorrente no imaginário apocalíptico contemporâneo. Junto com o colapso climático e com o perigo de uma guerra nuclear, ele domina os nossos medos inconscientes diante do futuro.
A patologia incurável, ou muito difícil de curar, que surge repentinamente não se sabe por que, contrapõe-se perfeitamente com os fundamentos, mais ou menos ilusórios, sobre os quais se sustenta a nossa mentalidade coletiva e, portanto, a sociedade, a economia, as relações internacionais.
Estamos convencidos da onipotência da ciência. E da medicina. Cujo horizonte, por causa da afirmação de uma visão materialista do corpo e da mente (vejam-se as neurociências), aumentou desmedidamente: agora, acreditamos que não existe apenas o remédio resolutivo de todas as doenças, mas também a pílula do bom humor, da tranquilidade, da excitação, da inteligência, pois tudo é uma questão de enzimas, hormônios, proteínas, genética. Se eles dizem: “O remédio não existe”, não sabemos o que fazer, e por isso ficamos interditados.
Em segundo lugar, a organização atual do mundo se baseia na precisão cronológica, em tempos pré-estabelecidos, em projetos detalhados que abrangem um amplo período de tempo. Assim, acreditamos que somos donos do tempo, mais seguros da nossa vida.
Damo-nos conta de que não é assim, que o imprevisto, também em relação à saúde, está ao dobrar da esquina: mas são sensações individuais que tentamos esquecer rapidamente. Os problemas surgem quando essas sensações de precariedade se tornam coletivas e começam a aparecer na boca de todos, com consequências muito graves em nível geral.
Por enquanto, o coronavírus está causando mais danos econômicos e sociais do que sanitários (pelo menos entre nós).
Algo nos escapa, algo sempre escapará da luz deslumbrante da racionalidade. Devemos nos dar conta dessas zonas de sombra de um progresso que ainda acreditamos que é o incontestável destino da história. É inevitável que evoluamos para o melhor...
Infelizmente, isso é falso. A existência humana continuará sendo uma batalha contínua com a “natureza” de memória leopardiana. Hoje, porém, sabemos que a Terra não é uma massa informe e um contêiner inesgotável de recursos a serem explorados, mas é um organismo vivo, repleto de outros organismos entre os quais nós também estamos.
Portanto, se, por um lado, devemos nos defender da “natureza” (porque os vírus são componentes naturais do mundo), por outro devemos fazer uma nova aliança com o ambiente, considerando-o como algo vital, como um suporte indispensável para a nossa própria sobrevivência.
Talvez a questão do coronavírus também possa nos ajudar a nos dar conta da nossa fragilidade e da nossa interdependência.
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O coronavírus e a questão ambiental - Instituto Humanitas Unisinos - IHU