11 Novembro 2019
Em “Wounded Shepherd” [Pastor ferido], Austen Ivereigh descreve como o Papa Francisco tem enfrentado rebeliões e uma “tempestade de críticas”.
A reportagem é de Ruth Gledhill, publicada por The Tablet, 09-11-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os bispos dos Estados Unidos lançaram um ataque surpreendente ao principal comentarista católico e biógrafo papal do Reino Unido, Austen Ivereigh, devido ao seu último livro sobre o papa.
Ivereigh instantaneamente refutou os bispos e disse que os prelados estavam rejeitando um relato dos eventos nos EUA em 2018 que o seu novo livro, “Wounded Shepherd”, sobre o papado do Papa Francisco e a sua “luta” para converter a Igreja Católica, nunca ofereceu, na realidade.
Ivereigh revela que as autoridades eclesiais nos EUA elaboraram planos para julgar os bispos por abuso, esperando que o Papa Francisco e o Vaticano os aceitariam como “fato consumado”. Dom Brian Bransfeld, secretário geral da Conferência dos Bispos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês), e o Mons. Ronny Jenkins, decano de Direito Canônico da Universidade Católica dos EUA, elaboraram propostas para um código de conduta para os bispos e para que comissões lideradas por leigos pudessem julgá-los.
A proposta, conhecida como proposta “Bronny”, foi projetada como uma reforma para reconstruir a credibilidade desgastada da Igreja. No entanto, quando foi estudada em Roma, ficou decidido que ela violava as leis e tradições católicas de que os bispos só podem ser julgados pelo papa. Ivereigh argumenta que a característica mais preocupante do plano de Bransfield-Jennings era a tentativa de fazer uma jogada de poder eclesiástica contra o papa, que, na verdade, era uma solução rápida que tentava resguardar a reputação dos bispos dos EUA.
Em uma declaração no site da Conferência dos Bispos dos EUA, James Rogers, porta-voz dos bispos, resiste fortemente ao relato de Ivereigh. Fontes próximas aos bispos indicaram que alguns bispos já estão tomando distância da declaração, que, segundo especialistas, é mais precisamente a iniciativa do secretariado executivo da Conferência do que da Conferência como um todo.
No entanto, a declaração se apresenta ostensivamente em nome da Conferência Episcopal e faz repetidas referências à Conferência. Rogers diz que o livro de Ivereigh perpetua uma ideia “infeliz” de que houve resistência ao papa entre a liderança e a equipe da Conferência dos Bispos dos EUA. Ele acusa Ivereigh de menosprezar o secretário geral e um consultor da comissão de assuntos canônicos “particularmente ao sugerir que eles redigiram documentos em outubro que foram deliberadamente excluídos por Roma”.
Rogers explica que, em agosto, o cardeal Daniel DiNardo começou a convocar os bispos para consultas sobre medidas para fortalecer o já efetivo programa de proteção promulgado pela Carta de Dallas. No início de setembro, essas consultas haviam se cristalizado sob a forma de esboços emergentes sob a direção da comissão executiva e com a colaboração de várias comissões, e apoiados pelo secretariado da doutrina e pelo escritório de assessoria geral.
Ele insiste que se pretendia que as propostas não ultrapassassem a fronteira da autoridade da Santa Sé, e que a comissão leiga baseada na participação voluntária de bispos compilaria relatos substanciais de abuso a serem entregues diretamente ao núncio apostólico nos EUA, com o devido respeito às “leis de denúncia civilmente exigidas”.
Ele acrescenta: “A decisão do cardeal DiNardo de adiar a votação dessas propostas em novembro de 2018 é um sinal claro da colaboração dele e de seus bispos e de obediência ao Santo Padre. Quando o Papa Francisco anunciou a nova lei universal da Igreja que estabelece um programa mundial de proteção, o cardeal DiNardo apoiou fortemente as medidas e agiu rapidamente para garantir que as propostas da Conferência estivessem prontas para votação em junho deste ano e fossem complementares ao próprio programa do Santo Padre. A agenda de junho avançou sem a objeção da Santa Sé. Devido às ações decisivas do Papa Francisco e da Conferência dos Bispos dos EUA, a Igreja é um lugar mais seguro para crianças e adultos em situação vulnerável”.
Em resposta à declaração, Ivereigh disse à The Tablet: “É uma declaração defensiva que de forma alguma contesta os fatos sobre os quais o meu relato se baseia, enquanto procura dar uma interpretação alternativa desse relato. Eles começam afirmando que eu ‘perpetuo o mito de que o Santo Padre encontra resistência entre a liderança e a equipe da Conferência dos Bispos dos EUA’. Mas em nenhum lugar eu falo sobre a resistência deles ao papa, apenas que a comissão executiva da USCCB planejou, para fins de relações públicas, levar o Vaticano a aceitar medidas sobre as quais o Vaticano não havia sido consultado, apesar de essas medidas serem incompatíveis com a lei universal da Igreja”.
Ivereigh continuou: “A declaração oferece um relato de como a comissão executiva da USCCB viu o processo, mas em Roma – como o meu relato mostra – eles viram isso de um modo muito diferente. O meu relato se baseia principalmente em uma notável carta ao cardeal DiNardo do cardeal Ouellet, em nome do secretário de Estado, cardeal Parolin. Eles se sentiram obrigados a pedir a DiNardo para não prosseguir com a votação, lembrando que a USCCB não podia simplesmente seguir o seu próprio caminho e ignorar a lei universal da Igreja. Assim como na carta de Ouellet, eu me baseio em fontes autorizadas que explicaram o contexto e o pano de fundo para mim. A declaração da USCCB diz que eu ‘afrontei’ Dom Brian Bransfield e o Mons. Ronny Jenkins ao dizer que eles pretendiam excluir de Roma os documentos que eles elaboraram, mas é exatamente isso o que as minhas fontes disseram que aconteceu. O cardeal Ouellet escreveu a sua furiosa carta apenas depois de ser avisado de que era exatamente isso que Bransfield e Jenkins estavam fazendo”.
Antes, ele havia tuitado: “Uma declaração cuidadosamente construída, embora defensiva, que não contesta os fatos do relato que eu faço em #woundedshepherd, mas se foca em rejeitar uma interpretação desses fatos (o secretariado da USCCB em desacordo com o papa) que eu realmente nunca fiz”.
Na próxima semana, de 11 a 14 de novembro, a Conferência dos Bispos dos EUA realiza sua plenária anual em Baltimore. A prioridade da sua pauta é a eleição de novas autoridades. O atual vice-presidente da Conferência, o arcebispo José Gomez, de Los Angeles, deve subir para o primeiro lugar. Ele será o primeiro mexicano-americano a liderar a Conferência. A disputa pela vice-presidência está em aberto, com o arcebispo Paul Coakley, de Oklahoma City, o arcebispo Jerome Listecki, de Milwaukee, e o arcebispo Allen Vigneron, de Detroit, considerado o mais provável de vencer.
Os bispos também planejam votar materiais suplementares para o guia de votação quadrienal, “Faithful Citizenship”. No ano passado, os bispos votaram pela manutenção do documento subjacente, publicado em 2007, embora não contivesse nenhum ensinamento social dos papas Bento XVI ou Francisco. Eles decidiram produzir uma nova introdução e alguns vídeos, cujo conteúdo deve ser aprovado pelos eles.
Os bispos também ouvirão um relatório sobre o V Encuentro de líderes hispânicos e suas prioridades e planos para o próximo ciclo.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Bispos dos EUA atacam autor britânico devido a livro sobre o papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU