09 Outubro 2019
Francisco fez uma pausa nos árduos trabalhos do Sínodo da Amazônia para presidir a audiência pública de quarta-feira. Frente a dezena de milhares de pessoas (especialmente os barulhentos de língua espanhola), o Papa falou da figura de Saulo, depois Paulo. “Um homem que quer destruir a Igreja, e que depois será o instrumento de Deus para anunciar o Evangelho”.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 09-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Saulo sai à caça dos cristãos”, apontou o Papa, olhando a muitos dos assistentes à audiência, vindo de todos os cantos do mundo. “Vocês, que vêm de povos perseguidos pelas ditaduras, compreendem bem o que significa ser povo caçado. Assim fazia Saulo, o fazia pensando que servia à lei do Senhor”.
Um Saulo que “ameaçava sempre os discípulos. Nele há um sopro de morte, não de vida”. O jovem Saulo, acrescentou Francisco, “é um intransigente, um intolerante para quem pensa diferente dele. Absolutiza a própria identidade política ou religiosa, e leva ao outro a ser um inimigo a combater. Para ele, a religião era uma ideologia: ideologia religiosa, social e política”. Algo muito comum, também na Igreja de hoje.
Assim atuava o jovem Saulo, crendo que era o que Deus queria. “Somente depois de ser transformado por Cristo, ensinou que a verdadeira batalha é contra o espírito do Mal, e ensinou que não se deve combater às pessoas, mas sim ao Mal que inspira suas ações”, explicou.
Porque “Saulo era raivoso, conflitivo, nos convida a nos interrogar. Como vivo minha vida de fé? Vou ao encontro dos demais ou somente contra os demais? Pertenço à Igreja universal, ou tenho uma ideologia seletiva? Adoro a Deus, ou adoro às fórmulas dogmáticas? A fé em Deus, me faz amigo ou hostil para quem é diferente de mim?”. Muitas perguntas, muito atuais também hoje.
Tudo muda quando Jesus aparece a ele: “Saulo, porque me persegues?”. E o recorda que “golpear a um membro da Igreja é golpear ao próprio Cristo”. Também hoje: “são ideólogos que querem a ‘pureza’ da Igreja”.
Depois do encontro com Cristo, tudo muda, e se dá “a ressurreição de Saulo a Paulo. Paulo recebe o batismo” e começa “uma nova vida, com um olhar novo sobre Deus, sobre si mesmo e sobre os demais, que de inimigo se convertem em irmãos em Cristo”.
“Pedimos ao Padre que nos faça experimente o impacto de seu amor que somente pode fazer de um coração de pedra um coração de carne, capaz de acolher em si os mesmos sentimentos de Cristo”, concluiu.
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Francisco denuncia os ideólogos que “querem a pureza da Igreja” e acabam por “golpear o próprio Cristo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU