31 Agosto 2019
Se a floresta tropical da Amazônia é crucial para conter o aquecimento global – como um pulmão que ajuda o planeta a respirar –, então os incêndios florestais que queimam agora a região amazônica da América do Sul podem ser comparados a um câncer de pulmão, uma ameaça à vida.
O editorial é da revista The Tablet, 31-08-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nada poderia ser mais alarmante, portanto, do que o fato de os líderes dos dois Estados mais envolvidos, Brasil e Estados Unidos, serem ambos negacionistas das mudanças climáticas. Os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump se recusam a aceitar que o planeta está doente e desprezam desdenhosamente os esforços internacionais para curá-lo.
O governo brasileiro rejeitou a oferta de 22 milhões de dólares [cerca de 91 milhões de reais] dos países do G7, acordada na cúpula realizada pelos franceses em Biarritz, dizendo que isso cheira a colonialismo. No entanto, o Brasil recentemente reclamou que não possui recursos suficientes para combater os milhares de incêndios que estão ocorrendo agora.
Existem outros destinos possíveis para o dinheiro, é claro, como a Bolívia, onde a sua porção de floresta amazônica também está ameaçada por incêndios em larga escala, queimando fora do controle. O gesto do G7 poderia ser mais realista e mais convincente se a quantia oferecida fosse 10 vezes maior – pois isso seria mais próximo de um pacote de ajuda que correspondesse à escala do desastre.
Essa crise é quase inteiramente provocada pelo ser humano. Assim que a floresta é queimada, a terra pode ser preparada para a agricultura. O gado pode pastar nela, mas, ainda mais significativamente, a soja geneticamente modificada encontra um enorme mercado nos Estados Unidos, onde é usada para alimentar o gado de corte e leiteiro. Após o processamento, a soja também é usada diretamente para consumo humano. A derrubada de florestas e o cultivo de soja são ameaças sérias à biodiversidade.
O Brasil tem leis para controlar e restringir o desmatamento, mas o governo Bolsonaro incentivou tacitamente a ilegalidade, a corrupção e os abusos disseminados. A exploração comercial da terra muitas vezes leva à violência.
Governos sucessivos demonstraram pouca preocupação com o bem-estar das tribos indígenas que habitam a floresta tropical e que a entendem melhor. Elas são os guardiões naturais desse tesouro global único de vida vegetal e animal e precisam da solidariedade do restante do mundo para sobreviver.
O Sínodo Amazônico de outubro, convocado pelo Papa Francisco, deveria permitir que isso seja demonstrado, apesar de correr o risco de ser tragado pela fumaça e pelas chamas dessa crise imediata.
O aquecimento global é um fato científico, envolvendo a captura de calor na atmosfera pelos gases de efeito estufa. A Floresta Amazônica desempenha um papel vital na absorção de alguns desses gases. Em pouco tempo, haverá um ponto de virada crítico em que o processo não estará mais em equilíbrio, e o clima começará a se desestabilizar. Ninguém sabe ao certo o que acontecerá, mas certamente serão más notícias para a raça humana.
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O Sínodo da Amazônia deve se pronunciar sobre os incêndios florestais, afirma editorial de revista inglesa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU