06 Junho 2019
O cardeal Walter Kasper dá uma no cravo e outra na ferradura. O presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos descartou por completo a ordenação de mulheres, já que ao adotá-la a Igreja se situaria fora de uma tradição milenar que reserva o sacerdócio apenas para os homens, ao mesmo tempo que abriu a porta para a ordenação de homens casados.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 04-06-2019. A tradução é de André Langer.
“Com base no Novo Testamento, há uma tradição ininterrupta não só na Igreja Católica, mas em todas as Igrejas do primeiro milênio, segundo a qual a ordenação e a consagração são reservadas apenas aos homens”, disse Kasper ao jornal Frankfurter Rundschau, de acordo com o sítio da internet dos bispos alemães, katholisch.de.
Mas, embora haja “pouco movimento atualmente” em relação inclusive ao diaconato feminino – depois que o Papa Francisco colocara um freio na ideia no voo de volta de sua recente viagem à Bulgária e à Macedônia –, ainda há coisas que a Igreja pode fazer e deve fazer para reconhecer a contribuição das mulheres, sem a qual qualquer diocese ou paróquia “entraria em colapso amanhã”, destacou Kasper.
“Parece-me mais importante que hoje – agentes de pastoral e ministras, assistentes da comunhão e professoras, na Caritas e na catequese, na teologia e na administração – façam dez vezes mais do que faziam as diaconisas”, observou o cardeal alemão, que considerou “importante” que se torne este serviço mais visível e que seja reconhecido publicamente.
A Igreja deve responder às legítimas demandas das mulheres por mais protagonismo e “dar os passos possíveis o mais rápido possível” às suas demandas, defendeu, enfatizando, por outro lado, que a solução não passa por greves eucarísticas como a da Campanha “Maria 2.0”, as organizadoras que o cardeal criticou por “instrumentalizar a Santíssima Virgem Maria”.
Embora Kasper, desse modo, tenha jogado água fria sobre a possibilidade de a Igreja ordenar mulheres, não fez o mesmo com relação à ordenação de homens casados. Precisamente porque o celibato obrigatório, ao contrário do sacerdócio masculino, é uma mera disciplina que a Igreja adotou, razão pela qual pode ser alterada pelo Papa, e isso talvez já no próximo Sínodo para a Amazônia, em outubro deste ano.
“Se os bispos concordassem por consentimento mútuo ordenar homens casados – os chamados viri probati –, na minha opinião, o Papa aceitaria”, explicou Kasper, já que “o celibato... não é um dogma, não é uma prática inalterável”. “Sou, pessoalmente, muito favorável a manter o celibato como modo de vida obrigatório com um compromisso indiviso à causa de Jesus Cristo, mas isso não exclui que um homem casado possa realizar um serviço sacerdotal em situações especiais”, concluiu o cardeal.
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“Se os bispos pedissem padres casados, o Papa aceitaria”, afirma cardeal Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU