07 Março 2019
Permanecerá pelo menos mais três meses na prisão, o cardeal australiano George Pell, à espera que o tribunal julgue o recurso do alto prelado, ex "ministro da economia" da Santa Sé, contra a sua sentença em primeira instância por abusos sexuais contra menores.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 06-03-2019.
As próximas audiências foram marcadas para 5 e 6 de junho, conforme anunciado por um porta-voz do próprio Tribunal de Apelação. Enquanto isso, em 13 de março, o juiz Peter Kidd do tribunal de Victoria divulgará a sentença de condenação de dezembro, mas que se tornou pública em 26 de fevereiro último, que reconhece o cardeal culpado de cinco crimes pelos quais pode somar até cinquenta anos de reclusão. Trata-se de atos obscenos realizados com ou diante de menores e abusos sexuais de dois menores de 12 e 13 anos (um dos quais morreu de overdose). Os eventos teriam ocorrido em 1996, na sacristia da igreja de São Patrício, em Melbourne, onde Pell havia há pouco se estabelecido como arcebispo, depois de uma missa dominical.
As circunstâncias são consideradas pouco credíveis pela equipe de advogados de Pell, da qual não participa mais Robert Richter - investido nos últimos dias por polêmicas pela frase sobre "vanilla sex" - que declara deixar, depois de anos, sua função antes do envio do recurso porque "nesta fase eu não tenho objetividade suficiente" para continuar no caso. "Estou muito incomodado com essa sentença, que é cruel. Acredito que Pell seja inocente e, ao invés disso, foi condenado. Não é uma experiência comum" declarou à imprensa australiana.
Da mesma opinião são muitas pessoas na Austrália que, contrapondo-se à massiva campanha da mídia contra o cardeal, falam de um "processo com vícios" considerando impossível que o então Arcebispo, geralmente acompanhado por seu cerimoniário, pudesse estuprar dois garotos em uma sala com a porta aberta, enquanto passavam outros membros do coro e a catedral estava lotada de fiéis.
Os advogados argumentam que, de fato, o júri não conseguiu estabelecer a culpa do ex-prefeito da Secretaria da Economia "acima de qualquer dúvida razoável", enquanto os magistrados basearam-se nas palavras de um único acusador e mais de vinte testemunhas deram "provas indiscutíveis à defesa".
Uma das duas vítimas, como mencionado, morreu de overdose em 2014. De acordo com os pais, especialmente o pai, que anunciou planos para dar entrada a um processo de indenização tanto contra o Cardeal como contra a Igreja católica, o garoto tinha caído no túnel das dependências justamente em decorrência do trauma da adolescência.
Os advogados também apontam aquela que, na sua opinião, é uma "irregularidade fundamental, ou seja, o fato de que a Pell não foi concedido declarar-se "não culpado" diante do júri e, assim, demonstrar a sua inocência.
Agora a decisão passa à Corte a quem cabe decidir se o recurso é admissível e se será necessário julgar ainda o cardeal de 77 anos, figura da referência do setor conservador da Cúria Romana, representante daquela oposição "moderada" a algumas novidades do pontificado Francisco, a quem, no entanto, sempre assegurou seu respeito.
Ele já está há mais de uma semana atrás das grades da Assessment Prison de Melbourne. "Vive este momento com fé, recolhido em oração", relatam ao Vatican Insider pessoas próximas a ele. Pell havia sido preso depois que a County Court de Melbourne, na conclusão de uma "plea hearing", uma audiência pré-sentença de acordo em que os advogados das duas partes apresentaram as argumentações finais, que havia revogado a liberdade sob fiança de que usufruía desde dezembro por motivos principalmente de saúde.
A respeito do caso Pell, oito dias após a publicação da sentença, levantou-se agora a voz da Conferência Episcopal da Austrália que, através do Presidente Anthony Fisher, arcebispo de Sydney, afirma estar comprometida “com a verdade e a justiça”. Nenhum comentário específico, no entanto, sobre o conteúdo das acusações e a sentença até o recurso.
Em um comunicado, Fisher, reiterando o mal causado pelos abusos na Igreja e a proximidade com as vítimas, pede aos católicos fortemente abalados com o processo judicial para não serem "demasiado rápidos em julgar a situação" porque "poderemos acabar nos juntando a demonizadores ou apologistas, a aqueles que buscam o sangue ou a aqueles que o negam".
"O processo legal referente ao cardeal ainda não está completo, então não irei fazer comentários", afirma o bispo na nota. "Exorto as pessoas a não tirarem conclusões definitivas até que os juízes de apelação tenham tido a oportunidade de reexaminar a questão. Entre as inflamadas emoções do presente, rezo também pela calma e pela civilidade do público".
Mas sobre o cardeal Pell está despencando mais uma acusação. Segunda-feira um homem de cinquenta (que deseja permanecer anônimo) o citou em juízo alegando ter sido molestado pelo prelado, na época sacerdote, em uma piscina em Ballarat, sua cidade natal, na década de 1970.
A acusação não é nova: segundo a suposta vítima, parece que Pell tenha se aproveitado dos mergulhos e outras brincadeiras na água para tocá-lo nas partes íntimas. O cardeal sempre rejeitou a acusação. E na semana passada, os promotores haviam retirado as acusações penais contra ele relativas àquela década, anulando o segundo processo que deveria começar em meados de março. O homem teria que testemunhar, e o fato de que o processo tenha sido cancelado o "devastou", afirma seu advogado Lee Flanagan, "ele diz que está acontecendo uma grave injustiça".
Esse é o motivo que promete, portanto, a abertura de um novo processo civil.
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Pell permanece na cadeia, o recurso está marcado para junho. Enquanto isso, o advogado renuncia: "Sentença cruel" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU