18 Dezembro 2018
No chamado “Corredor Seco”, que vai do sul do México até o Panamá, secas que normalmente não excediam 20 dias agora duram mais do dobro; estudo aponta que jovens de áreas rurais com até 24 anos formam maior parte de migrantes da região.
A reportagem é publicada por ONU News, 13-12-2018.
A cidade de Katowice, na Polônia, recebe a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP24. Líderes mundiais trabalham num plano coletivo para colocar em ação os compromissos assumidos por todos os países do mundo em Paris, em 2015.
Bem distante do continente europeu, comunidades do chamado “Corredor Seco”, na América Central, convivem diariamente com os efeitos provocados pelo tema central da conferência.
Na região, que vai do sul do México até o Panamá, as cores predominantes no cenário são o amarelo e o marrom. A terra é ressecada e nas plantações de milho é possível ver pequenas espigas murchando sem terem se desenvolvido completamente.
Para os moradores da região a mudança climática já é real e segundo o Programa Mundial dos Alimentos, PMA, a escolha que restou foi a de se adaptar à mudança do clima ou partir.
Na região, as espigas de milho significam vida para os agricultores. Mas as plantações, assim como as de outros produtos básicos como o feijão, dependem da chuva e nos últimos anos, ela não chega com a frequência necessária.
De acordo com o PMA, com a combinação do El Niño, períodos de seca que normalmente duravam 20 dias agora chegam a 50 dias. Em 2018, a quantidade de chuva mais baixa do que as médias para os meses de junho e julho levaram a perdas de 280 mil hectares de feijão e milho, afetando mais de 2 milhões de pessoas de Guatemala, El Salvador e Honduras.
O monitor de campo do PMA na área, Marco António Mérida, explicou que a “seca prolongada pode levar a perdas de até 100%” das plantações. Para piorar a situação, o mês de outubro trouxe enchentes fatais e desabamentos de terras provocados por tempestades tropicais.
O PMA aponta que os eventos extremos se tornam mais frequentes e intensos, e em combinação com os efeitos da degradação da terra e da infestação de pragas, estão deixando a vida ainda mais difícil nas comunidades rurais do Corredor Seco. Sem comida suficiente para alimentar as famílias, muitos estão deixando as terras.
O agricultor Héctor Ramírez, de 50 anos, perdeu toda a plantação que tinha na Guatemala e teve que ir procurar trabalho no norte do país. Ele contou que foi “triste deixar para trás as crianças e a esposa, mas que não teve escolha porque precisava ganhar o pão de cada dia.”
Um estudo de 2017, publicado pelo PMA, analisou dados de migrantes de El Salvador, Guatemala e Honduras que tentavam chegar aos Estados Unidos, mas que foram forçados a retornar pelas autoridades mexicanas. A pesquisa constatou que 50% deles trabalhavam no setor agrícola antes de decidirem deixar suas casas.
A agência da ONU destaca que ao contrário da percepção comum que a migração nestes países é gerada pela violência e insegurança, 65% dos entrevistados citaram o desemprego e as dificuldades econômicas entre as razões para migrarem, e 19% a baixa renda e as más condições de trabalho.
Um outro estudo apresentado esta semana em Marrocos, durante a conferência que adotou o Pacto Global para Migração Segura, Ordenada e Regular, destaca que os jovens com menos de 24 anos de áreas rurais da região formam a maior parte dos migrantes da América Central.
O Atlas para Migração no Norte da América Central indica que entre os anos de 2000 e 2012, o número de pessoas dos países da área que passaram a viver num local diferente de onde eles nasceram aumentou em 59%.
O documento foi produzido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, e pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, Cepal.
A secretária Executiva do Cepal, Alicia Bárcena, apontou que “hoje a migração é mais complexa do que nunca na América Central.” A comissão destacou que a pobreza, o desemprego, os fatores familiares, a violação de direitos, a violência, o crime e a vulnerabilidade às mudanças climáticas estão entre as principais causas da migração na América Central.
Bárcena acrescentou que “em Honduras, o porcentual da população rural que vive na pobreza é de 82%, na Guatemala 77% e em El Salvador 49%.”
Para o PMA, as negociações que ocorrem na COP24 são extremamente importantes para as comunidades no mundo, que assim como os habitantes do Corredor Seco são afetadas pela incerteza crescente do tempo que permite com que produzam os alimentos para sobreviver.
Com o apoio da União Europeia e a colaboração dos governos de El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua, o PMA tem ajudado as comunidades a se tornarem mais resilientes à mudança climática. As iniciativas incluem a criação e a recuperação de recursos, além da diversificação de plantações e fontes de renda.
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Mudanças Climáticas definem a difícil escolha entre ficar ou partir na América Central - Instituto Humanitas Unisinos - IHU