08 Dezembro 2018
“Um bispo, de seu palácio, seu trono e seus ornamentos, pode contagiar alguém com a fé na forma de vida e os ensinamentos daquele “menino”, que nasceu na manjedoura de um estábulo e morreu pregado em um pau como um delinquente?”, questiona José María Castillo, teólogo espanhol, em artigo publicado por Religión Digital, 07-12-2018. A tradução é do Cepat.
A insistência de nossos bispos em conseguir que o poder político introduza a aula de religião nos planos de educação, como uma disciplina a mais, ou seja, como uma disciplina obrigatória e com avaliação, assim como as matemáticas ou a história, coloco como exemplo, leva-me inevitavelmente a pensar várias coisas que considero importantes.
Antes de mais nada, que religião os bispos querem que se ensine obrigatoriamente às crianças e aos estudantes? A religião católica e mais nada? E por que não as outras religiões também e de tal forma que cada estudante possa escolher a religião que prefira? É de supor que, caso se considere que o estudo do “fato religioso” é importante na educação pública, isso se faça de maneira que cada estudante se sinta livre para escolher e praticar a religião que preferir. Da vigente Constituição Espanhola, concretamente de seu Art. 16, não se pode deduzir outra coisa.
É claro, o “fato religioso” é importante na vida dos indivíduos e da sociedade. Contudo, nunca deveríamos esquecer que o “fato religioso” é um “fenômeno cultural”. Com isto claro, aqueles que montam os Planos de Estudos deveriam ter presente que aquilo que lhes corresponde é transmitir “cultura”, não impor “crenças”. Tendo em conta que as crenças são importantes na vida de todo ser humano. Mas, o âmbito das crenças corresponde à família e à instituição religiosa a qual cada um pertence. Os mestres e professores são educadores, não pregadores de uma determinada confissão religiosa. Uma coisa é o “saber” e outra coisa é o “crer”.
Não é meu projeto, aqui e agora, começar a explicar o próprio e específico dos “conhecimentos” e o que pertence às “crenças”. Sem dúvida alguma, na vida é importante ter isso claro. Mas, se entramos a fundo nesse assunto, exigiria de nós um tempo e um espaço que excedem em muito o que este artigo dá de si. Haverá outro momento para explicar isso.
De qualquer modo, o que, sim, parece-me importante deixar claro é que tenho a impressão (e suponho que há outras pessoas que concordam comigo neste assunto) que podem existir bispos que ficam mais tranquilos se sabem que nas escolas está sendo ensinada a disciplina de religião às crianças. Com a qual – no melhor dos casos – o que se consegue é que as crianças “aprendam” alguns “conhecimentos”, a respeito dos quais, está muito bem estudado e demonstrado, quase todos os adolescentes se desentendem e desinteressam por completo.
Disse que as crianças, na aula de religião e no melhor dos casos, “aprendem” alguns “conhecimentos” de religião. Não digo que – em regra geral – “integrem em sua vida” algumas “crenças” religiosas. Isto é muito mais incomum. E, além do mais, é um milagre que as crianças se tornem “crentes” quando, na família em que crescem, não se vive as crenças de uma determinada religião, seja qual for.
Conclusão: eu me pergunto se o empenho de bispos, clérigos e famílias para lutar pela aula de religião na escola é ou não é um “tranquilizante” de más consciências, que se sentem melhor se sabem que no “cole” as crianças são educadas “como Deus manda”.
NÃO, amigos meus! O que “Deus manda” é que vivamos (falo dos cristãos) a fé em Jesus e seu Evangelho tão seriamente e com tanta coerência, que essa nossa fé contagie aqueles que vivem conosco ou perto de nós. Por isso, não posso calar o que tantas vezes pensei: um bispo, de seu palácio, seu trono e seus ornamentos, pode contagiar alguém com a fé na forma de vida e os ensinamentos daquele “menino”, que nasceu na manjedoura de um estábulo e morreu pregado em um pau como um delinquente?
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Um bispo, de seu palácio, seu trono e seus ornamentos, pode contagiar alguém com a fé?’. Artigo de José María Castillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU