01 Outubro 2018
O jesuíta alemão Hans Zollner, um dos maiores peritos no tema dos abusos sexuais na Igreja, pediu nesta quinta-feira, em Roma, uma reforma do direito canônico para julgar os bispos abusadores, como solicitam os leigos, religiosos e vítimas.
"O abuso sexual de menores por parte de um acólito é definido de forma muito vaga. Não se especifica (o delito – nota da redação) como ocorre nas leis penais dos outros Estados", explicou o religioso, teólogo e psicólogo, membro da Comissão Pontifícia de Menores criada pelo papa argentino.
A reportagem é publicada por Subrayado, 27-09-2018. A tradução é de Graziela Wolfart.
"Beijar, abraçar, dar elogios, até o estupro são ações específicas (nas legislações dos Estados) às quais corresponde uma punição. Isso não existe na Igreja", acrescentou Zollner, que também preside o Centro para a Proteção de Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana.
"Nesse sentido, é preciso, sim, mudar o direito canônico", enfatizou durante um encontro com a imprensa estrangeira.
O religioso espera que o Papa Francisco tome medidas concretas depois da reunião mundial em fevereiro com os presidentes das conferências episcopais de todos os continentes, convocados para encarar o fenômeno, uma cúpula excepcional que deverá marcar uma reviravolta para a milenária instituição.
"Nós estamos elaborando propostas, temas, questões, que serão escutados e que a organização terá em conta. Estamos no início de um caminho e estou seguro de que nos consultarão", explicou o religioso.
"É preciso recuperar a confiança na Igreja com ações, fazendo justiça, escutando as vítimas primeiro e as ajudando a logo encontrar um caminho na vida", assegurou o religioso, que tem viajado por todo o mundo para falar desse tema.
"É preciso se comprometer de forma consistente e coerente a pôr em prática medidas de proteção. Já sabemos quais são as coisas que mais funcionam, devemos divulgá-las e colocá-las à disposição de todos os grupos que queiram colaborar conosco", defende.
O especialista considera que as "expectativas" sobre a reunião de fevereiro no Vaticano "são justificadas" para que a igreja recupere seu prestígio na sociedade depois dos escândalos de pedofilia que estremecem há 25 anos a instituição.
"A igreja perdeu muita confiança, isso não pode ser calculado nem em metros, nem em quilos. A confiança foi construída durante milênios e agora foi posta em dúvida e destruída por fatos que não são recentes, mas que somente agora se tornaram conhecidos", afirmou.
Para Zollner, que acompanhou, entre outros, os escândalos no Chile, onde 158 pessoas (bispos, sacerdotes ou leigos ligados à Igreja) são ou foram investigados por abusos sexuais contra menores e adultos desde os anos 1960, a América Latina tem a oportunidade de se converter em uma inspiração.
"A igreja na América Latina fez muito pelos pobres, pelos indígenas, poderia desenvolver mais isso e integrar criativamente e espontaneamente a proteção do menor como uma prioridade apostólica, educativa e social", propôs.
"É preciso colocar em primeiro lugar as pessoas mais vulneráveis: os menores de idade", reiterou.
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Jesuíta especialista em temas de abuso sexual pede novas regras para julgar bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU