28 Setembro 2018
"Para o sínodo trazer esperança ao povo de Deus, deve incluir descobertas que ajudem Francisco a dar mais autoridade às mulheres. Caso contrário, a perspectiva negativa superará qualquer declaração que o sínodo faça", escreve Phyllis Zagano, autora e pesquisadora sênior associada na Hofstra University em Hempstead, Nova York, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 22-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Entre os livros de Zagano estão "Women Deacons: Past, Present, Future" (Mulheres Diáconas: Passado, Presente, Futuro - recentemente publicado no Canadá como Des femmes diacres) e "Holy Saturday: An Argument for the Restoration of the Female Diaconate in the Catholic Church" (Sábado Santo: Um Argumento para a Restauração do Diaconato Feminino na Igreja Católica, em tradução livre). Também é autora do artigo Diáconas na Igreja Maronita, publicado na edição 124 do Cadernos Teologia Pública.
Enquanto a Igreja em todo o mundo recua com a onda renovada de abuso sexual, várias centenas de bispos logo se reunirão em Roma para falar sobre os jovens. A perspectiva não é boa.
Não me entendam mal. Dos membros votantes, a maioria - se não todos - são homens íntegros. Apenas um está atualmente sob acusação. Mas, como água pingando em uma pedra, a mesma história - do Chile, da Holanda, dos Estados Unidos, com variações do tema da Índia e da África - está desgastando a paciência das pessoas.
Mas a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos para os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional continuará, desta vez com um novo manual. O Papa Paulo VI criou o Sínodo dos Bispos em 1965. O Papa Francisco acabou de atualizar seus procedimentos e tornou-o uma estrutura permanente com a sua constituição apostólica Episcopalis Communio. Está na hora.
O novo processo sinodal amplia a discussão, que começou a ser permitida sob o Papa Bento XVI. O objetivo é ganhar o que a Episcopalis Communio chama de "unidade moral" na aceitação de um documento final do sínodo, que poderia se tornar parte do magistério ordinário - o ensinamento oficial da Igreja - caso Francisco o aprove.
Quanto a quem criará o documento, a maioria dos delegados votantes são bispos. O grupo representando homens religiosos está enviando dois irmãos - leigos - entre seus 10 delegados votantes (eles quebraram as regras da última vez e na vez anterior elegendo irmãos leigos e ninguém reclamou).
Mas a União Internacional das Superioras Gerais não foi convidada a enviar delegadas votantes, embora os não-bispos possam ser e sejam incluídos. Especificamente, "outros que não são honrados com deveres episcopais podem ser chamados para a assembleia sinodal".
De acordo com o bispo Fabio Fabene, subsecretário do Sínodo dos Bispos, "Quanto as mulheres, elas já estão presentes como observadoras e participam da assembleia sinodal e dos pequenos grupos e têm o direito de falar".
Que avanço! As mulheres têm permissão para falar!
Superiores religiosos homens que não são bispos (incluindo, lembre-se, dois irmãos leigos) são membros votantes. A autoridade das superioras religiosas, especialmente das abadessas de abadias territoriais, não pode ser reconhecida?
Nos tempos medievais, as abadessas tinham direitos equivalentes aos bispos seculares. Uma delas, a abadessa cisterciense da Abadia Real de Las Huelgas, do século XII, na Espanha, tinha apenas o Papa como superior religioso. Durante sete séculos, ela, não o bispo local, concedeu faculdades sacramentais. O Papa Pio IX revogou a autoridade e jurisdição dela e de outras em 1874. Certamente, até o Concílio de Trento, e até depois, algumas abadessas da Suécia, da França e da Itália eram similarmente poderosas.
Para ser justa, é um Sínodo dos Bispos, desta vez para discutir o que fazer em relação aos jovens, e estes contribuíram. O sítio do Sínodo incluiu questionários multilíngues direcionados ao seu público-alvo: pessoas entre 16 e 29 anos de idade. Cada conferência dos bispos reuniu respostas locais e providenciou um relatório. Nos EUA, 100 das 194 dioceses, 25 organizações católicas e vários comitês de conferências episcopais participaram. Essa mistura internacional acabou produzindo o instrumentum laboris do sínodo - seu documento de trabalho.
O documento de trabalho observa que a reunião preliminar do sínodo, de março de 2018, na qual os jovens puderam expressar suas opiniões, encontrou grande distanciamento entre o que a Igreja diz e o que a Igreja faz. Ele afirma que a reunião preliminar "deu atenção específica às formas de discriminação que afetam as mulheres jovens", inclusive na Igreja. "Portanto", continua, "os jovens se perguntam 'quais são os lugares onde as mulheres podem florescer dentro da Igreja e da sociedade?'".
Tradução: os jovens membros perguntaram “do que é que estão falando?”. As mulheres não têm lugar na Igreja Católica.
Está ficando chato. No século XIX, Pio IX aumentou a barreira clerical para os leigos e especialmente sobre as mulheres. Na virada do século XX, os dois últimos cardeais leigos morreram, e os sucessivos Códigos de Direito Canônico legislaram que os cardeais - conselheiros papais - tinham que ser padres (1917) e depois bispos (1983).
Para o sínodo trazer esperança ao povo de Deus, deve incluir descobertas que ajudem Francisco a dar mais autoridade às mulheres. Caso contrário, a perspectiva negativa superará qualquer declaração que o sínodo faça.
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O que podemos dizer sobre o Sínodo dos Bispos? A perspectiva não é boa. Artigo de Phyllis Zagano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU