Há cinco anos o consistório dos cardeais elegeu o novo bispo de Roma, "vindo do fim do mundo". O nome foi significativo. Logo no início, foi a Lampedusa encontrar imigrantes sobreviventes (foto 1). Mais adiante, na Bolívia, reuniu-se com movimentos sociais (foto 3). Simples, a caminho da casa Santa Marta, onde mora (foto2). Hoje é uma referência mundial, a personalidade mais atuante e crítica no planeta. Como bispo de Roma (prefiro isso a dizer papa) é o primaz da Igreja Católica Romana. Tem tomado iniciativas surpreendentes e colocado questões à consciência dos cristãos ("quem sou eu para julgar?").
O comentário é de Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo.
Um perigo: criar-se um mito, um novo tipo sutil de papolatria, que é uma maneira de colocá-lo no alto de um pedestal e, com isso, afastá-lo para cima: com a consciência tranquila de ter um "papa formidável", a Igreja descansa nele ("temos Francisco") e não faz as mudanças indispensáveis. Os problemas que teve no Chile e no Peru mostram-no felizmente vulnerável e sujeito a questionamentos. Sempre pede que rezem por ele. Um passo mais: ajudemos-lhe na crítica a fatos de seu pontificado e, principalmente, à Igreja institucional que, na cúria e nas igrejas locais, tem enorme dificuldade em rever-se em tantos casos de moral anacrônica (ver problemas de sexualidade e reprodução) e diretrizes que serviram em outras épocas (celibato obrigatório, causa de tantos problemas psíquicos e escândalos).
Celebrar Francisco é sermos fieis aos desafios que nos coloca; é trabalhar pelo "aggiornamento" que ficou inacabado desde João XXIII e o Vaticano II. Então, sim, poderemos dar graças ao dom do Espírito que desceu com ele na Igreja Católica Romana.
Papa Francisco em Lampedusa (Foto: Il Giornale)
Papa Francisco caminhando pela rua de Roma (Foto: Slate)
Papa Francisco durante o discurso aos movimentos sociais na Bolívia, 2015 (Foto: L'Osservatore Romano)
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