14 Março 2018
Quem mais o conhece diz que o extraordinário em Francisco é que, ao nível pessoal, não mudou em nada após cinco anos de pontificado. Garante que ele segue sendo o mesmo e que ele “no se la creyó”, como diria ele mesmo em portenho.
A reportagem é de Elisabetta Piqué, publicada por Clarín, 13-03-2018. A tradução é de André Langer.
Mas a verdade é que desde o dia 13 de março de 2013, quando Jorge Bergoglio tornou-se o primeiro papa jesuíta e latino-americano da Igreja católica e iniciou um pontificado marcado por fortes inovações e um retorno à essência do Evangelho, com a atenção colocada nos mais pobres, nos “feridos” de hoje, houve, sim, mudanças em sua pessoa.
No Vaticano, um monsenhor que preferiu não se identificar destacou como uma mudança perceptível o fato de que “o Papa Francisco, apesar de representar um tsunami para a cúria romana, nestes cinco anos também aprendeu vários códigos”, de modo que já não existe mais essa falta de apego ao protocolo que ele teve no início.
“Embora não tenha perdido essa autenticidade e espontaneidade com a qual consegue empatia com os diversos chefes de Estado e de governo de todo o mundo que costumam fazer fila para serem recebidos em audiência”, acrescentou a mesma fonte.
Falando sobre a política exterior, no Vaticano também enfatizam que, nestes cinco anos, “o Pontífice foi pouco a pouco conhecendo em profundidade não apenas as diversas situações políticas do mundo, mas também a situação das diversas dioceses, o que lhe deu mais confiança e audácia na hora de tomar decisões diplomáticas e eclesiais”.
Em um nível mais pessoal, vários analistas destacam a alegria, a proximidade e a paz interior que o Papa transmite atualmente, o que não era perceptível antes da sua eleição.
Na véspera do conclave que elegeu o primeiro papa que decidiu chamar-se Francisco, assumindo o nome do santo de Assis, protetor dos pobres e da natureza, o então arcebispo de Buenos Aires estava com 76 anos e se preparava para se aposentar. Ele já tinha apresentado a sua carta de renúncia, que esperava que Bento XVI aceitasse, e homem metódico e organizado, já tinha reservado o quarto número 13 no térreo da Casa Sacerdotal de Flores, casa onde tinha vivido como vigário dessa localidade portenha.
“Eu lembro que o entrevistei vários anos antes de ser papa, durante um sínodo e, claro, ele era uma pessoa totalmente diferente. Não diria distante, mas também não próxima. Foi uma entrevista puramente profissional que ele cortou o máximo que pôde; foi gentil, mas estritamente formal. E isso foi uma mudança espetacular: como se comporta agora com os jornalistas nas coletivas de imprensa no avião e como ele se comporta com as pessoas, com essa proximidade que naquela época me parece que ele não tinha”, disse ao La Nación Antonio Pelayo, veterano vaticanista e correspondente da Antena Tres TV.
“Lembro que tivemos que correr atrás dele com a câmera porque ele saiu correndo. E isso, acho, é uma mudança, é um estilo que ele assimilou com essa graça de estado que diz que tem, e isso acho que faz as pessoas sentirem-no próximo, próximo de verdade e tenha essa confiança para dizer e contar tudo o que está acontecendo com ele”, disse.
Ele não é o único que destaca como ele mudou seu estilo de comunicação com a mídia.
“Devemos recordar que ele, quando era arcebispo, não gostava de dar entrevistas, da relação com a imprensa. Mas depois da sua eleição, começou a dominar a relação com os jornalistas, a usar as coletivas de imprensa no avião para lançar algumas mensagens, com algumas palavras muito simples e muito claras, e soube organizar os seus colaboradores para se tornar um grande produtor de tuites, com milhões de seguidores”, disse Marco Politi ao La Nación, outro veterano vaticanista, autor, junto com Carl Bernstein, de Sua Santidade: João Paulo II e a história oculta de nosso tempo (Editora Objetiva, 1996), entre outros livros.
Politi também destacou que “Francisco demonstrou acima de tudo uma vitalidade e criatividade incríveis ao assumir e fazer o mundo entender temáticas novas: passou da desigualdade às novas formas de escravidão, das novas formas de escravidão ao problema ecológico, à relação entre degradação social e degradação da natureza, da questão ecológica à questão da relação entre os gêneros, do machismo, dos abusos sexuais ou à questão das falsas notícias. Ou seja, é um líder que continua caminhando, assim como sempre disse que a Igreja deve estar a caminho”.
Finalmente, houve também mudanças físicas: se no começo engordou, porque passou a ter refeições regulares no refeitório da residência de Santa Marta, agora, graças a uma dieta, perdeu peso. E parece rejuvenescido em relação a 13 de março de 2013.
“Francisco é como um bom vinho: melhora a cada ano. Vejo-o tão feliz como no início, mas mais sereno. Com a mesma liberdade interior, mas com mais paz. Com a mesma energia, mas com mais paciência”, disse ao La Nación Juan Vicente Boó, correspondente do jornal espanhol ABC no Vaticano.
“Francisco começou a gostar das viagens e, nestes cinco anos, as fez no ritmo inicial de São João Paulo II, um atleta escolhido com 58 anos”, afirmou Boó, que concluiu: “E uma última mudança nesta lista: dá-me a impressão de que ele está um pouco mais magro”
Francisco recebeu ontem [12 de março] um grande apoio de seu predecessor, Bento XVI, Papa emérito, que destacou, em uma carta, que se opõe “ao preconceito tolo pelo qual o Papa Francisco seria apenas um homem prático, que não possuía formação teológica ou filosófica”. Bento, que desde a sua renúncia ao trono de Pedro em 2013, teve poucas aparições públicas, expressou-se em uma carta que enviou a dom Dario Viganò, prefeito da Secretaria de Comunicação do Vaticano, após receber uma série de 11 livros sobre a Teologia do Papa Francisco, editada pela Santa Sé.
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Cinco anos que deixaram marcas na forma de ser de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU