13 Março 2018
Influências culturais negativas deixaram gerações de jovens confusos, ansiosos e infelizes – situações que a Igreja poderia ajudar a resolver se os jovens não estivessem afastados das instituições católicas. Isso torna o Sínodo dos Bispos sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional extremamente urgente, disseram alguns palestrantes em um congresso na Universidade de Notre Dame.
A reportagem é de Heidi Schlumpf, publicada por National Catholic Reporter, 09-03-2018. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Os participantes do evento “Culturas de Formação” convidaram a Igreja a ser contracultural na resposta às atitudes contemporâneas para com a tecnologia, a sexualidade e aquilo que um palestrante chamou de a “valorização acrítica da diversidade”.
Tiveram uma atenção reduzida no evento de três dias alguns temas sociais, como a imigração e a pobreza; inclusive um pequeno grupo de estudantes de ensino médio se mobilizou e, como disse um bispo, “chamou os adultos à ação” na questão da violência com armas de fogo.
O objetivo do congresso foi examinar as influências culturais que modelam os jovens e como a Igreja pode responder ou “criar culturas nas quais é mais fácil ser católico”, disse o organizador John Cavadini, parafraseando o fundador do movimento Trabalhador Católico, Peter Maurin.
Cavadini é o diretor do McGrath Institute for Church Life, da Universidade de Notre Dame, uns dos apoiadores do congresso juntamente com a Comissão sobre Doutrina, da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA. Mais de 500 acadêmicos, agentes pastorais e cerca de dezenas de bispos participaram do evento entre os dias 5 e 7 de março antecipando o encontro pré-Sínodo em Roma a acontecer no final deste mês e que contará com a presença de 300 delegados católicos jovens, sendo cinco dos EUA. A assembleia dos Sínodo dos Bispos acontecerá em outubro.
Mas mesmo tendo o bispo auxiliar Robert Barron, de Los Angeles, descrito o próximo Sínodo sobre os jovens como sendo “mais importante” do que os sínodos sobre a família, os católicos ainda debatem uma nota de rodapé sobre a Comunhão para os fiéis divorciados e recasados presente no documento saído dos sínodos de 2014 e 2015.
É evidente que essa questão estará sujeita à controvérsia caso os jovens continuem abandonando a Igreja nos índices apresentados em estudos recentes. Mais de um terço (35%) dos jovens da geração millennial (nascidos entre 1981-1996) não possui filiação religiosa, em comparação com os 16% dos pertencentes dessa geração que se identificam como católicos, segundo um estudo de 2015 conduzido pelo Centro de Pesquisas Pew.
Barron disse que o aumento no número dos “sem religião” – pessoas desligadas da religião institucional – é “um indício das nossas estratégias educacionais e catequéticas” e que, ao mesmo tempo, “é um verdadeiro Kairós, um momento privilegiado para se conectar com os jovens (...) um chamado à ação”.
Ele propôs algumas respostas às atitudes demonstradas por muitos jovens de hoje, entre elas o relativismo, a “tolerância branda” da diversidade que cria uma “alergia a tudo o que possui traços de ortodoxia”, o “cientificismo”, que reduz todo o conhecimento ao método científico, e interpretações ingênuas da Bíblia.
Barron criticou o “nivelamento por baixo da nossa fé” ao longo das últimas décadas, incluindo aquilo que considera uma ênfase exagerada no fator emocional e experiencial.
Outros palestrantes, entre eles o crítico de tecnologia Nicholas Carr, advertiram sobre as influências culturais negativas adicionais. O uso em excesso de smartphones tem contribuído para a perda da “mente contemplativa”, disse Carr em sua palestra.
“O que a tecnologia não incentiva é deixarmos de lado as distrações e ficarmos a sós com os nossos pensamentos”, afirmou, acrescentando que as tecnologias de comunicação incentivam os usuários a focar nas novidades, não no que é importante, criando “pessoas medíocres por tanta irrelevância”.
Jessica Keating, da Universidade de Notre Dame, descreveu como a perversidade da pornografia entre os jovens americanos tem influenciado negativamente a capacidade deles de formarem relações, enquanto Abigail Favale, da George Fox University, de Oregon, criticou os paradigmas consumistas e puritanos da sexualidade, em vez de se adotar a “teologia do corpo” católica como uma alternativa.
“Vocês todos estão sentados sobre uma mina de ouro quando se trata da questão do sexo”, disse Favale, ex-evangélica que se converteu ao catolicismo.
O individualismo excessivo e o “afastamento da nossa própria humanidade” foram o foco de outras apresentações por palestrantes que admitiam que estes temas afetavam as gerações além da faixa etária dos 16 aos 29 anos, identificados pelo Sínodo como “jovens e jovens adultos”.
O terceiro dia do congresso voltou-se às formas com que a Igreja pode abordar estas influências culturais, com uma apresentação de Katherine Angulo, diretora associada do ministério jovem para a Arquidiocese de Atlanta, que recebeu aplausos e uma ovação de pé por mencionar a necessidade de recursos, entre eles salários justos, para os que atuam no ministério jovem.
Ângulo disse que a Igreja americana tem realizado um bom trabalho com o ministério junto aos universitários, porém muito pouco tem feito com os jovens secundaristas. Este segundo grupo demográfico é importante, disse ela, na medida em que a idade mediana dos jovens que deixam a Igreja está em 13 anos hoje.
Citando dados de um estudo divulgado recentemente sobre ex-católicos, Ângulo apontou que o último sacramento que os jovens católicos recebem antes de sair da Igreja não é mais a Confirmação, mas a Primeira Comunhão.
Mesmo assim, considerou um dom os “sem religião”, em que eles servem como um espelho para refletir a Igreja para si própria, e desafiou os participantes do congresso: “Cada um de vocês tem o privilégio de passar adiante a fé à próxima geração”.
As oficinas de discussão destacaram ideias práticas, incluído o uso da peregrinação, a tradição monástica ou o serviço como maneiras de se conectar com os jovens e ajudá-los no discernimento vocacional. (O congresso, assim como o Sínodo e seu documento preparatório, empregam a expressão: “os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional”.)
No entanto, a participação foi pequena para um estudo pré-Sínodo sobre os jovens católicos, e os resultados talvez não sejam representativos, disse um cientista social no evento da Notre Dame.
Alguns preocupam-se com que os Sínodos dos Bispos sobre a família – com a polêmica candente em torno da Comunhão aos divorciados e recasados – possa ofuscar o Sínodo sobre os jovens e jovens adultos.
Mas Nicole Perrone, de 26 anos, sente-se animada. Como um dos 300 delegados para o encontro pré-Sínodo, ela participou do congresso representando o movimento Vozes da Fé. Três outros delegados foram escolhidos pelos bispos americanos, enquanto um quinto delegado irá representar as igrejas de rito oriental.
“Os jovens anseiam a autenticidade e temem a vulnerabilidade”, disse Perrone, que trabalha como diretora de formação religiosa adulta para a Diocese de Hartford, em Connecticut. “E é a autenticidade que, na verdade, traz à mesa as pessoas sobre as quais estamos conversando”.
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Jovens vistos como crise urgente em congresso pré-Sínodo na Universidade de Notre Dame - Instituto Humanitas Unisinos - IHU