02 Março 2008
Nicholas Carr é conhecido como um dos gurus da tecnologia e também por sintetizar suas idéias em poucas palavras. Há pouco “mexeu” com a área da tecnologia da informação (TI) do mundo todo por publicar um artigo em que afirmava que “TI não importa”, que esse campo tinha se tornado um commodity (mercadoria). Na entrevista que segue, concedida com exclusividade à IHU On-Line, por e-mail, Nicholas fala sobre essa teoria relacionada à produção social na internet. “Softwares continuarão a tomar o lugar de trabalhadores enquanto as companhias buscarem maior produtividade. A questão é: veremos a criação de um grande número de novos empregos bem remunerados para compensar as perdas? Até agora, não vimos, mas temos visto a habilidade de computadores em rede de mudar a demanda de trabalho, freqüentemente em benefício de regiões com baixo nível salarial”, declara.
Nicholas Carr foi editor executivo da revista Harvard Business Review e, atualmente, alimenta o blogue `Rough Type`. É autor de obras como Does IT Matter? (2004) e The big switch: rewiring the world form Edison to Google (2007), ambos ainda sem tradução para o português.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Segundo sua teoria, a tecnologia da informação não importa. Dentro da produção social que a internet proporciona, o que realmente importa para a sociedade atual?
Nicholas Carr - O que expliquei em meu trabalho anterior é que a tecnologia da informação perdeu a maior parte de sua habilidade de fornecer uma companhia [empresa] com vantagem competitiva. Isto certamente tem importância de outras formas, claro. A produção social fornece um importante meio para que as pessoas se expressem ou para que trabalhem juntas produzindo bens. Ao mesmo tempo, fornece um consórcio de trabalho autônomo que pode ser explorado pelas corporações. Preocupo-me com o fato de que isso possa sabotar algumas profissões.
IHU On-Line – Por que o senhor sustenta a tese de que o mercado de trabalho de tecnologia da informação ruma para uma ruptura colossal?
Nicholas Carr - Softwares continuarão a tomar o lugar de trabalhadores enquanto as companhias buscarem maior produtividade. A questão é: veremos a criação de um grande número de novos empregos bem remunerados para compensar as perdas? Até agora, não vimos, mas temos visto a habilidade de computadores em rede de mudar a demanda de trabalho, freqüentemente em benefício de regiões com baixo nível salarial.
IHU On-Line - Muitas resenhas sobre seu livro discordam da idéia de utility computing. Elas observam que os grandes fornecedores não oferecem nada próximo de sua visão. Você, porém, enfoca operadoras na internet como Google e Amazon. Você acredita que esta mudança tem que começar na internet e, neste caso, qual é o motivo?
Nicholas Carr - Penso que a maioria das críticas concordam com meu argumento de que estamos vendo uma mudança em direção ao suprimento utilitário de capacidade de tecnologia da informação, particularmente para indivíduos e pequenos negócios. Até os grandes provedores de tecnologia da informação, como IBM, HP, SAP, Oracle, Microsoft, e Sun, estão todos rapidamente mudando para a cloud computing (1) [no Brasil, “Computação Distribuída”]. A transição levará muitos anos. Não acontecerá do dia para a noite.
IHU On-Line - Muitas empresas talvez descartem utility computing porque não querem seus dados nas mãos de terceiros. Como esta e outras preocupações com privacidade se encaixam no futuro que o senhor está descrevendo?
Nicholas Carr - As companhias rotineiramente compartilham informações sensíveis com parceiros. Assim que os provedores utilitários consigam conquistar a confiança dos clientes, essa questão desaparecerá.
IHU On-Line – A Web 2.0 é uma receita de inovação e integração para produção social realizada pelas empresas e instituições? Qual sua avaliação sobre a Web 2.0?
Nicholas Carr - A Web 2.0 mostra o poder do modelo utilitário. Trata-se de prover software e dados pela Internet em vez de por HDs dos computadores.
IHU On-Line – E qual é a sua percepção sobre a influência das obras de Yochai Benkler em relação à produção social na internet mundial?
Nicholas Carr - O livro de Benkler é uma introdução muito boa à produção social, mas acredito que suas conclusões sejam deslumbradas(3).
Notas:
(1) Segundo o site da IBM, Cloud Computing é "um termo para descrever um ambiente de computação baseado em uma rede massiva de servidores, sejam estes virtuais ou físicos (cloud)”, ou seja, um sistema onde vários servidores trabalham em um mesmo processamento agilizando a tarefa. (N. da T.)
(2) Utility computing, ou computação utilitária, como é chamada no Brasil, é um sistema de trabalho onde profissionais ou pequenas empresas de TI trabalham sob demanda, ou por “serviços”. É um sistema de terceirização, ou prestação de serviços em TI. (N. da T.)
(3) O autor usa um termo (starry-eyed) que significa deslumbrado, otimista em excesso. (N. da T.)
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Tecnologia da informação e mercado de trabalho. Entrevista especial com Nicholas Carr - Instituto Humanitas Unisinos - IHU