08 Janeiro 2018
“O povo crente do Chile sente-se abandonado por seus pastores e desiludido com os casos de abusos sexuais”. Esta é a opinião do padre Felipe Berríos, que, em uma entrevista concedida ao jornal espanhol El País, prevê que o tema da controvérsia em torno do bispo de Osorno, Juan Barros, “será central” na próxima visita do Papa Francisco.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 06-01-2018. A tradução é de André Langer.
O religioso, que vive em um acampamento em Antofagasta, reconheceu que a visita do Pontífice foi, “na minha opinião, um pouco enigmática em termos da sua organização”.
Ele também fez alusão às críticas pelo alto custo da viagem. “Os organizadores não foram muito habilidosos, que não socializaram mais a visita. Ela foi pouco explicada. Mas esse incômodo da população é entendido pelo aborrecimento para com a hierarquia”, estimou.
“Não penso que seja contra o papa, que pode trazer um ar de esperança para muitos”, acrescentou.
“Eu teria gostado que se tivesse feito consultas às comunidades base” durante a preparação da visita, argumentou.
Berríos disse que o papa chega a um Chile “muito mais democrático, com pessoas empoderadas” e com um “espírito libertário”.
“É uma sociedade muito mais crítica do que aquela que João Paulo II encontrou”, explicou.
Ele acrescentou que a esse cenário se soma o fato de que o país “tomou medidas firmes, especialmente com as reformas da presidente Michelle Bachelet”. “Por exemplo, pela primeira vez a educação foi considerada um direito”, disse ele.
De acordo com Berríos, no Chile, “a Igreja católica está muito longe do povo, é tremendamente questionada e conta com uma hierarquia que não chega os fiéis”.
Ele acrescentou que hoje o papa “deve ficar surpreso com uma Igreja chilena calada, refugiada”. “Não está na vanguarda das mudanças da sociedade chilena”, disse ele.
Sobre o caso do bispo de Osorno, que sofre a resistência dos fiéis daquela cidade devido às suas ligações com Fernando Karadima, o religioso jesuíta considerou que o Papa Francisco “deveria fazer um gesto”. “É uma questão que dividiu e atingiu a sociedade chilena. Ou não, porque seria doloroso vê-lo, por exemplo, abraçando Barros”, reconheceu.
O padre jesuíta também respondeu às declarações do padre Raúl Hasbún. O religioso disse em uma carta que um “Estado tirano” receberia o papa. Ele se referia à aprovação do aborto por três razões promovido pela administração atual.
“Hasbún está deslocado no tempo. Ele deveria ter dito isso na ditadura”, disse Berríos.
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“O povo crente do Chile sente-se abandonado por seus pastores” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU