15 Agosto 2017
Em meio a manifestações de grupos neonazistas e defensores da supremacia branca em Charlottesville, nos EUA, a cientista aposentada Donna Clerty, de 66 anos, disse sentir "desespero".
A reportagem é de Ricardo Senra e publicada por BBC Brasil, 14-08-2017.
"Quanto mais cedo essas pessoas saírem daqui, melhor. Elas são, até onde eu sei, cúmplices de um assassinato", disse a americana à BBC Brasil após a morte da ativista Heather Heyer, única vítima fatal da violência que tomou conta dos protestos.
A reportagem encontrou Clerty na linha de frente de um paredão formado por moradores de Charlottesville durante a tentativa de discurso de Jason Kessler, um dos líderes dos protestos supremacistas do último fim de semana. "Diga o nome dela, diga o nome dela!", gritava a aposentada, seguida em coro pela multidão, que abafava, de proposito, a primeira fala de Kessler a jornalistas desde os protestos, que resultaram em pelo menos 19 feridos e três mortes.
O nome que Clerty queria ouvir no último domingo era o de Heyer, a advogada de 32 anos que morreu atropelada por um dos nacionalistas presentes nas manifestações.
A fala do líder das manifestações acabou interrompida pelos moradores da cidade, e ele foi escoltado pela polícia.
Clerty então foi novamente para a linha de frente, dessa vez se dirigindo aos policiais e pedindo explicações sobre sua atuação na proteção dos moradores da pequena Charlottesville durante as manifestações, violentas desde o início.
Minutos depois, sentada num banco do centro histórico da cidade, contou à BBC Brasil que já viu episódios similares há décadas, quando a Ku Klux Klan desfilava pelas ruas pregando a inferioridade de negros e defendendo a escravidão.
Seu discurso mostra como moradores da cidade querem fugir do estigma deixado pelas palavras de ordem contra homossexuais, judeus, imigrantes e negros - e que estamparam jornais no mundo inteiro.
Charlottesville é uma das únicas cidades do Estado da Virgínia onde Donald Trump perdeu nas últimas eleições e é conhecida por tendências mais liberais e progressistas. "Eu tentei avisar o governo, mas não fui ouvida", disse Clerty a reportagem. "Agora esta geração pode dizer que teve sua primeira morte em decorrência desse tipo de extremismo."
"Nós fomos para a prefeitura e mostramos o que os nazistas estavam dizendo no site deles, os planos de violência. E eles nos ignoraram! Eles deixaram acontecer." Clerty, que foi às ruas protestar contra a manifestação "Unir a direita", ressaltou que a maior parte dos manifestantes veio de outras cidades.
"Eles são de fora de Charlottesville e querem ficar conhecidos. Alguns dizem que é bom para eles sair e protestar em público, mas acho que se você permite que algo assim amadureça, se você não confronta, se você deixa seu próximo ser vítima de abuso, parte da culpa por esse abuso é sua."
Nesta segunda-feira, 48 horas após o início das manifestações, o presidente Donald Trump afirmou que neonazistas, defensores da supremacia branca e membros do grupo Ku Klux Klan eram "repugnantes" e que os responsáveis pela "violência racista" seriam punidos.
Trump vinha sendo criticado por senadores republicanos e democratas porque, em sua primeira declaração sobre os conflitos, falou em "violência de ambos os lados" e não se referiu especificamente aos grupos de extrema-direita.
Clerty fez um desabafo: "Me desespera ver o que está acontecendo com meu país. Odeio, odeio o que está acontecendo".
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'Me desespera ver o que está acontecendo com meu país': o desabafo de idosa que confrontou neonazistas em Charlottesville - Instituto Humanitas Unisinos - IHU