A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 21,15-19, que corresponde à Solenidade de São Pedro e São Paulo, ciclo B do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo.» Jesus disse: «Cuide dos meus cordeiros.» Jesus perguntou de novo a Pedro: «Simão, filho de João, você me ama?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo.» Jesus disse: «Tome conta das minhas ovelhas.» Pela terceira vez Jesus perguntou a Pedro: «Simão, filho de João, você me ama?» Então Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Disse a Jesus: «Senhor, tu conheces tudo, e sabes que eu te amo.» Jesus disse: «Cuide das minhas ovelhas. Eu garanto a você: quando você era mais moço, você colocava o cinto e ia para onde queria. Quando você ficar mais velho, estenderá as suas mãos, e outro colocará o cinto em você e o levará para onde você não quer ir.» Jesus falou isso aludindo ao tipo de morte com que Pedro iria glorificar a Deus. E Jesus acrescentou: «Siga-me».
Este domingo é a festa dos Apóstolos Pedro e Paulo. A liturgia nos oferece o Evangelho de João capítulo 21, 15-19 para meditação. Quem são os apóstolos Pedro e Paulo? Nosso foco é a pessoa de Pedro. Os quatro evangelhos nos apresentam diferentes momentos da vida de Pedro e sua progressiva caminhada com Jesus. Conhecemos sua resposta rápida ao chamado de Jesus, suas perguntas inquietantes, seu desejo de dar tudo por Jesus e também os momentos em que ele não entendeu o caminho para a cruz, a morte de Jesus, seu "não fazer nada", seu "aparente" deixar-se matar quando ele, Pedro, queria sair com espadas e paus para defender seu Mestre. Em Pedro, vemos refletidos os diferentes estágios pelos quais aqueles que querem seguir Jesus podem passar. Vemos a rapidez de sua resposta ao seguimento, seu questionamento sobre o que não entende, sua sinceridade quando questiona Jesus sobre seu modo de agir, seu desejo de resolver possíveis problemas, movido, sem dúvida, pelo amor, mas obscurecido por critérios "muito humanos". Também conhecemos suas negações quando Jesus está sendo julgado, seu choro desconsolado quando seus olhos encontram o olhar condenado de Jesus e ele caminha em direção à cruz. O texto deste domingo nos oferece uma cena que é como um bálsamo para Pedro e também para aqueles que querem seguir Jesus e que se encontram com suas limitações, sua fragilidade, sua incompreensão diante do mistério de um Deus crucificado!
O Jesus ressuscitado encontra os discípulos à beira-mar, como em outras ocasiões. Jesus está próximo a eles, é um amigo e companheiro. Depois de uma pesca maravilhosa, que deixou os discípulos boquiabertos, e depois de comer o que havia preparado para seus amigos, Jesus se senta para conversar com Pedro.
«Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros?» Com essas palavras, ele inicia o diálogo com Pedro que o leva às profundezas de um amor novo e total que se baseia na confiança em Jesus. Após a tríplice pergunta e a subsequente confissão, que pode ser entendida como uma reparação pelas três negações ou também, a partir da cultura semita, como uma forma de ratificar seu compromisso, Pedro responde: Você sabe tudo, você sabe que eu te amo! Palavras tão simples e, no entanto, tão profundas que selam para sempre o alicerce que sustenta a amizade com Jesus, tanto pessoal quanto comunitariamente. A "confissão de amor de Pedro por Jesus é sustentada pela total confiança n'Aquele que «conhece tudo, e sabes que eu te amo», conhece a fragilidade e a fraqueza desse amor. A missão que Pedro recebe de apascentar suas ovelhas tem sua fonte nesse vínculo amoroso de total sinceridade. Jesus é o Mestre e o Pastor por excelência. A tarefa de Pedro, assim como a de qualquer pessoa que queira seguir Jesus, será cuidar de um rebanho que não lhe pertence, que é "de Jesus", mas que confia na fraqueza e na fragilidade de seus discípulos.
Esse texto é frequentemente lido como uma equiparação entre o convite para cuidar do rebanho e a tarefa pastoral dos bispos ou sacerdotes. O texto nos apresenta uma missão/tarefa que nasce de um vínculo de amor entre Jesus e Pedro, que se apresenta como fraco, frágil e pecador, mas com uma capacidade de amar Jesus que supera suas próprias falhas e coloca toda a sua confiança em Jesus Ressuscitado, em amizade com Ele.
O cuidado com o rebanho nasce dessa amizade em que o amor flui. Não é uma tarefa imposta por decreto ou por um determinado lugar na organização eclesial. Jesus delega sua tarefa por amor e é somente a partir daí que o discípulo aprenderá a ser o pastor de um rebanho que não lhe pertence, para o qual ele deve renunciar a seus próprios planos e deixar que Ele continue a ser o único Pastor.
Neste domingo nos deixamos interpelar pelas palavras do Papa Francisco: “Irmãos e irmãs, festejamos Pedro e Paulo. Eles responderam à pergunta fundamental da vida – quem é Jesus para mim? – vivendo o seguimento de Jesus e anunciando o Evangelho. É bom crescer como Igreja do seguimento, como Igreja humilde que nunca dá por terminada a busca do Senhor, tornando-se simultaneamente uma Igreja aberta, que encontra a sua alegria, não nas coisas do mundo, mas no anúncio do Evangelho ao mundo a fim de semear no coração das pessoas a inquietação de Deus. Com humildade e alegria, há de levar o Senhor Jesus a todo o lado: à nossa cidade de Roma, às nossas famílias, às relações e vizinhanças, à sociedade civil, à Igreja, à política, ao mundo inteiro, especialmente onde se verifica pobreza, degradação e marginalização. (Disponível: Papa Francisco pede aos novos arcebispos que "dialoguem com todos e se tornem um lugar de esperança".)
Somos convidados e convidadas a renovar nosso amor a Jesus fazendo nossa a atitude de Pedro que soube da sua debilidade e fragilidade, mas não ficou submetido no seu fracasso senão que olhou para o Senhor e o seguiu como um amor renovado!
A festa dos Apóstolos alegra todo o mundo
até os seus extremos com júbilo profundo.
Louvamos Pedro e Paulo, por Cristo consagrados
colunas das Igrejas no sangue derramado.
São duas oliveiras diante do Senhor,
brilhantes candelabros de esplêndido fulgor.
Do céu luzeiros claros, desatam todo laço
de culpa, abrindo aos santos de Deus o eterno Paço.
Ao Pai louvor e glória nos tempos sem fronteiras.
Império a vós, o Filho, beleza verdadeira.
Poder ao Santo Espírito, Amor e Sumo Bem.
Louvores à Trindade nos séculos. Amém.
Hino da Liturgia da Horas