06 Mai 2022
A leitura que a Igreja propõe para este domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João,10,27-30, que corresponde ao 4° domingo de Páscoa, ciclo C, de Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
É mais frequente do que pensamos. Nós, os crentes, dizemos acreditar em Deus, mas na prática vivemos como se não existisse. Este é também o risco que temos hoje ao abordar a atual crise religiosa e o futuro incerto da Igreja: viver estes momentos de forma «ateia».
Já não sabemos caminhar no «horizonte de Deus». Analisamos as nossas crises e planejamos o futuro pensando apenas nas nossas possibilidades. Esquecemo-nos que o mundo está nas mãos de Deus, não nas nossas. Ignoramos que o «Grande Pastor» que cuida e guia a vida de cada ser humano é Deus.
Vivemos como «órfãos» que perderam o seu Pai. A crise domina-nos. O que nos é pedido parece-nos excessivo. Temos dificuldade em perseverar com ânimo numa tarefa sem ver o êxito em lado algum. Sentimo-nos sós, e cada um defende-se como pode.
Segundo o relato do Evangelho, Jesus está em Jerusalém para comunicar sua mensagem. É inverno e, para não arrefecer, passeia por um dos pórticos do Templo, rodeado de judeus, que o assediam com as suas perguntas. Jesus vai falar das «ovelhas» que ouvem a sua voz e o seguem. A certa altura, diz: «O meu Pai, que mais deu, supera a todos e ninguém as pode arrebatar da mão do meu Pai».
Segundo Jesus, «Deus supera a todos». Que nós estejamos em crise não significa que Deus esteja em crise. Que nós, cristãos, percamos o ânimo não quer dizer que Deus tenha ficado sem força para salvar. Que não saibamos dialogar com o homem de hoje não significa que Deus já não encontre caminhos para falar com o coração de cada pessoa. Que as pessoas deixem as nossas Igrejas não quer dizer que se escapem a Deus das suas mãos protetoras.
Deus é Deus. Nenhuma crise religiosa e nenhuma mediocridade da Igreja poderão «arrebatar-lhe das mãos» esses filhos e filhas que ama com amor infinito. Deus não abandona ninguém. Tem os seus caminhos para cuidar e guiar cada um dos seus filhos, e os seus caminhos não são necessariamente o que nós lhe pretendemos traçar.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Deus não está em crise - Instituto Humanitas Unisinos - IHU