O reino de Deus nasce, cresce e se dilata

Reprodução da obra de Van Gogh

11 Junho 2021

 

Publicamos aqui o comentário do monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, sobre o Evangelho deste 11º Domingo do Tempo Comum, 13 de junho (Mc 4, 26-34). A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Eis o texto.

 

No Evangelho segundo Marcos, Jesus profere um longo discurso em parábolas, como ensinamento dirigido aos discípulos que ele chamou ao seu seguimento e às multidões que escutam a sua pregação do Reino que vem (cf. Mc 4,1-34). As parábolas são uma linguagem enigmática que se torna, porém, “mistério” (Mc 4,11) para quem segue Jesus e, de algum modo, entra na sua intimidade, até se encontrar em um espaço que pode ser definido pelo próprio Jesus como éso, “dentro”, contraposto àquele éxo, “fora” (cf. Mc 3,31-32, 4,11).

Ao mesmo tempo, as parábolas são ditas por ele de modo que os ouvintes mudem seu modo de pensar. De fato, elas sempre contêm uma mensagem de contracultura, corrigem aquilo que todos pensam ou são levados a pensar e, consequentemente, são anúncio de algo novo: uma novidade trazida por Jesus não no nível de ideias, mas como algo que muda o modo de viver, de sentir, de julgar e de agir.

Jesus era um homem que, acima de tudo, sabia ver: ele via, observava, contemplava tudo o que estava ao seu redor e todos aqueles que se aproximavam dele e que ele aproximava a si. Nele, a consciência e a adesão à realidade estavam sempre em exercício, para que ele pudesse pensar depois.

Além disso, poderíamos dizer que o seu pensar diante do Pai e da sua vontade era um rezar que lhe permitia imaginar histórias e situações, a serem comunicadas aos discípulos através da narração de muitas parábolas.

Na nossa perícope, depois de ter proferido a parábola do semeador, explicada em seguida apenas aos discípulos, como semeadura da Palavra de Deus (cf. Mc 4,1-20), e os dois breves ditados sobre a lâmpada “que vem” para ser vista e sobre a medida da escuta (cf. Mc 4,12-25), Jesus narra duas últimas parábolas, aquelas que nos são oferecidas pela liturgia de hoje, que querem atestar a eficácia da Palavra semeada.

A primeira, presente apenas em Marcos, afirma que “o Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”.

Jesus nos fala ainda da semente, um elemento que o intrigava e sobre o qual ele meditara muito. A semente é sempre algo que resta da colheita anterior, é o fruto de uma planta que, colhida, seca e parece morta. Mas, se a semente cai, se é lançada para debaixo da terra, então, na terra embebida de água, ela apodrece, desfaz-se visivelmente e desaparece; na realidade, porém, ela gera vida, que se torna um broto, depois uma planta e que, enfim, aparecerá até como uma multiplicação e uma transformação da própria semente, através de frutos abundantes.

A semente é apta para representar a dinâmica do enigma que se torna mistério, e é por isso que Jesus recorre várias vezes a essa imagem, a mais presente nas parábolas criadas por ele.

A vinda do reino de Deus, o seu aparecimento, portanto, é comparada ao processo agrícola que todo agricultor conhece bem ou, melhor, que todo agricultor vive com atenção e preocupação: semeadura, nascimento do grão, crescimento, formação da espiga e amadurecimento. Diante desse desenvolvimento, é preciso se maravilhar, olhando para a potência, para a força presente naquela pequena semente seca, que parece até morta.

Assim é o reino de Deus: pequena realidade, mas que tem dentro de si uma potência misteriosa, silenciosa, irresistível e eficaz, que se dilata sem que nós façamos nada. Diante dessa realidade, o agricultor não pode realmente fazer nada: só deve semear a semente na terra, mas, depois, quer ele durma, quer se levante à noite para controlar o que acontece, o crescimento não depende mais dele. Ao contrário, se o agricultor quisesse medir o crescimento e fosse verificar o que acontece com a semente debaixo da terra, ele ameaçaria fortemente o nascimento e a vida do broto.

Eis então o ensinamento de Jesus: é preciso se maravilhar com o Reino que se dilata cada vez mais, mesmo quando nós não nos damos conta disso, e consequentemente é preciso ter confiança na semente e na sua força. E a semente é a palavra que, semeada pelo pregador, dará fruto mesmo que ele não perceba nem possa verificar o processo: ele deve estar certo disso!

Nada de ansiedade pastoral, mas apenas solicitude e expectativa; nada de angústia de ser estéril ao pregar: se a semente é boa, se a palavra pregada é a palavra de Deus e não do pregador, ela dará fruto de modo até invisível. Essa é a certeza do “semeador” que crê e é consciente daquilo que faz: a esperança da messe e da colheita não pode ser posta em discussão.

Segue-se outra parábola, também sobre a semente, mas desta vez sobre uma semente de mostarda. Jesus é verdadeiramente um homem exercitado na atenção, no discernir, no pensar, e, como rabi sábio, expressa com poucas palavras a dinâmica do Reino, anunciado por ele através da semeadura e do crescimento do grão de si mesmo.

A semente de mostarda é uma das sementes mais minúsculas, não muito maior do que um grão de sal, mas ela também, quando semeada na terra, cresce e se torna o maior dos arbustos. Parece impossível que de uma semente tão minúscula possa derivar uma planta tão exuberante: aqui também, portanto, é preciso se surpreender, se maravilhar!

No entanto, justamente aquilo que é pequeno aos nossos olhos pode ter uma força impensável para nós, humanos... De fato, eis que a semente de mostarda debaixo da terra apodrece, germina, depois brota e cresce até se tornar um arbusto sobre cujos ramos os pássaros podem fazer o ninho.

Aqui, Jesus certamente alude àquela árvore vislumbrada por Daniel, símbolo do reino universal de Deus (cf. Dn 4,6-9.17-19). Sim, esta parábola também quer nos comunicar algo decisivo: a palavra de Deus que nos foi dada pode parecer uma coisa pequena, revestida como é de palavra humana, frágil e fraca, posta na boca de homens e mulheres pobres, não intelectuais, não sábios de acordo com o mundo (cf. 1Cor 1,26).

Porém, quando ela é semeada e pregada por eles, precisamente por ser palavra de Deus contida em palavras humanas, é fecunda e pode crescer como uma árvore capaz de acolher muitas criaturas. E não só a palavra de Deus, mas também o início do Reino, o início da comunidade do Senhor pode parecer uma realidade insignificante; mas, em seguida, crescerá, se tornará uma realidade inesperada, impensável para muitos, mas verdadeiramente significativa e capaz de acolher quem quiser encontrar alívio na sua sombra.

A revelação da eficácia da palavra de Deus é decisiva para nós, cristãos. De fato, essa Palavra é “potência de Deus” (Rm 1,16), é semente de vida imortal (cf. 1Pe 1,23) e tem em si uma potencialidade que nós não podemos prever. Exatamente como afirma o profeta Isaías em nome do Senhor: “A Palavra que sai de minha boca não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei” (Is 55,11).

Certamente, a eficácia da Palavra tem uma modalidade própria de agir em formas muito diferentes, imprevisíveis, que também podem contradizer o nosso modo de pensá-la e discerni-la. É uma eficácia não mundana, não mensurável em termos quantitativos, porque a palavra do Senhor é também “palavra da cruz” (1Cor 1,18). Quando semeada nos corações dos ouvintes, a palavra de Deus deve ser acolhida, interiorizada e guardada, deve ser discreta em relação às outras palavras e, portanto, ser realizada de modo que apareçam os seus frutos: frutos quase nunca percebidos e vistos pelo discípulo, porque “a Palavra vai crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”.

Essas parábolas nos interrogam, portanto, sobre a nossa consciência da palavra de Deus que nos é dada e que nós devemos semear, sobre a nossa visão do Reino como realidade de pequenos e de pobres, realidade de um “pequeno rebanho” (Lc 12,32), que pode se tornar uma reunião dos povos do mundo inteiro, a caminho rumo ao reino de Deus que vem para todos.

Mas reflitamos: quem proferia essas parábolas era um obscuro filho de Israel da Galileia, um “judeu marginal”, não um sacerdote nem um rabino formado em alguma escola reconhecida em Jerusalém ou ao longo do lago da Galileia. E, com ele, havia uma comunidade itinerante que o seguia: uma dezena de homens e poucas mulheres que não pertenciam à elite cultural ou religiosa judaica: uma realidade pequena e obscura, mas significativa.

Então, por que nós, cristãos, devemos ter medo de ser uma minoria hoje no mundo? Basta que sejamos significativos, isto é, que acreditemos na potência da palavra de Deus, que a semeemos com humildade e muita paz, sem angústia nem espera frenética para ver os resultados...

É preciso saber esperar, é preciso paciência e, sobretudo, fé na palavra de Deus: se a semente for boa, despontará e dará o seu fruto. O desígnio de Deus se cumpre sempre, muito além das nossas previsões e da nossa impaciência.

 

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